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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Ateísmo cristão: Uma perspectiva desafiadora

 



Você já ouviu falar em ateísmo cristão? Parece contraditório, não é mesmo? Mas existe uma abordagem que nega o Deus cristão revelado na Bíblia, redefinindo-o com termos e linguagem evangélicos. Na prática, essas pessoas vivem como se Deus não existisse.

Se o ateísmo é a negação da existência de um Deus pessoal, é possível considerar ateísmo qualquer conceito de Deus que o afaste da realidade humana.

Na prática, qual é a diferença entre acreditar em um Deus que não intervém, não age na história humana e não se relaciona com as pessoas, e não acreditar em Deus? Na minha opinião, é muito pouca ou nenhuma.

Essa ideia de um Deus que existe, mas não interfere no mundo e nos seres humanos, ganhou forma "cristã" após o Iluminismo, quando teólogos ingleses adaptaram o conceito do Deus cristão às exigências do racionalismo predominante no século XVIII. Naquela época, o mundo era visto como um grande mecanismo autossuficiente, regido por leis naturais. Cada fenômeno era entendido como resultado de causas naturais, sem a necessidade de intervenção divina.

Esses teólogos acreditaram que era preciso rever o conceito tradicional de um Deus que criou e sustenta o mundo, agindo na história e nos eventos através de Sua providência. Para conciliar a fé com o racionalismo, eles postularam que Deus existe, mas não interfere no mundo desde a sua criação. Ele é como um relojoeiro que montou o relógio do mundo e o deixou funcionar por si mesmo. Esse entendimento ficou conhecido como deísmo, em contraste com o teísmo tradicional que acredita em um Deus que age diariamente na realidade que Ele criou.

De acordo com o deísmo, a história se desenrola por meio das decisões humanas. Deus não age nas circunstâncias. Não há uma vontade divina ou um propósito celestial nos eventos diários. Portanto, os cristãos não deveriam viver como se uma mão celestial guiasse suas vidas a cada passo, mas fazer escolhas corretas e praticar o bem, seguindo a razão.

No entanto, o deísmo foi adotado principalmente pelos liberais que já não acreditavam em milagres, como a encarnação, o nascimento virginal, a cura de cegos e aleijados e a ressurreição dos mortos. Essas coisas só seriam possíveis se Deus quebrasse as leis naturais. Para eles, a Bíblia não era um livro divinamente inspirado, mas apenas um registro das crenças dos seus autores, envolto em linguagem mitológica da época.

Assim, o deísmo sobreviveu onde o liberalismo teológico prevaleceu. Com o declínio desse movimento, o deísmo também desapareceu do cenário teológico, ressurgindo mais recentemente por meio do teísmo aberto e do evolucionismo teísta, ambos descendentes do liberalismo teológico.

O teísmo aberto, por exemplo, afirma que Deus existe, mas não é onipotente nem onisciente. Ele desconhece o futuro e se arrepende de suas decisões. Deus não interfere na história, deixando aos seres humanos a liberdade de tomar decisões que moldarão o seu próprio futuro.

A conclusão lógica dessa visão de Deus é que devemos viver como se Ele não existisse, porque, na prática, isso não fará diferença. Não devemos esperar que Deus intervenha para nos ajudar ou nos salvar, nem que Ele dirija todas as coisas de acordo com um propósito predeterminado.

O evolucionismo teísta é outra abordagem desafiadora. Ele defende que Deus "criou" a vida na Terra através do processo evolutivo não dirigido ou intencional. As mutações acidentais e aleatórias, combinadas com a seleção natural, teriam levado à sobrevivência das espécies mais adaptadas.

No entanto, a compatibilidade entre mudanças aleatórias e a supervisão de um Deus onisciente, onipresente e onipotente é um desafio. Como conciliar um Deus que conhece todas as coisas com um processo evolutivo totalmente imprevisível e acidental, fora do controle ou conhecimento divino?

Essas teorias acabam levando à secularização de Deus. Ele se torna uma entidade distante, amorfa e impotente para acompanhar efetivamente a Sua própria criação. No dia a dia, isso se traduz em ateísmo prático, em que as pessoas vivem como se Deus não existisse.

Portanto, o "ateísmo cristão" proposto por essas perspectivas acaba resultando em uma vida sem oração, sem adoração e sem confiança na providência divina. O desafio é que, ao vivermos como se Deus não existisse, estamos perdendo a oportunidade de experimentar o relacionamento pessoal e transformador que Ele deseja ter conosco.

Acredito que ainda vale a pena buscar Deus, pois Ele é muito mais do que as visões limitadas que essas abordagens propõem.


Deus abençoe,

Rev. Augustus Nicodemus

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