O Grande Pecado de Não Fazer Nada – Sermão C.H.Spurgeon
Posted: 26 Sep 2016 04:40 AM PDT
Sermão pregado em uma noite de Quinta-Feira, 5 de Agosto, 1886.
Pregado por C. H. Spurgeon,
No Tabernáculo Metropolitano, Newington.
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“Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o SENHOR; e sabei que o vosso pecado vos há de achar”.
Números 32:23
Existem muitos queridos amigos engajados em negócios que só conseguem chegar ao Tabernáculo a tempo para a metade do culto e, desta forma, perdem a leitura das Escrituras e a exposição às quais fazem um todo com o sermão. Isto é uma grande perda para eles, mas como não é sua culpa, nós não devemos fazer com que sofram por isso, enquanto podemos remediar o mal. Com esse conceito, deixem-me explicar-lhes que, de acordo com o capítulo que lemos e expomos, os israelitas tinham conquistado a região de propriedade de Ogue, rei de Basã, e Seom, rei dos amorreus. E as tribos de Ruben e Gade, tendo grande quantidade de gado, pensaram que uma região tão rica em pasto seria eminentemente adequada para eles e seus rebanhos. Eles não eram maus peritos, pois a região era especialmente compatível para rebanho de ovelhas.
Eles, portanto, pediram a Moisés que aquela região fosse dada a eles. Mas Moisés contestou. Será que se eles pensaram em ficar parados e aproveitar aquela região e, então, deixar que o resto das tribos atravessasse o Jordão e lutasse pelas suas posses? Se sim, ele declarou que isso era uma estrada muito má a ser tomada – que eles eram egoístas em buscar seu próprio conforto e que iriam desencorajar o povo de Deus e fazer todo tipo de dano. Ele, portanto, propôs a eles que se quisessem conquistar aquela região para si mesmos, deveriam ao menos atravessar o rio com seus irmãos e lutar e continuar lutando até que a terra do outro lado do Jordão fosse liberta de seus antigos habitantes e todo o Israel pudesse ter o território inteiro e cada tribo pudesse possuir sua porção.
Ele apresenta isso como uma questão de honra e uma questão de retidão, que eles fossem ajudar na conquista do resto da terra. Por que eles deveriam receber sua parte sem lutar e deixar as outras tribos sofrerem a labuta e perigo de guerra? Não havia Deus ordenado a todos eles a irem avante expulsar os condenados cananeus? Como eles poderiam fugir de seu dever sem cometer grande pecado? Ele teria que os fazerem ir todos para a guerra e com essa condição poderiam ter as ricas campinas de Basã, mas não de outra forma. Isto era claramente justo e equitativo e elogiável para aqueles envolvidos. Eles de uma vez aceitaram a proposta e Moisés, para ratificar o acordo, disse-lhes nas palavras do texto, que se eles não guardassem sua promessa e dessem tudo para ajudar seus irmãos, então eles teriam pecado contra Deus e deveriam ter certeza de que esse pecado iria achá-los.
Comentei, lendo o capítulo, que Moisés falou muito sabiamente, muito fortemente, muito honestamente e que o povo fora muito flexível. Eles renderam à sua persuasão e a dificuldade que ameaçara dividir a nação fora remediada prontamente. É bom ter um líder sábio. É bom para ele quando lidera pessoas sensatas! Ó, que eu seja capaz, essa noite de entregar uma palavra a seu tempo e que seus ouvidos estejam prontos para ouvi-la! Que o Senhor nos traga tão graciosamente uma meditação neste culto como Ele o fez do discurso de Seu servo Moisés! Que ao Seu Santo Espírito seja todo o louvor.
Iremos falar desta vez, primeiro, qual era este pecado? Segundo, qual seria o pecado principal daquele pecado? “Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o SENHOR”. Isso seria a atrocidade especial deste pecado, que seria nivelado ao próprio Deus. E, então, o terceiro ponto – qual seria a consequência de tal pecado? “Sabei que o vosso pecado vos há de achar”. Eles seriam culpados e não demoraria muito sem punição.
Primeiro então, O QUE ERA ESTE PECADO? O que envolvia este pecado no qual o Espírito de Deus disse através de Moisés “Sabei que o vosso pecado vos há de achar”. Um santo pregador uma vez pregou sobre o pecado de assassinato por esse texto; outro sobre roubo; ainda outro sobre falsidade. São bons sermões, contudo eles não têm nenhuma relação com esse texto se ele for lido como Moisés o pronunciara. Se você pegar o texto como está, não existe nenhuma conexão com assassinato, ou roubo, ou nada do tipo. Na verdade, não é sobre algo que os homens fazem, mas é sobre algo que os homens não fazem. A iniquidade de não fazer algo é um pecado não tão falado quanto deveria ser. O pecado da omissão é claramente objetivado nessa advertência – “Porém, se não fizerdes assim… sabei que o vosso pecado vos há de achar”.
O que, então, era este pecado? Lembre que é o pecado do povo do próprio Deus. Não é o pecado dos egípcios e filisteus, mas o pecado da nação escolhida por Deus e, desta forma, esse texto é para você que pertence a alguma das tribos de Israel – você para quem Deus deu uma porção aos Seus amados. É para você, cristão professo e membro da igreja, que o texto fala “sabei que o vosso pecado vos há de achar”. E qual é este pecado? É, infelizmente, comum entre os cristãos professos e deve ser tratado: é o pecado que dirige qualquer um a esquecer de sua parte na santa guerra que deve ser feita por Deus e por Sua Igreja. Um grande número de erros que podem ser emaranhados juntos nesse crime e devemos tentar separá-los e colocá-los em ordem diante de seus olhos.
Primeiro, era o pecado da ociosidade e do comodismo. “Nós temos gado: aqui está uma terra que possui muito pasto; deixe-nos tê-la para nosso gado e nós construiremos apriscos para nossas ovelhas com as abundantes pedras que jazem aqui, e nós iremos reconstruir essas cidades dos amorreus, e iremos habitá-las. Elas estão quase prontas para nós, e lá nossos pequenos devem habitar confortavelmente. Nós não nos importamos com batalhas: já vimos o bastante disto nas guerras contra Seom e Ogue. Ruben prefere permanecer nos currais. Gade tem mais deleite nos balidos das ovelhas e dobramentos dos cordeiros e seus seios do que ir adiante para batalhar”.
Oxalá, a tribo de Ruben não estivesse morta e a tribo de Gade não falecera! Muitos que são da família da fé estão igualmente indispostos para os esforços, igualmente apaixonados pela facilidade. Escute-os falar “Graças a Deus estamos a salvo! Nós passamos da morte para a vida. Fomos nomeados com o Nome de Cristo. Fomos lavados no Seu precioso sangue e, portanto, estamos seguros”. Então, com uma inconsistência estranha, permitem que maldade da carne almeje a facilidade carnal e clamam “Alma, você tem muitos bens armazenados por tantos anos! Conforte-se – coma beba e seja feliz!”. Comodismo espiritual é um mal monstruoso, mesmo assim o vemos por todo lugar. No domingo, esses preguiçosos são bem alimentados. Eles procuram por tantos sermões para alimentarem suas almas. Tal pensamento não ocorre a essas pessoas de que existe algo para ser feito além de ser alimentado.
Salvar almas é empurrado para segundo plano. As multidões estão perecendo nos seus portões! As multidões com seus pecados contaminam o ar! A época está se tornando pior e pior, e a humanidade – por um processo de evolução – está evoluindo no diabo! E ainda assim essas pessoas querem coisas agradáveis pregadas a elas! Eles comem a gordura, bebem o doce e lotam o banquete de coisas gordurosas, cheios de tutano e de vinhos puros e refinados – festivais espirituais são seu deleite! Sermões, conferências, leitura da Bíblia, e assim por diante, são procurados, mas cultos regulares e comuns são negligenciados. Nem o mínimo esforço eles fariam! Não se cingem com nenhuma armadura, não pegam nenhuma espada, não empunham nenhuma funda, não atiram nenhuma pedra. Não, eles têm sua posse, sabem que a tem, e eles sentam em uma segurança carnal, satisfeitos de não fazerem nada!
Eles não trabalham nem para viver nem por viver – são absolutos indolentes, tão preguiçosos quanto podem! Para nenhum lugar saem de casa exceto aonde podem ir e aproveitar e levar as coisas com facilidade. Eles amam suas camas, mas nos campos do Senhor eles não aram nem colhem. Este é o pecado indicado pelo texto – “Se vocês não forem adiante às batalhas do Senhor, e contender pelo Senhor Deus e por Seu povo, você peca contra o Senhor: e saiba que o seu pecado os achará”. O pecado de não fazer nada é o maior de todos os pecados, pois envolve a maioria dos outros! O pecado de ficar sentado enquanto seus irmãos vão para a guerra, quebra as duas tábuas da Lei e tem em si uma enorme idolatria do ego, a qual não permite nem amar Deus ou os homens. Horrível ociosidade! Deus nos salve disto!
Esse pecado pode ser visto de outro aspecto, como egoísmo e não fraternidade. Gade e Ruben pediram para ter sua herança de uma vez para ficarem confortáveis em Basã, deste lado do Jordão. E Judá, Levi, Simeão, Benjamin e o resto das tribos? Como alcançariam sua herança? Eles não se importavam, mas é evidente que Basã é adequado para eles com sua multidão de gado! Alguns deles respondem “Vê, eles têm que se esforçar, como o provérbio diz ‘Cada um por si e Deus por todos’”. Será que já não escutei isto antes: “Acaso sou eu tutor de meu irmão?” Eu conheço esse cavalheiro! Escutei sua voz anos atrás. Seu nome é Caim e tenho que dizer isso dele – é verdade que não é o tutor de seu irmão, mas ele é o assassino de seu irmão. Cada homem ou é o tutor de seu irmão, ou é o destruidor de seu irmão! Assassinato de almas pode ser realizado sem nenhum ato ou vontade – pode ser feito e é constantemente realizado por negligência! Mesmo perecendo os pagãos – não é o Senhor que pergunta “Quem matou todos estes?”. Os milhões desta cidade não evangelizados – quem é culpado de seu sangue? Não estão os cristãos ociosos matando de fome a multidão, quando se recusam a dar-lhes o Pão da Vida? Não é um pecado repugnante?
“Mas espere” diz outro “eles podem conquistar a terra por si só. Deus é com eles e Ele pode fazer Seu próprio trabalho e, portanto, eu não vejo que necessito me afligir por outras pessoas”. Isto é egoísmo e egoísmo nunca é melhor quando se veste de religião! O garoto na escola que egoisticamente se alimenta com seus luxos e não dá nada para seus jovens companheiros é geralmente ridicularizado. Ele é o garoto ganancioso que todos desprezam. Um homem com uma grande loja que, em tempos de fome, alimenta somente a si mesmo, mas nunca pensa nos pobres, é desprezado entre os homens! Mas o que devo dizer do homem que, em relação às coisas da alma – a respeito do Céu, Inferno, Cristo e eternidade – é tão egoísta que, sendo salvo, não dá a mínima para os outros? Ele é tão pouco fraternal que estou quase convencido de que ele não seja um irmão! Ele é tão desumano que pouco consigo pensar que alguma vez o toque da vida de Cristo o vivificou! Como ele é um cristão que não se assemelha a Cristo, mas alguém que só pensa “Bem, estou muito bem e se olho para mim mesmo, outras pessoas devem olhar para si mesmas. Deus vai cuidar de todas elas, sem dúvida! Não tenho nada com isso!”?
Agora, a não ser que nós nos livremos desse horrível egoísmo e sentamos que a própria essência da nossa religião jaz no amor e que um dos primeiros frutos disso é fazer-nos cuidar da salvação de nossos companheiros – a não ser que, digo, nos livremos disso e formos adiante lutar as batalhas do Senhor – então, esse texto muito solenemente nos ameaça. “Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o SENHOR; e sabei que o vosso pecado vos há de achar”. Ó, meus irmãos e irmãs, escutem esse texto e deixem-no operar com edificante influência para produzir em vocês um constante esforço pela salvação dos que estão ao seu redor!
Mas mesclado a isso existe ingratidão nesse pedido tão sombrio. Esses filhos de Gade e Ruben iriam se apropriar das terras pelas quais os israelitas tinham lutado. Deus os tinha liderado até a batalha e eles tinham conquistado Seom e Ogue. E, agora, esses homens queriam tomar posse daquilo pelo que os outros teriam batalhado, mas eles não queriam por si mesmos lutar. Isto é uma vil ingratidão e temo que seja muito comum entre nós nesta mesma época. Como viemos a ser cristãos afinal de contas? Na prática, é através desses santos missionários que ganharam nossos pais da cruel adoração a druidas e, mais tarde, da terrível dominação de Odin e Thor. Devemos igualmente traçar nossa luz do Evangelho para aquelas estacas em Smithfield, onde homens de Deus não consideravam suas vidas valiosas a si mesmas, mas desejando desistir de tudo o que tinham – e de suas vidas também – por uma dolorosa morte para que pudessem manter a Palavra de Deus viva em sua terra.
Alguns de vocês vieram a Cristo através dos diligentes labores de homens que pregaram pelas estradas, ou através dos amorosos apelos de tenras mães que choraram por você ao Salvador, ou através do fiel ministério de algum irmão do púlpito, ou por igualmente fiéis ensinamentos de um zeloso professor de escola bíblica dominical. Estamos em dívida com Deus tanto pelas épocas passadas quanto pelos labores presentes! Não existe nenhum homem entre nós que não é imensamente endividado com a Igreja de Deus. Apesar de Deus ser nosso Pai, e a Igreja nossa mãe é através de suas variadas ações que nascemos para Deus. Será que reconheceremos toda essa dívida e não iremos pagar por ela? Será que recebemos tudo e então não daremos nada em retorno? Seremos como velas queimando debaixo de alqueires? Desperdiçaremos nossas vidas por muito receber e pouco distribuir? Nunca será assim! Isso não é vida, mas morte!
Não denunciarei, pessoalmente, ninguém que faz isso, mas se a carapuça serviu para alguém, oremos para que ele a use! Se algum homem reconhecer sua obrigação com a Igreja de Deus e ainda assim não a está restituindo, que cubra seu rosto com grande vergonha! Você não transmitirá a Luz que recebeu? Verdadeiramente você merece perecer nas trevas! Você está alimentado e não irá repartir seu pão com o faminto, ou entregar um copo de água fria para o sedento? O que está fazendo, estranho ingrato? Você será simplesmente um reservatório estagnado, no qual correntes de misericórdia nunca saem de si, para que seja água corrente, mas permanece parada e podre no egoísmo? Lembre-se do Mar Morto e trema, para que não seja como ele – uma piscina amaldiçoada e amaldiçoando tudo em volta de si! Ó Deus, tenha misericórdia dessa grande massa desse povo que O professa para os quais isto deva ser solenemente aplicado – que eles, sim, recebam, mas que o devolvam para Ti e para a Sua causa algum pouco seja de tempo, substância, talento, oração ou alguma outra coisa!
O texto, quando interpretado espiritualmente, diz a respeito de nosso serviço pessoal na conquista do mundo por Cristo – “Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o SENHOR; e sabei que o vosso pecado vos há de achar”.
Mais uma vez, vejamos isso de outro ponto de vista. Isso é o pecado da falsidade. Essas pessoas se comprometeram que iriam adiante com as outras tribos e que eles não iriam retornar para suas próprias casas até que toda a campanha estivesse terminada. Agora, se eles não fossem para a guerra e não lutassem até o fim da mesma, então eles seriam culpados de uma mentira descarada! É uma coisa miserável para um homem, ser um quebrador de promessas. É um sacrilégio para qualquer homem mentir, não somente para homens, mas para Deus! Gostaria de falar muito ternamente, mas se um homem se converteu dos erros de seus caminhos, por essa mesma conversão ele é obrigado a servir ao Senhor. Se ele foi batizado como um crente, por aquele batismo ele declarou que estava morto para o mundo e sepultado com ele, que daquele dia em diante viveria em novidade de vida.
Logo, se ele vive unicamente para ganhar dinheiro e escondê-lo, e não faz nada para a Igreja de Deus e para pobres pecadores, não é o seu batismo uma mentira? Tal pessoa batizada foi sepultada, mas nunca esteve morta! Isto não é tornar o batismo uma farsa? Ele se deu a Igreja de Deus – se tornou um membro dela – e por este ato e façanha ele se comprometeu a fazer tudo o que pode para o seu crescimento e prosperidade. E se ele nada fizer, ele é um enganador. Se a sua entrada na Igreja significou alguma coisa, significaria que ele deve tomar parte no serviço a Deus. Um professante que nada faz é meramente um membro nominal e um membro nominal é um real obstáculo! Ele não contribui, nem ora, nem trabalha, nem agoniza pelas almas, nem tem parte nenhuma no serviço cristão – e mesmo assim, ele participa de todos os privilégios da Igreja! Isso é justo? Qual é a sua função? Ele senta e ouve e algumas vezes dorme durante o sermão. Isso é tudo. Não é a sua união com a Igreja praticamente uma mentira? Não responderei, mas farei a pergunta. Aparenta para mim que se eu pertencesse aos israelitas e eles fossem enviados por Deus para conquistar uma região – e eu não fosse adiante para a guerra com eles e tomasse minha parte no conflito – eu não seria um real israelita. Eu seria indigno da minha nação! Seria desleal ao estandarte! Seria falso aos meus companheiros de guerra. Eu penso assim – você também não pensa?
Ao entrar no ministério cristão, se eu não fizesse nada nele, deveria sentir que eu o desgracei. Se eu simplesmente tentasse aproveitar a religião sem nenhum esforço para propagá-la, deveria ser expulso do exército de pregadores. Se existe alguém na Igreja que tem certo talento e não o usa para Deus, ou dinheiro ao qual ele não dispõe para Cristo, ou tempo que ele não usa para propósitos santos, eles estão pecando e o seu pecado os achará. Seu talento enterrado, não irá enferrujar? E enferrujando, não irá criar dentro de seu espírito a mais terrível doença e ser um perigo para você? Não é assim que deve ser? Não estão eles culpados de uma mentira diante dos altos Céus, aqueles que se chamam de servos de Deus e ainda não O servem? Vocês frequentemente cantam –
“Está feito! A transação foi completa!
Eu sou do Senhor e Ele é meu.
Ele me atraiu e eu O segui,
Encantado a confessar a Divina Voz.
Altos Céus, que ouviram o voto solene,
Tal voto deve ser diariamente ouvido.
Até que na última hora da vida eu me curve,
“Abençoado na morte esse querido vínculo.”
É este hino verdadeiro? Vocês sentem esses versos, ou vocês zombam de Deus? Todos vocês já cantaram esse hino várias vezes e cantam “Dia Feliz! Dia Feliz” no refrão. Mas é esse seu cantar verdadeiro ou falso? Se algum homem ou mulher entre vocês o cantam, e depois de tal canção se afundam em si mesmos e não fazem nada para seu Senhor, que verdade existe em vocês? Deus nos salve de usar nossos lábios para zombar de Seu santo nome! Deve ser um pouco além de blasfêmia cantar tais palavras e ainda assim viver uma vida egoísta e indolente. Irá um homem insultar a Deus assim? Ó senhores, eu imploro a fazerem desse falar verdadeiro, ou então acabem com o mesmo – para que o registro deste falar não destrua suas almas!
Mais um pouco e eu terei terminado com essa matéria dolorosa. Qual seria seu pecado? De acordo com Moisés seria um grande prejuízo aos outros. Você nota como ele coloca isso para eles? “Porém, Moisés disse aos filhos de Gade e aos filhos de Ruben: Irão vossos irmãos à guerra, e ficareis vós aqui?”. Que exemplo a seguir! Se um homem cristão tem direito de nunca juntar-se a uma Igreja Cristã, então todos os outros cristãos estariam da mesma forma certos em fazer o mesmo – e então não existiria Igreja de Cristo visível! Vocês não conseguem ver, crentes não professos, que seu exemplo é destrutivo para toda a vida da Igreja? O que vocês estão fazendo? Se um cristão, com talento para pregar, tem o direito de não pregar, então, outros cristãos têm o direito de desperdiçar-se da mesma forma – e não existiria nenhum ministro restante!
Um ocioso é um grande desperdiçador e faz com que os outros se desperdicem também – seu exemplo, possivelmente, faça de todos, ao seu redor, indolentes como ele. Notei nas nossas igrejas que poucos são os homens e mulheres diligentes que guiam o caminho e outros são docemente atraídos a segui-los. Como são preciosos os poucos zelosos na comunidade cristã! Davi sabia o valor dos três melhores de seu bando. Mas se os espíritos guias são mortos, frios, indiferentes o que acontece? Letargia se espalha para o todo! Sinto em dizer que escuto exemplos nos quais ministros lamentam: “Eu labuto toda minha noite, mas estou convencido que nada será feito enquanto senhor Fulano esteja aqui”. Ele geralmente é um diácono sangue-frio, ou um dizimista orgulhoso. Quando chega para conhecê-lo, você sente: “Enquanto existir tão grande iceberg flutuando tão perto da praia, o jardim perto ao mar estará congelado – nada pode crescer”.
É uma pena que alguns de nós congelem outros. Deus nos salve disto! “Ó”, diz um, “ninguém me conhece e, portanto, não posso ter tanta influência nem para o bem nem para o mal”. Nem influência sobre sua própria cria – sua filha ou seu filho? Essa influência que você tem sobre um ou dois pequeninos pode se espalhar além do que você imagina. Nós não podemos calcular o alcance da influência moral – é imensurável! Suponho que não existe um único átomo em movimento que não influencia, em alguma medida, no universo inteiro. Um átomo colide com outro e com outro e, então, alcança a estrela mais remota. Quer façamos ou não, o que fazemos ou deixamos de fazer terá influência sobre todos que nos rodeiam – talvez para toda a eternidade.
Talvez a palavra que eu falo hoje à noite pode durar mesmo depois que o sol tenha queimado como um carvão e a lua tenha se tornado negra. Não tenho certeza, mas os nossos pensamentos no leito de nossa cama podem reverberar através das eras em seus incessantes resultados. “Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si” – para o bem ou para o mal nós somos unidos com o universo e não existem possibilidades de ruptura. Há muito maior influência no exemplo ocioso – possivelmente tal exemplo não seria cometido por certas pessoas se elas pensassem nas consequências disto. Para tal consideração de consequências eu convido a todos de quem tal grave falta tem impedido de fazer o bem. Ó árvore infértil, não se justifique só porque você não derrama veneno como a mamona. É crime suficiente você somente ocupar o solo!
Moisés continua e declara que se essas pessoas não fossem adiante para a guerra, eles desencorajariam todo o resto. “Por que, pois, desanimais o coração dos filhos de Israel, para que não passem à terra que o SENHOR lhes deu?”. E não é leve o pecado de desencorajar o zelo santo e a perseverança em outros. Que não sejamos nunca culpados de matar santos desejos nem mesmo em crianças! Quão frequentemente um ardente desejo no coração de um garoto é apagado por seu próprio pai que o corrigiu muito impulsivamente ou muito ardentemente! Quão frequente a conversa de um chamado amigo têm secado as nascentes de santos desejos na pessoa com a qual ele conversou! Não deixe que seja assim. Mesmo sem palavras frias, nossa fria negligência se torna congelante. Conheço um mercado onde o fechamento de uma ou duas lojas tem um efeito mortal sobre o comércio das outras lojas. De alguma forma, as janelas fechadas dão um tom sombrio ao local e os clientes são repelidos. A mesma coisa não acontece com grupos de trabalhadores quando um se torna ocioso? O irmão tedioso não mortifica o resto?
Nós não podemos negligenciar nossos jardins sem injuriar nossos vizinhos. Você vive em algum lugar perto de uma casa desalugada, que possui um jardim deixado a se perder? Toda espécie de sementes florescem sobre o seu jardim e, por mais que você continue tratando o solo, as ervas o desestimulam, pois existe um berçário para elas logo após o muro! Um mecânico chegando atrasado a um grupo de trabalhadores pode tornar toda a empresa fora de ordem pelo resto do dia. Um trem fora dos trilhos pode bloquear o completo sistema. Depende muito disso; se não estamos servindo o Senhor nosso Deus, estamos cometendo o pecado de desencorajar nossos companheiros. É mais provável que eles imitem nossa letargia do que nossa energia! Por que desejaríamos impedir outros de serem diligentes? Como ousamos roubar Deus dos serviços dos outros por nossa própria negligência? Ó Deus, nos livre deste pecado!
Se eu houvesse pregado um sermão sobre assassinato ou roubo, você teria escapado da chicotada, mas poucos de nós não receberam repreensão, agora que mantive o texto no local onde Deus o colocou – e o qual Ele desejou que fosse apresentado para nossa repreensão e exortação!
Em segundo lugar, cuidadosamente notemos QUAL ERA O PRINCIPAL PECADO NESTE PECADO? Claro que, se os filhos de Ruben não mantivessem o seu solene acordo de ir além do Jordão e ajudar seus irmãos, eles iriam pecar contra seus irmãos, mas esta não é a ofensa que vem primeiramente à mente de Moisés. Moisés omite as menores, porque sabe que estas serão compreendidas junto com a maior das ofensas – e fala “Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o SENHOR”. Nisso, ele antecipa a confissão de Davi, “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos”. Recusar a ajuda aos seus irmãos seria desobediência ao Senhor! Não foi Ele que mandou todo Israel expulsar os cananeus? De maneira semelhante, negligenciar o santo trabalho é, sim, um pecado contra o Senhor. É desobediência contra o Senhor não estar pregando Sua Verdade se nós somos capazes disso. Não falou o nosso Senhor “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”? Esse comando não foi restrito para aquela dúzia ou alguns, mas é para todo o Seu povo, desde que tenham a oportunidade e habilidade. Nós que ouvimos o Evangelho somos obrigados a proclamá-lo, pois está escrito “Aquele que ouve, diga: Vem!”. O ouvinte do Evangelho é obrigado a ser um proclamador para o Evangelho! Nós somos chamados para, desde que conheçamos o Senhor, a falar para os outros o que o Senhor nos disse – e se não o fizermos – nós somos culpados de desobediência contra uma grandiosa ordem evangelística.
Nós somos certamente culpados, caro amigo, de ingratidão, se, como eu já disse, ao devermos tanto a outros homens, ainda não buscamos abençoar a humanidade. Mas principalmente devemos tudo a Graça de Deus e, se Deus nos deu Graça nos nossos corações e nos salvou com o precioso sangue do Unigênito, como podemos nós sentar parados e permitir que os outros pereçam? Assim como nós valorizamos salvação, estamos obrigados a fazê-la conhecida. Nós nos alegramos de estar no Reino de Deus – não deveríamos nós gastar e ser gastados pelo crescimento desse Reino? Aquele que não portar armas nesta guerra é um traidor do seu Soberano Senhor.
Seria um pecado contra Deus a conduta dessas pessoas se eles não ajudassem na conquista de Canaã, pois eles estariam dividindo o Israel de Deus. Deve o povo eleito ser rasgado em dois? Deus quer que todos eles fiquem juntos. Todos eles saíram do Egito juntos; todos marcharam através do deserto juntos e agora Ele quer que eles lutem Suas batalhas juntos. Haveria esses de tomarem sua herança e viver entre currais de ovelhas e deixar as outras dez tribos e meia irem além do Jordão e enfrentar a guerra sozinha? Isso seria uma separação na família de Deus! Será que alguns de nós estamos dividindo a Igreja de Deus, ou seja, entre zangões e operários? Esta seria uma terrível divisão, mas temo que a mesma já exista. É aparente para aqueles que são capazes de observar e é lamentado por aqueles que são desejosos pelo Deus de Israel. Metade das separações em igrejas nasce da real divisão que existe entre ociosos e trabalhadores. Pensem nisso. Não sejam semeadores de divisão por serem indivíduos que não trabalham de jeito nenhum!
Se você não está servindo ao Senhor, você está pecando contra a sagrada Trindade. Você peca contra seu Pai que o chamou para fazer o bem e ser imitador Dele como queridos filhos. Você peca contra o Filho de Deus que o comprou por alto preço para que você fosse zeloso por Sua Glória. Você peca contra o Espírito Santo de quem os impulsos não são o dormir e a ociosidade, mas ser vivificadores e santos. Que nós não pequemos mais contra o Senhor ao recusar fazer Sua vontade!
Agora chegamos ao último ponto e esse ponto é o mais sério – QUAL É O RESULTADO DESSE PECADO DE NÃO FAZER NADA? O que virá dele? “E sabei que o vosso pecado vos há de achar.” Agora, que nosso tempo já quase finda, irei não mais que mostrar que esses filhos de Gade e Ruben seriam certamente achados pela sua própria negligência. Seu pecado iria encontrá-los para a sua vergonha e tristeza se eles não emprestassem toda a sua força para seus irmãos de acordo com sua promessa.
Iria encontrá-los dessa maneira – eles seriam doentes na facilidade. Um desses dias o seu pecado iria saltar em cima de suas consciências como um leão em sua presa. Eles iriam acordar e dizer “Estávamos errados. Nós éramos obrigados a tomar nossa parte naquela guerra” – e todo homem entre eles que estaria bom para qualquer atividade, estaria atormentado no seu coração, pois havia falhado com o seu dever na hora da necessidade. Iria se sentir inquieto. Não iria querer que ninguém o culpasse, mas ele iria se culpar e dizer a si mesmo “Eu falhei nesta questão. Sei que falhei. Agi muito incorretamente. Eu deveria ter ido com Josué atrás daqueles cananeus. Eu recebi minha porção de terra e devia, portanto, ter ajudado os outros a ganharem suas próprias porções”.
Quando a consciência fosse assim despertada, eles também sentiriam como se fossem perversos e desprezíveis. Assim que rei depois de rei fosse conquistado e aquelas canções de vitória fossem ouvidas por toda Canaã, eles iriam pensar de si mesmos como ratos e não homens por terem fugido de tão glorioso conflito. Sentir-se-iam desgraçados por sua própria inatividade. Sua masculinidade seria de pouca valia para as outras tribos – de fato, eles se tornariam piada e provérbio – assim como homens que são notadamente gananciosos e egoístas. Certamente é uma intolerável desgraça para qualquer um que professa ser um homem de Deus e não cuida de nenhuma das almas dos outros, enquanto elas estão perecendo aos milhões!
Mais que isso, as tribos que não foram à guerra seriam debilitadas por sua própria inação. Deus iria ensinar Seu povo a guerrear, mas se esses homens não fossem para a batalha, não seriam valentes e não seriam capazes de cuidar de si mesmos na terra que haviam invadido. Quanta educação sagrada nós perdemos quando damos as costas para o serviço de Deus! Creio que nenhum homem entende salvação tão bem como o homem que, tendo a provado por si mesmo, tem pregado para os outros sobre ela. Se você quer conhecer a maldade do coração humano, tente fazer o bem para o não convertido e se esforce para guiar o descrente para Jesus.
Tome uma dúzia de meninas ao redor de você, minha irmã, e olhe os labores de seus corações enquanto tenta guiá-las a Cristo – e você aprenderá muito mais do que sabia antes! Meu caro irmão, junte um número de jovens a você e observe seus sentimentos e suas condutas enquanto você busca a conversão deles. Você irá rapidamente conhecer a depravação da natureza humana se você cuidar de almas por um pequeno período de tempo – e se você converter almas e agir como um pai espiritual para eles – você logo verá o quanto eles precisam do Espírito Santo para mantê-los e o quanto você precisa Dele para manter-se também, pois sua paciência será atribulada! Você irá aprender ambos os doces e amargos das coisas de Deus por ser engajado no serviço de Cristo.
Jesus diz “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim” – servir é um jugo que devemos suportar para aprendermos de Cristo. O único caminho para aprender a nadar e entrando na água. Ser um soldado e nunca sentir o cheiro de pólvora é impossível! Ou então tais soldados são pouco confiáveis em caso de guerra! Não, não nosso pecado, se não fizermos nada, irá nos encontrar na nossa fraqueza, na nossa desgraça, no nosso sentimento de que somos maus e na acusação de nossa consciência. Que nós encontremos esse pecado e nos sacudamos livres dele antes que ele nos ache!
Seu pecado também teria os encontrado, tendo eles caído nele, pois eles seriam divididos do resto do Israel de Deus. Se eles não tivessem cruzado o Jordão para lutar, as dez tribos e meia sempre diriam “O que temos com vocês? O Jordão corre entre nós e que assim seja. Nós não queremos nenhuma conexão com aqueles que agiram tão vilmente conosco na nossa hora de necessidade”. Eles iriam praticamente cortar-se da união com a Israel de Deus e teriam garantido para si mesmos a perda da companhia de homens zelosos. Aqueles que não são trabalhadores perdem muito por não manter a paz com aqueles que estão correndo a corrida celestial. Os ativos são felizes – a mão dos diligentes faz riqueza em um sentido espiritual. Existe aquele que retém mais do que é justo e isso tende à pobreza – e estou certo de que isso também é em um sentido espiritual.
Para chegar mais praticamente ao ponto, amados irmãos e irmãs, se você e eu não estamos servindo o Senhor, nosso pecado nos achará. Ele nos encontrará talvez da seguinte forma. Haverá muitos adicionados à Igreja e Deus a fará prosperar, e nós veremos isto, mas nós não sentiremos alegria nisso. Nós não teremos nenhuma parte no trabalho e não nos sentiremos confortáveis com o resultado. Não conseguiremos mostrar o caminho de saída para a consciência perturbada. Nunca fomos de manhã cedo para reuniões de oração, ou a nenhuma reunião de oração orar por uma benção. Nunca falamos uma palavra ou nem demos algum folheto, e, dessa forma, nós veremos a benção com nossos próprios olhos, mas não iremos desfrutá-la. E quando o povo de Deus levantar altos aleluias de alegria, nós iremos somente prantear “definho, definho, ai de mim!”. Não é alegre ver uma colheita tirada dos campos, os quais nós nos recusamos a arar.
Pode ser que você comece a perder toda a doçura dos cultos públicos. Por não fazer nada você perde seu apetite. Muitas vezes uma pessoa que não possui apetite precisa que um sábio médico lhe diga “Claro que você não pode comer, pois você não trabalha. Se exercite e seu apetite voltará”. Aqueles que trabalham por seu café, o apreciam. E aquele que trabalha para Cristo percebe que os cultos do santuário são tremendamente doces. Conheço alguns caros irmãos que não conseguem chegar para o sermão de domingo, pois tiveram algo para fazer ao seu Senhor ao longo do dia do Senhor – portanto, eles vêm nesses cultos noturnos de quinta-feira. Assim ganham um período sabático no meio da semana, o qual é excessivamente doce para eles. Eles só conseguem comparecer a um culto no domingo, mas isso é duplamente revigorante para si mesmos. Eles estão engajados no ensino de crianças carentes, ou dedicados à esquina na qual estão acostumados a pregar – e o Senhor recompensa suas oportunidades perdidas. Acredite, quando eles recebem alimento da Palavra, o apreciam de coração, pois eles vêm com um apetite que juntaram no trabalho ao seu Senhor!
Tenho percebido que esse pecado encontra as pessoas dentro de suas famílias. Há um cristão – nós o honramos e o amamos – mas ele tem um filho que é alcoólatra. Será que seu bom pai protestou alguma vez contra bebida forte em toda vida de seu filho? Não. Ele, é claro, não gosta de bebidas de alto teor alcoólico. Não entrarei no quesito de total abstinência, mas eu não me surpreendo de ver um garoto beber muito quando vê seu bom pai beber regularmente um pouco. Todo homem deveria viver oferecendo ensinamentos e exemplos para pôr abaixo a intemperança e aquele que não faz assim pode ter certeza que seu pecado o achará!
Aqui tem outro. Seus filhos cresceram imprudentes, impulsivos e sem cuidado. Ele os trouxe a esse lugar de adoração e agora se pergunta “Por que eles não são convertidos?”. Será que ele alguma vez os pegou, um por um, e orou com eles? Será que ele já falou zelosamente com cada menino e cada menina – e trabalhou para a conversão de cada um? Temo que em muitos casos nada do tipo tenha sido feito! Certos indivíduos enganados quase pensam que é errado buscar a conversão de seus filhos enquanto são crianças – e seu pecado irá achá-los quando eles os olhar crescendo em impiedade.
Além disso, se não cuidarmos das crianças de Deus, pode ser que Ele não cuide das nossas. “Não,” diz Deus, “existem crianças de outros nas ruas e você não tem preocupação por elas – por que suas crianças devem estar melhores do que aquelas? Você nunca abriu uma escola para as crianças carentes, por que deveria eu abençoar você? Existem homens no seu negócio por quem você ganha à vida, mas você nunca lhes falou sobre suas almas, nem se importou caso eles fossem salvos ou condenados. E eu não irei cuidar de sua família quando você nem se importa com a Minha”. “Sabei que o vosso pecado vos há de achar”.
Não sei como essa advertência pode soar para algum irmão ou irmã aqui que tenham sido ociosos, mas é melhor que minha advertência os ache do que o seu pecado os encontre! Não sei se existe algum ocioso aqui, no entanto, tenho uma sólida suposição que existam sim. Amigos, o negligenciar do trabalho do Senhor irá até suas casas e lhes dirá quando virá até vocês, se já não tiver ido. Quando você está doente e enfermo, sua fé em Cristo o trará enorme conforto, mas você terá que falar com grande pesar “Ó, se tivesse servido o Senhor quando eu era jovem!”.
Um amigo me disse há não muito tempo, “Meu querido senhor, você frequentemente está de cama enfermo e, sem dúvida, a razão é a forma imprudente que trabalhou na juventude. Você pregava dez vezes por semana durante quase o ano todo, ano após ano, e claro que se desgastou”. “Ó, sim,” eu disse “deve ser exatamente por isso, mas eu não me arrependo minimamente! Graças a Deus, eu preguei com toda minha força por toda terra em que pude pisar. E eu o faria, novamente, se pudesse somente renovar minhas forças!”. Se hoje não posso trabalhar tanto quanto nos dias da minha juventude, é porque não tenho a miséria de falar “Eu perdi minhas oportunidades e passei meus melhores dias em facilidades”. Mas eu digo a mim mesmo “Deus permitisse eu poder fazer mais, ou ter feito melhor, mas eu sou grato por poder ser capaz de me exonerar de todas as acusações da preguiça”. Se aqueles de nós que fazem muito têm que se chicotear um pouco, o que deveriam fazer aqueles que não fazem praticamente nada e ainda desencorajam os outros? O que podem os ociosos temer a não ser que o seu pecado os ache?
Assim, muito tenho falado ao povo de Deus e se você pensa que fui áspero demais com eles, o que devo falar a você que não ama o Senhor de maneira nenhuma? Ó senhores, se o sopro que está nas mãos de Cristo purifica Seu próprio solo desse modo severo, o que esse sopro fará com você que é leve como o trigo? Se Ele senta aqui como um Refinador e purifica os filhos de Levi, e coloca até o ouro no fogo, o que acontecerá com os impuros? “E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador?”. Se a linguagem de Deus é afiada, até mesmo, com Seus próprios amados, pois Ele diz “Eu repreendo e disciplino os quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.”, o que Ele falará para aqueles que não são Seus filhos, mas estão vivendo em uma aberta rebelião contra Ele?
Estremeça você que se esquece de Deus! Escute Suas próprias Palavras – elas não são minhas – “Considerai, pois, nisto, vós que vos esqueceis de Deus, para que não vos despedace sem haver quem vos livre”. Deus o ajude a fugir do pecado de não fazer nada! Que o próprio Senhor Jesus Cristo o guie para o serviço ao Senhor! Amém.
ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.
FONTE:
Traduzido de http://www.spurgeongems.org/vols31-33/chs1916.pdf
Tradução: Augusto Magalhães
Revisão: Cibele Cardozo
Prova: Armando Marcos
Capa: Armando Marcos via Canvas.com
Publicação
Projeto Castelo Forte
1° Edição: fim de setembro de 2016
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Projeto Spurgeon – Proclamando a CRISTO crucificado.
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Oração, um Remédio para a Ansiedade (sermão – Spurgeon)
Posted: 26 Sep 2015 06:29 PM PDT
Sermão pregado na noite de quinta, 12 de janeiro de 1888,
Por Charles Haddon Spurgeon
No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres,
e também lido no domingo, 11 de Março de 1894.
“Não andeis ansiosos por coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” Filipenses 4.6,7.
Nós temos a faculdade da previsão; porém, como todas as nossas faculdades, ela foi pervertida e com frequência tem sido objeto de abuso. É bom que um homem tenha uma santa preocupação e preste a devida atenção a cada detalhe de sua vida; porém: Ah! É muito fácil convertê-la em uma preocupação profana e tratar de arrebatar da mão de Deus este ofício da providência que Lhe pertence e não a nós. Quão frequentemente Lutero gostava de falar sobre os pássaros e da maneira como Deus cuidava deles! Quando estava cheio de preocupações, costumava invejá-los constantemente porque levavam uma vida tão livre e feliz. Lutero fala do ‘doutor Gorrión’ e do ‘doutor Zorzal’, e de outros pássaros que costumavam se aproximar e falar com o ‘doutor Lutero’, dizendo-lhe muitas coisas boas.
Vocês sabem, irmãos, que para as aves do céu, parece-lhes melhor serem cuidadas por Deus do que serem pássaros cuidados pelo homem. Uma pequena menina londrina que foi ao campo disse em uma ocasião: “Mamãe, veja esse pobre passarinho; não tem nenhuma gaiola”. Isso não me parece uma perda para o pássaro; e se vocês e eu estivéssemos sem nossa gaiola, sem a caixinha de sementes e sem um recipiente com água, não nos seria uma grande perda se fôssemos lançados ao acaso à gloriosa liberdade de uma vida de humilde dependência de Deus.
Essa gaiola de confiança carnal e essa caixa de sementes, que sempre estamos nos esforçando em encher, constituem a preocupação desta vida mortal; mas, aquele que tem graça para estender suas asas e planar para longe até chegar ao céu da confiança divina, pode cantar todo os dias e ter esta canção como lhe sendo própria:
“Mortal, cessa de afanar-te e de afligir-te;
Deus provê para o amanhã.”
Então, aqui está o ensinamento do texto: “Por nada andeis cheios de cuidado”. A palavra “cheios de cuidado” não significa exatamente agora o mesmo que significava quando a Bíblia foi traduzida[1]; ao menos, transmite-me um significado diferente do que transmitia aos tradutores. Eu diria que devemos ‘ter cuidado’. “Tenham cuidado” é uma boa lição para os meninos e jovens quando começam a vida; porém, no sentido em que a palavra “cuidado” era entendida no tempo dos tradutores, significava que não devemos ter ‘preocupação’, isto é, que não devemos estar ‘cheios de preocupações’. O texto quer dizer: não estejam ‘ansiosos’; não estejam pensando constantemente acerca das necessidades desta vida mortal. Vou lê-lo outra vez, esticando um pouco a palavra, e então vocês entenderão seu significado: “Não andem cheios de preocupações por nada”. Oh, que Deus nos ensine a evitar o mal que é proibido aqui, e a viver com essa santa despreocupação que é a mesmíssima beleza da vida cristã, quando toda nossa ansiedade é lançada sobre Deus, e assim podemos gozar e regozijarmos em Seu providencial cuidado para conosco!
“Ah!” – diz alguém – “não posso deixar de me preocupar”. Bem, o tema desta noite é para ajudá-lo a abandonar a preocupação; e, primeiramente, considerem aqui o que substitui a ansiedade. Por nada andem ansiosos, vocês devem orar por tudo; este é o substituto da preocupação: “oração e súplica”. Em segundo lugar, notem o caráter especial desta oração, que há de converter-se no substituto da ansiedade: “sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças”. E logo espero que nos sobrem uns minutos para considerar o doce efeito desta oração: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”.
Para começar, então, aqui está, primeiramente, o SUBSTITUTO DA ANSIEDADE.
Eu suponho que para muitos de nós é certo que nossas preocupações são múltiplas. Uma vez que fique preocupado, ansioso e inquieto, você nunca será capaz de contar seus anseios, ainda que possa contar os cabelos da sua cabeça. As preocupações são propensas a se multiplicarem para os que estão cheios delas; e quando você está tão cheio de ansiedades que pensa que chegou ao limite, com certeza receberá outra colheita de ansiedades que têm crescido a seu redor. A tendência a se deixar dominar por este hábito maligno da ansiedade o leva a permitir que ela estabeleça seu domínio sobre a vida, até o ponto de não valer a pena viver a vida em razão da ansiedade que temos com ela. Os afãs são múltiplos; portanto, as suas orações devem ser múltiplas. Convertam em uma oração tudo o que seja uma preocupação. As ansiedades devem ser a matéria-prima de suas orações; e, assim como os alquimistas esperavam converter a escória em ouro, assim vocês, por uma santa alquimia, de fato convertem em um tesouro espiritual o que naturalmente teria sido uma preocupação, por meio de uma oração. Batizem cada ansiedade no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e assim, convertam-na em uma bênção.
Você tem ansiedade em possuir? Tome cuidado para que a ansiedade não o possua. Quer obter lucro? Preocupe-se em não perder mais do que ganha com seus lucros. Suplico-lhe encarecidamente que não tenha ansiedade em ganhar mais do que você se atreve a converter em uma oração. Não deseje ter aquilo que você não se atreveu a pedir para que Deus lhe dê. Meça seus desejos de acordo com uma norma espiritual, e assim você será guardado de tudo o que se assemelhe à cobiça. Muitas pessoas ficam preocupadas por causa de suas perdas; perdem o que ganharam. Bem, este é um mundo no qual existe a tendência a perder. As secas seguem às enchentes, e os invernos esmagam as flores do verão. Não se surpreendam se vocês perdem como o fazem outras pessoas; antes, orem sobre suas perdas. Vá para Deus com elas e, em vez de se inquietar, convertam-nas em uma oportunidade de esperar no Senhor, e de dizer: “Jeová deu e Jeová tirou; bendito seja o nome de Jeová. Faz-me entender por que contendes comigo, e livra Teu servo de se queixar alguma vez de Ti, sem me importar com o que Tu permites que eu perca!”
Talvez você diga que sua ansiedade não é nem por causa de seus ganhos nem suas perdas, mas apenas por causa do seu pão diário. Ah, bem, você tem promessas para isso, e você sabe! O Senhor disse: “habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado”. Ele lhe dá um doce incentivo quando diz que Ele veste a erva do campo, e: não o vestirá muito mais, homem de pouca fé? E o Senhor Jesus manda que você considere as aves do céu, que nem semeiam nem armazenam em celeiros e, contudo, seu Pai celestial as alimenta. Achegue-se ao seu Deus, então, com todos os seus anseios. Se você tem uma grande família e uma raquítica renda e enfrenta muitos problemas para subsistir e para prover coisas honestas aos olhos de todos os homens, você tem muitas escusas para bater à porta de Deus, e muitíssimas razões para ser achado com frequência no trono da graça. Eu lhes peço que convertam as preocupações em algo de muito proveito. Eu me sinto à vontade para apelar a um amigo quando realmente tenho que resolver algo com ele; e vocês podem ser ousados para apelar a Deus quando as necessidades lhes oprimirem. Em vez de se preocupar por qualquer coisa com um inquieto afã, convertam-na de imediato em um motivo de uma renovada entrega à oração.
“Ah!” – dirá alguém – “mas eu estou perplexo; eu não sei o que fazer”. Bem, então, querido amigo, você deveria certamente orar quando não pode saber se deve tomar o caminho da mão direita, ou da mão esquerda, ou se deve continuar em linha reta, ou se você deveria regressar. Em verdade, quando você está em meio de um nevoeiro tal que não consegue ver a seguinte lâmpada, então é tempo de orar. O caminho será esclarecido diante de você muito repentinamente. Com frequência eu mesmo tenho tido que provar esse plano; e dou testemunho de que, quando tenho confiado em mim mesmo, tenho sido um gigantesco insensato, mas quando tenho confiado em Deus, então, Ele tem me conduzido e me mantido na via correta, e não tem existido nenhum erro a respeito.
Eu creio que os filhos de Deus cometem frequentemente os maiores absurdos com relação a coisas simples do que com relação a assuntos difíceis. Vocês sabem o que aconteceu com Israel quando chegaram aqueles gibeonitas com seus sapatos velhos e remendados, e mostraram o pão que estava mofado, que, segundo disseram, os haviam tirado quentes de seus fornos. Os filhos de Israel pensaram: “Este é um caso claro; estes homens são forasteiros e vieram de um país distante; podemos fazer aliança com eles”. Estavam certos de que a evidência de seus olhos confirmava que eles não eram cananeus; assim não consultaram a Deus; toda a situação parecia tão clara que fizeram uma aliança com os gibeonitas, a qual foi um problema para eles posteriormente. Se fôssemos a Deus em oração para tudo, nossas complexidades não nos conduziriam a mais erros do que nossas simplicidades; em casos simples, assim como em casos difíceis, devemos ser guiados sempre pelo Altíssimo”.
Talvez outro amigo diga: “Mas eu estou pensando no futuro”. Você está? Bem, primeiro, permito-me perguntar-lhe o que você tem a ver com o futuro. Você sabe o que um dia trará? Anda pensando sobre o que será de você quando for velho; porém, você está certo de que chegará a ser velho? Eu conheci uma mulher cristã que costumava se preocupar com a maneira como seria enterrada. Essa pergunta nunca me incomodou; e há muitos outros assuntos acerca dos quais não devemos nos preocupar. Pode-se encontrar sempre um pau para golpear um cachorro; e se precisam de uma ansiedade, vocês podem geralmente encontrar uma para com ela golpear suas próprias almas; mas essa é uma pobre ocupação para qualquer um de vocês. Em vez de fazerem isso, convertam cada coisa que possa ser um motivo de ansiedade em um motivo de oração. Não passará muito tempo até que tenham um motivo de ansiedade, assim não passará muito tempo sem que tenham um tema de oração. Eliminem esta palavra: “ansiedade”, e escrevam simplesmente em seu lugar esta palavra: “oração”; e então, embora suas preocupações sejam múltiplas, suas orações também serão múltiplas.
Notem, a seguir, queridos amigos, que uma preocupação indevida é uma intrusão na esfera de Deus. É fazer de si mesmo o pai da casa, no lugar de ser um filho; é fazer de si mesmo o senhor, em vez de ser um servo para quem o senhor provê suas rações. Agora, se em vez de fazer isso, você converter a preocupação em oração, não haverá intrusão, pois você pode vir a Deus em oração sem ser acusado de presunção. Ele o convida a orar; mais ainda, aqui, por meio de Seu servo, ordena-lhe que “sejam conhecidas vossas petições diante de Deus em toda oração e súplica, com ação de graças”.
Além disso, as preocupações não nos servem de nada, e nos causam um grande dano. Se você fosse se preocupar tanto quanto desejasse, não poderia crescer uma polegada a mais, nem fazer crescer outro cabelo em sua cabeça, nem mudar a cor de um cabelo para branco ou para preto. Isso nos disse o Salvador; e Ele pergunta: se a preocupação falha em coisas tão pequenas, o que ela poderia fazer nos mais elevados assuntos da providência? Não pode fazer nada.
Um agricultor visitou seus campos e disse: “Não sei o que acontecerá conosco. Se esta chuva continuar, o trigo será destruído; não teremos nenhuma colheita, a menos que tenhamos um bom clima”. Caminhava para cima e para baixo, apertando suas mãos, se preocupando, e incomodando a todos os membros da família; mas não produziu nem um só raio de luz do sol, apesar de toda sua preocupação; com toda sua linguagem petulante, não pode dispersar nenhuma nuvem nem pode deter nem uma só gota de chuva, não obstante todas as suas murmurações.
Então, de que adianta seguir correndo seu próprio coração, se não podem obter nada com isso? Aliás, isso debilita nosso poder de nos ajudar e, especialmente, nosso poder de glorificar a Deus. Um coração cheio de ansiedades nos impede de julgar retamente em muitos assuntos. Frequentemente tenho usado o exemplo (não conheço outro melhor) de tomar um telescópio, soprar sobre ele o cálido alento de nossa ansiedade, aproximar os olhos, e logo dizer que não se pode ver nada a não ser nuvens. É evidente que não podemos, e nunca o faremos enquanto exalarmos nossa respiração sobre ele. Se fôssemos imperturbáveis, tranquilos, serenos e dominados por Deus, faríamos o correto. Deveríamos ter, como dizemos, “presença de espírito” no tempo de dificuldade. O homem que tem a presença de Deus pode esperar ter presença de espírito. Se esquecemos de orar, surpreendem-se de que estejamos todos inquietos, preocupados, e que façamos a primeira coisa que nos ocorre à mente, que é geralmente a pior, em vez de esperar até ver o que se deve fazer, e logo fazê-lo confiantemente e com fé, como aos olhos de Deus? A ansiedade é prejudicial; porém, basta que convertam essa angústia em oração, e então toda a ansiedade se tornará em um benefício para vocês.
A oração é um material maravilhoso para construir a estrutura espiritual, pois nós mesmos somos edificados pela oração; crescemos em graça pela oração; e se formos a Deus com petições em todo momento, seremos cristãos que crescem rápido.
Eu disse a uma pessoa esta manhã: “Ore por mim, porque é um tempo de necessidade”; e ela me respondeu: “Não tenho feito outra coisa desde que acordei”. Fiz o mesmo pedido a várias outras pessoas, e todas me disseram que têm estado orando por mim. Fiquei tão contente, não somente por mim mesmo, por receber o benefício de suas orações, mas também por causa delas mesmas, pois certamente crescerão por esse motivo. Quando os passarinhos seguem batendo suas asas, estão aprendendo a voar. Os tendões se fortalecem, e os pássaros abandonam o ninho em breve; esse preciso bater de asas é educação e o intento de orar, o gemer, o suspirar, o clamar de um espírito cheio de oração é, em si mesmo, uma bênção. Acabem, então, com esse hábito prejudicial da ansiedade, e pratiquem o hábito enriquecedor da oração. Vejam como conseguem assim um duplo ganho: primeiro, evitando uma perda, e em segundo lugar, obtendo aquilo que realmente os beneficiará a vocês e a outros também.
Logo, também, as preocupações são o efeito do esquecimento de que Cristo está próximo de nós. Notaram qual é o sentido do contexto? “O Senhor está próximo. Por nada andeis ansiosos”. O Senhor Jesus Cristo prometeu voltar, e Ele poderia vir esta noite; Ele pode aparecer em qualquer momento. Então Paulo escreve: “O Senhor está próximo. Por nada andeis ansiosos, mas sejam conhecidas vossas petições diante de Deus em toda oração e súplica, com ação de graças”.
Oh, se apenas pudéssemos estar nesta terra como em uma mera sombra, e viver como aqueles que terminaram cedo esta pobre vida transitória; se sustentássemos todas as coisas terrenas com uma mão muito frouxa, então não estaríamos nos ansiando, preocupando-nos e nos inquietando, mas nos dedicaríamos a orar, pois assim seguraríamos o real e o substancial, e plantaríamos nosso pé sobre o invisível, que é, acima de tudo, o eterno!
Oh, queridos amigos, que o texto que lhes tenho lido repetidamente caia agora dentro de seus corações assim como um seixo rolado cai dentro de um lago de montanha e, ao penetrar, gere círculos de consolo sobre a própria superfície de suas almas!
Agora precisamos analisar o texto um pouco mais cuidadosamente para ver, em segundo lugar, o CARÁTER ESPECIAL DESTA ORAÇÃO. Que tipo de oração é a que apaziguará nossa ansiedade?
Bem, primeiro, é uma oração que trata de tudo. “Em toda oração e súplica”, “sejam conhecidas vossas petições diante de Deus”. Vocês podem orar acerca da coisa mais insignificante e acerca da mais importante; vocês não só podem orar pedindo o Espírito Santo, mas podem orar por um novo par de botas. Podem recorrer a Deus por causa do pão que comem, da água que bebem e da roupa que usam, e orar a Ele sobre todas as coisas. Não pintem nenhum limite, dizendo: “Até aqui as coisas deverão estar sob o cuidado de Deus”. Valha-me Deus, então, o que vocês farão com o resto da sua vida fora dessa marca? Será vivida sob a praga murcha de um tipo de ateísmo? Deus não o permita! Oh, que vivamos em Deus na totalidade de nosso ser, pois nosso ser é de tal natureza que não o podemos dividir! Nosso corpo, alma e espírito são um, e enquanto Deus nos deixar neste mundo, e nós temos necessidades que surgem da condição de nossos corpos, devemos apresentar nossas necessidades corporais diante de Deus em oração. E vocês descobrirão que o grandioso Deus os ouve nesses assuntos. Não digam que são demasiadamente triviais para que Ele os note; tudo é pequeno comparado a Ele. Quando penso em quão grande é Deus, parece-me que este nosso pobre mundinho é simplesmente um insignificante grão de areia na costa do universo, e que não é digno de ser notado, no fim das contas. A terra inteira é um simples cisco no grandioso mundo da criação; e se Deus condescende a considerá-lo, pode muito bem Se inclinar um pouco mais para baixo, e considerar a nós; e Ele faz isso, pois disse: “Mesmo os cabelos de vossa cabeça estão todos contados”. Portanto, ‘sejam conhecidas vossas petições diante de Deus em toda oração e súplica’.
O tipo de oração que nos livra da ansiedade é a oração que é repetida: “Em toda oração e súplica”. Orem a Deus, e logo orem de novo: “em… oração e rogo”. Se o Senhor não lhes responde na primeira vez, fiquem muito agradecidos por ter uma boa razão para orarem de novo. Se não lhes conceder a petição a segunda vez, creiam que Ele os ama tanto que deseja ouvir sua voz novamente; e se os mantêm esperando até você terem apelado a Ele sete vezes, digam: “Agora sei que adoro ao Deus de Elias, pois o Deus de Elias deixou que eu fosse sete vezes antes que a bênção fosse outorgada”. Considerem uma honra que lhes seja permitido lutar com o anjo. Esta é a maneira como Deus forja Seus príncipes. Jacó nunca teria sido Israel se tivesse obtido a bênção do anjo ao pedi-la pela primeira vez; mas quando teve que seguir lutando até prevalecer, então se converteu em um príncipe para Deus. A oração que mata a ansiedade é uma oração que é contínua e importuna.
Prosseguindo, ela é uma oração inteligente. “Sejam conhecidas vossas petições diante de Deus”. Tomei conhecimento de um muçulmano que passava, penso, seis horas em oração por dia; e para não dormir, quando estava a bordo de um bote, permanecia erguido, e só tinha uma corda estirada ao longo do curso, de tal maneira que podia se apoiar contra ela, e se ele dormisse, caía. Seu objetivo era prosseguir durante seis horas com o que ele chamava: oração. “Bem” – eu disse a uma pessoa que conhecia e que lhe havia visto a bordo de uma típica embarcação egípcia no Nilo: “Que tipo de oração era essa?”. “Bem” – respondeu-me o meu amigo – “ele seguia repetindo: ‘Não há Deus além de Deus, e Maomé é o profeta de Deus’; dizia o mesmo, uma vez, outra vez, e mais outra vez”. Eu perguntei: “Ele pedia alguma coisa?”. “Oh, não!” “Ele suplicava a Deus que lhe desse algo?”. “Não, simplesmente seguia com essa repetição perpétua de certas palavras, justamente do mesmo modo como uma bruxa poderia repetir um encantamento”.
Vocês pensam que há algo nesse estilo de oração? Se vocês se põem de joelhos e simplesmente repetem certa fórmula, isso só será um desenrolar de palavras. Que interessa a Deus esse tipo de oração? “Sejam conhecidas vossas petições diante de Deus”. Essa é a verdadeira oração. Deus certamente conhece quais são suas petições; mas você deverá pedir a Ele como se Ele não as conhecesse. Você deve fazer conhecer suas petições, não porque o Senhor não saiba, mas porque, talvez, você não as conheça; e quando você der a conhecer suas petições para Ele, como lhe diz o texto, você as fará mais claramente conhecidas a você mesmo. Quando tiver pedido inteligentemente, sabendo o que você pediu, e por qual motivo o pediu, talvez você se detenha, e diga: “Não, depois de tudo, não devo fazer essa petição”. Algumas vezes, quando você continuar orando e pedindo aquilo que Deus não lhe dá, pode ser que ocorra furtivamente em sua mente a convicção de que não está indo pelo caminho correto; e esse resultado da sua oração, em si mesmo, fará bem, e será uma bênção para você.
Mas você deve orar dando a conhecer suas petições diante de Deus. Isso é, no português claro, dizer a sua necessidade, pois essa é a verdadeira oração. A sós, diga ao Senhor o que você precisa; derrame seu coração diante Dele. Não imagine que Deus exige uma linguagem refinada. Não, não há necessidade de correr escadas acima atrás de seu Livro de Oração[2] e buscar uma breve que contenha uma invocação, uma petição e uma conclusão; tomar-lhe-ia muito tempo encontrar uma oração assim descrita que lhe seja útil se você realmente estiver orando. Ore pedindo o que você necessita, como se estivesse dizendo a sua mãe ou ao seu mais querido amigo qual é a sua necessidade. Recorra a Deus dessa maneira, pois essa é uma oração real, e esse é o tipo de oração que lançará fora sua ansiedade.
Além do mais, queridos amigos, o tipo de oração que traz liberdade da ansiedade é a comunhão com Deus. Se você não tem falado a Deus, você não tem orado realmente. Soube-se de um garotinho (atrever-me-ia a dizer que seus filhos também o fizeram) que pôs uma carta debaixo da grade de um bueiro de esgoto; e logicamente, nunca obteve nenhuma resposta a uma carta enviada dessa maneira. Se a carta não é colocada na caixa de correio para que seja enviada à pessoa à qual está destinada, de que serve? Então, a oração é uma comunicação real com Deus. Você tem que crer que Ele existe, e que é galardoador dos que O buscam, ou do contrário você não poderá orar. Ele tem que ser uma realidade para você, uma realidade viva; e você tem que crer que, de verdade, Ele ouve a oração, e então você deve falar com Ele, crer que vai receber a petição que você faz a Ele, e assim haverá de recebê-la. Ele nunca deixou de honrar uma oração de fé. Pode ser que lhe faça esperar por um tempo, mas as demoras não são negações, e Ele tem respondido frequentemente uma oração que pedia prata, dando ouro. Pode haver negado o tesouro terrenal, mas tem outorgado riquezas celestiais equivalentes a dez mil vezes o valor, e o suplicante tem ficado mais que satisfeito com a troca. “Sejam conhecidas vossas petições diante de Deus”.
Eu sei o que você faz quando tem problemas; recorre a seu vizinho, porém, seu vizinho não quer vê-lo tão frequentemente por causa de uma certa carência. Possivelmente, você recorre a seu irmão; mas há um texto que o adverte a não ir à casa de seu irmão no dia da sua calamidade. Quando você está financeiramente em apuros, você não pode visitar um amigo com demasiada frequência; ele pode ficar muito contente em vê-lo somente até ouvir o que você pretende. Mas se você recorre a seu Deus, Ele nunca lhe dará as costas; Ele nunca dirá que você recorre com demasiada frequência. Pelo contrário, inclusive o censurará porque você não recorre a Ele com suficiente frequência.
Há uma palavra que acabo de deixar passar agora, porque queria deixá-la para minha última observação sobre este ponto: “Sejam conhecidas vossas petições diante de Deus em toda oração e súplica, com ação de graças”. Agora, o que isso quer dizer? Quer dizer que o tipo de oração que mata a ansiedade é uma oração que pede alegremente, com gozo, agradecidamente. “Senhor, eu sou pobre; eu Te bendisse por causa de minha pobreza e, então, oh Senhor: não suprirás todas as minhas necessidades?” Este é jeito de orar. “Senhor, estou enfermo; eu Te bendigo por esta aflição, pois estou certo de que queres dizer algo de bom para mim. Agora eu Te suplico que Te dignes em curar-me!” “Senhor, encontro-me em uma grande tribulação; mas eu Te louvo pela tribulação, pois eu sei que nela contém uma bênção, embora o envelope tenha uma fita negra; então, Senhor, ajuda-me durante minha tribulação!” Esse é o tipo de oração que mata a ansiedade: “oração e súplica, com ação de graças”. Combinem bem estas duas coisas; uma dracma[3], não, duas dracmas de oração – oração e súplica – e logo uma dracma de ação de graças. Agite-as juntas muito bem e formarão um bendito remédio para a preocupação. Que o Senhor nos ensine a praticar esta arte santa do boticário!
III. Concluo com este terceiro ponto, o DOCE EFEITO DESTA ORAÇÃO: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”.
Se vocês puderem orar dessa maneira, em vez de se entregarem à ansiedade maligna, o resultado será que uma paz incomum será introduzida furtivamente em seu coração e mente, pois será “a paz de Deus”. O que é a paz de Deus? É a plácida serenidade do Deus infinitamente feliz, a eterna compostura do absolutamente muito contente Deus. Isto tomará posse de seu coração e mente. Notem como a descreve Paulo: “A paz de Deus, que excede todo entendimento”. Outras pessoas não a entenderiam; não seriam capazes de explicar por que você está tão tranquilo. E mais, você não seria capaz de lhes explicar, pois se excede todo entendimento, certamente excede toda expressão; e o que é ainda mais maravilhoso é que você mesmo não a entenderá.
Será uma paz tamanha que para você será insondável e imensurável. Quando um dos mártires estava a ponto de arder na fogueira por Cristo, disse ao juiz que estava dando as ordens para incendiar a pira: “Quer se aproximar e por sua mão sobre meu coração?” O juiz o fez. “Bate muito depressa?” – perguntou o mártir. “Mostro algum sinal de medo?” “Não” – respondeu o juiz. “Agora ponha sua mão sobre seu próprio coração, e comprove se o senhor não está mais nervoso do que eu”. Pensem nesse homem de Deus que pela manhã devia ser queimado, mas que estava tão profundamente adormecido que tiveram que sacudi-lo para despertá-lo; tinha que se levantar para ser queimado e, contudo, sabendo que devia ser assim, tinha tal confiança em Deus que dormia profundamente. Esta é “a paz de Deus, que excede todo entendimento”.
Naquelas antigas perseguições de Diocleciano, quando os mártires iam ao anfiteatro para serem despedaçados por bestas selvagens, quando um era colocado em um assento em brasa, e outro era ungido com mel para ser picado até morrer por vespas e abelhas, tais nunca se acovardaram. Pensem naquele homem valente que foi colocado sobre uma grelha para ser torrado até a morte, e que disse a seus perseguidores: “Já me cozinharam de um lado; agora me virem de outro lado”.
Por que existia essa paz sob tais circunstâncias? Era “a paz de Deus, que excede todo entendimento”. Nós não temos que sofrer assim em nossos dias, mas se algum dia chegar a esse ponto, a paz que goza um cristão será poderosa. Depois de ter havido um grande tormento, o Mestre se pôs de pé na proa do barco, e disse ao vento: “Emudeça”, e lemos que “se fez grande bonança”. Vocês sentiram isto alguma vez? Vocês, na verdade, o sentem esta noite, se vocês aprenderam esta arte sagrada de fazer com que todas as suas petições sejam conhecidas ante Deus, e a paz de Deus que excede todo entendimento haverá de guardar seus corações e seus pensamentos em Cristo Jesus.
Esta bendita paz que guarda seus corações e seus pensamentos é uma paz que protege. A palavra grega implica uma guarnição. Não é estranho que um termo militar seja usado aqui, e que seja uma paz que atua como um vigia para o coração e a mente? É a paz de Deus que deve proteger o filho de Deus. É uma estranha, porém, formosa figura! Ouvi que o medo é como uma governanta para um cristão. Bem, o medo pode ser um bom guardião para manter distante os cachorros; mas mantem distância de um deposito sem nada de valor guardado lá. Porém, a paz, embora pareça debilidade, é a essência da fortaleza e, enquanto vigia, também nos alimenta e supre nossas necessidades.
É também uma paz que nos vincula a Jesus: “A paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará vossos corações e vossos pensamentos”, isto é, seus afetos e sua mente, seus desejos e seu intelecto; guardará seu coração, de tal maneira que não temerá; guardará sua mente, de tal maneira que não conhecerá nenhum tipo de perplexidade. “A paz de Deus… guardará vossos corações e vossos pensamentos em Cristo Jesus”. Tudo é “em Cristo Jesus” e, portanto, é duplamente doce e precioso para nós.
Oh meus queridos ouvintes, alguns de vocês vêm aqui nas quintas-feiras pela noite e não sabem nada sobre esta paz de Deus, e talvez se perguntem por que nós, cristãos, fazemos tal alvoroço acerca de nossa religião. Ah, se o soubessem, vocês, talvez, fizessem mais alvoroço acerca dela do que nós fazemos; pois ainda que não houvesse um além – e nós sabemos que há – o hábito bendito de apelar a Deus em oração e de lançar toda nossa ansiedade sobre Ele nos ajuda a viver de maneira extremamente alegre, inclusive nesta vida. Nós não cremos no secularismo; mas se o fizéssemos, não haveria preparação para a vida terrena como este viver para Deus, e viver em Deus. Se vocês têm um Deus falso, e simplesmente vão à igreja ou à capela, e levam seu Livro de Oração ou seu hinário e por isso pensam que são cristãos, enganam-se a si mesmos; mas se vocês possuem um Deus vivo, e têm uma comunhão real e constante com Ele, como um hábito, e vivem sob a sombra das asas do Todo Poderoso, então vocês gozarão de uma paz que fará com que os demais se assombrem, e levará vocês mesmos a assombrarem-se também, pois é “a paz de Deus, que excede todo entendimento”. Que Deus lhes conceda isso, meus queridos ouvintes, por Cristo nosso Senhor! Amém.
ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA EDIFICAÇÃO DE MUITOS E SALVAÇÃO DE PECADORES.
FONTE:
Traduzido de http://www.spurgeon.com.mx/sermon2351.html
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público, e com autorização do Sr. Allan Roman.
Sermão nº 2351 Metropolitan Tabernacle Pulpit,
Tradução: Gabriel Valadares
Revisão: Cibele Cardozo
Prova: Armando Marcos
Capa: Salvio Bhering
Projeto Castelo Forte
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[1] Para entender melhor esta explicação que Spurgeon nos dá sobre o significado da palavra, deve-se levar em conta que a versão da Bíblia em inglês, King James, diz: “Be careful for nothing…” ‘Careful’ hoje é entendido mais como: cuidadoso, cauteloso, precavido, etc. Não é vinculado claramente com preocupação ou ansiedade.
[2] Provável referência ao Livro de Oração Comum, usado pelos crentes anglicanos como manual de liturgia e guia de orações. Spurgeon por ser um não conformista com os rituais da Igreja da Inglaterra e ser um crente independente, faz essa referência negativa ao LOC, pois em geral tais crentes não concordam com o uso de orações escritas (Nota do Revisor)
[3] Dracma: Além do significado da moeda de prata grega e romana, tem, na farmácia, o significado de peso equivalente à oitava parte de uma onça, ou seja, 3.594 gramas
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