Burk Parsons 26 de Setembro de 2016 - Igreja e Ministério
Na obra clássica de 1832, The Ruling Elder [O
Presbítero Regente], Samuel Miller escreveu o seguinte: “O projeto de
nomear pessoas para o ofício de presbítero regente não é para dar-lhes
prestígio; não é para dar-lhes uma oportunidade de aparecer como
oradores em processos judiciais; não é para criar os cortejos de
cerimônias eclesiásticas; mas para assegurar conselheiros e regentes
aptos, fiéis e verdadeiramente devotados da igreja. – para obter
orientações sábias e eficientes, que não somente devem acompanhar o
rebanho em sua jornada rumo ao céu, mas para ir adiante deles em tudo
que pertence ao dever do cristão1. ”
As palavras de Miller são como tão vivas
agora quanto eram no século 19. Estamos em uma situação desesperadora
em que a igreja de Cristo tem abaixado seus padrões, não somente na
esfera da adoração teocêntrica e da exposição bíblica, mas na esfera do
governo eclesiástico também. Como pastores, temos nos enganado ao pensar
que temos todas as respostas e que não temos necessidade de presbíteros
qualificados biblicamente à nossa volta, nos encorajando, nos
admoestando e nos amando.
É crucial para o ministério evangélico
do pastoreamento das ovelhas do nosso Sumo Pastor que identifiquemos
aqueles que Deus deu para servir como pastores dentre o rebanho. Cada
passo do processo de eleição de presbíteros demanda cuidado e todos
envolvidos no processo de eleição devem estar imersos em oração que é
focada no reino. Desde o início do processo de eleição ao fim, a
congregação e seus presbíteros devem considerar o peso do assunto. De
fato, muitos cristãos estão mais preocupados em seguir os meandros da
política de eleição local e nacional do que em eleger oficiais para
pastorear a família de Deus.
O primeiro passo da eleição de
presbíteros pode ser o mais crítico. Em muitas igrejas, particularmente
aquelas de tradição presbiteriana, os presbíteros em potencial são
nomeados formalmente por membros comunicantes da congregação. De acordo
com o livro de ordem eclesiástica da Igreja Presbiteriana da América,
presbíteros são nomeados pelos membros da congregação: “Em tempos
determinados pela reunião, membros comunicantes da congregação podem
indicar nomes para a reunião2 Da mesma forma, o livro de
ordem eclesiástica da Igreja Presbiteriana Ortodoxa diz: “Tais oficiais,
escolhidos pelo povo, dentre os seus3…” Cada livro de ordem é
escrito com extremo cuidado e sabedoria, e assembleias gerais de cada
corpo ecleciástico têm sofrido grandes dores com o passar dos anos para
estarem certas que seus livros de ordem estão precisamente de acordo com
suas tradições e com o que é mais meticulosamente bíblico. E enquanto
cada livro de ordem permite que os presbíteros indiquem potenciais
presbíteros, cada livro também parece recomendar que os potenciais
presbíteros sejam nomeados por aqueles que não são presbíteros na
igreja.
Não tenho nenhum desacordo com a
importância e com a precedência bíblica (i.e. Atos 6.3; 14.23) para o
papel da congregação em indicar presbíteros. Mas ainda assim, é
ultimamente responsabilidade dos presbíteros nomear e eleger
presbíteros. Porque é sobre os presbíteros da igreja que Deus colocou a
autoridade e responsabilidade de pastorear seu povo (Atos 6.1-7; 14.23; 1
Timóteo 5.17-22; Hebreus 13.17). Em Deliberate Church [Igreja
Intencional], os autores Mark Dever e Paul Alexander escrevem, “Nunca é
demais realçar que somente presbíteros deveriam nomear outros
presbíteros, ambos porque eles são os membros mais espiritualmente
maduros da congregação e porque eles conhecem melhor a vida da
congregação.4” Geralmente, em igrejas onde homens são
nomeados pelo povo da congregação, o processo de nomeação se torna uma
disputa de popularidade. Nesses contextos, um homem que é nomeado é
geralmente procurado por aquele que o nomeou para informa-lo que está
sendo nomeado para o ofício. Então, se os presbíteros não confirmarem
essa nomeação entregue pelo membro da congregação, aquele que é nomeado
se sente, em alguns casos, preterido, ou, talvez, não qualificado,
quando de fato o indivíduo simplesmente não tem sido desejado naquele
tempo. Ocasionalmente, as consequências são devastadoras.
Em cada situação, se o povo da
congregação está nomeando presbíteros em potencial, ou se os presbíteros
estão nomeando e elegendo presbíteros em potencial, em última instância
é incumbência dos presbíteros existentes da igreja discernir quem será
nomeado, examinado e eleito para o ofício. A integridade do processo
eletivo é inextricavelmente dependente da integridade dos presbíteros.
Deve existir necessariamente, portanto, homens biblicamente qualificados
e fiéis que são nomeados, examinando e elegendo. À parte de tal
integridade no presbitério, uma igreja irá facilmente apostatar. Sobre
esse ponto, Alexander Strauch comenta:
“Tão vitalmente importante quanto
selecionar, examinar, aprovar e instalar presbíteros e diáconos
prospectivos, os supervisores deveriam direcionar o processo inteiro...
Se os presbíteros não supervisionarem o processo de apontamento,
desordem e mal gerenciamento acontecerão e pessoas irão se machucar.
Além do mais, se os presbíteros não tomarem iniciativa, o processo irá
estagnar. Os presbíteros têm posição, autoridade e conhecimento para
movimentar toda a igreja em direção à ação. Eles sabem suas necessidades
e conhecem seu povo. Então eles podem, intencionalmente ou não, sufocar
ou encorajar do desenvolvimento dos novos presbíteros5. ”
De forma similar, John Owen, em sua obra on The True Nature of a Gospel Church [Sobre a Verdadeira Natureza de uma Igreja Evangélica], estipula:
Esse é o poder e direito dado à igreja,
considerado em sua essência, com respeito aos seus oficiais – a saber,
para projetar, chamar, escolher e separar as pessoas, pelas vias da
forma como Cristo falou, pelas suas leis, ele tem anexado à igreja poder
e autoridade... A sabedoria pretendida não é prometida a todos os
membros da igreja em geral, nem é exigido deles a procura por isso pelas
formas e meios de alcança-la antes dela se estabelecer, mas respeito é
tido como incluso somente até os oficiais da igreja.6”
Aos presbíteros da igreja, Deus tem dado
a sabedoria e autoridade necessárias para governar a igreja de acordo
com sua Palavra. Isso não significa que os presbíteros da igreja
efetivamente fazem outros presbíteros. É simplesmente de
responsabilidade dos presbíteros da igreja discernir quem Deus tem
levantado para servir como presbítero (Atos 20.28). Em seu livro, The Elders of the Church [Os Presbíteros da Igreja],
Lawrence R. Eyres escreve, “Deus torna homens em presbíteros e o dever
da igreja é discernir que homens Deus tem dado para a igreja para o
ensino e governo.7” O ponto de Eyers é bom e não deveria ser
subestimando. O princípio encontrado em tal ensino é brilhantemente
profundo e provê a igreja com muitas implicações práticas.
Entre essas implicações, primeiro e mais
importante, os presbíteros devem sempre ter em mente que eles não são
cabeça da igreja; Cristo é o único que é cabeça da igreja. Isso não é
meramente uma suprema declaração doutrinária; é uma declaração de
consequências práticas. Se Cristo é entendido como sendo a cabeça viva
da igreja, que morreu e que ora por ela (João 10.11; 17.17-23; Efésios
5.25), os presbíteros da igreja verão a si mesmos como sub-pastores de
Cristo, servindo-lhe como a cabeça viva e ativa (Efésios 5.23). Como
sub-pastores, então, os presbíteros possuem a grande oportunidade e
responsabilidade de eleger homens para o ofício de um presbítero que o
próprio Cristo tem provido. Além do mais, Cristo dá dons ao seu povo e
os separa para servir (1 Coríntios 12.1-31).
Homens que são nomeados para o ofício de
presbítero deveriam ser homens que o Senhor já tem levantado. Alguém
pode perguntar, como o Senhor revela aqueles que ele tem levantado?
Dessa forma: O Senhor tem distribuído ao seu povo vários dons para serem
empregados na sua igreja e no seu reino (Salmo 68.18; 1 Coríntios
12.1-31; Efésios 4.4-16). Ao distribuir dons, ele tem dado ao seu povo a
responsabilidade de empregar seus dons para o benefício mútuo do corpo
inteiro de Cristo. Portanto, homens cujos dons são manifestados de
acordo com o mandamento do Senhor (Mateus 25.14-30), e que estão
responsavelmente empregando seus dons, deveriam ser reconhecidos pelos
presbíteros da igreja e encorajados a continuar em amor e boas obras de
acordo com seus dons (Hebreus 10.24). Assim sendo, os presbíteros da
igreja estarão aptos para discernir aqueles que o Senhor tem levantado
para servir no ofício de presbítero. Sobre esse ponto, Strauch assevera:
“Então, antes de um homem ser apontado para o presbitério, ele já está
provando a si mesmo ao liderar, ensinar e suportar a responsabilidade na
igreja.8” Para o mesmo fim, aqueles homens que estão
“provando” a si mesmos para serem presbíteros deveriam estar envolvidos,
o tanto quanto possam, no cuidado do povo de Deus. Ao fazer isso, tais
homens estão demonstrando seu desejo de servir ao Senhor como um
presbítero, o que é uma coisa nobre como o apóstolo Paulo assevera (1
Timóteo 3.1)
1 Samuel Miller (1769–1850), The Ruling Elder in David W. Hall and Joseph H. Hall,Paradigms in Polity (Grand Rapids: Eerdmans, 1994), 428.
2 Book of Church Order of the
Presbyterian Church in America, Sixth Edition, “On the Election,
ordination, and Installation of Ruling Elders and Deacons,” Chapter 24,
section 1.
3 Book of Church Order of the Orthodox Presbyterian Church, 2005 Edition, “Ruling Elders,” Chapter 10, section 1.
4 Mark Dever and Paul Alexander, The Deliberate Church (Wheaton: Crossway, 2005), 157.
5 Alexander Strauch, Biblical Eldership (Colorado Springs: Lewis and Roth, 1995), 278.
6 John Owen, The True Nature of a Gospel Church, ed. William H. Goold, in The Works of John Owen, vol. 16, (first published 1689; Edinburgh: Banner of Truth, 1995), 39–41.
7 Lawrence R. Eyres, The Elders of the Church (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed, 1980), 7.
8 Strauch, Biblical Eldership, 281.
Original: Electing Elders
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