Alexandre Mendes 28 de Setembro de 2016 - Igreja e Ministério
Como começamos um ministério para jovens e adolescentes na igreja? Ou, como mantemos ou revitalizamos um
ministério para jovens e adolescentes na igreja? Quais são as
estruturas necessárias para garantir o sucesso do ministério com jovens e
adolescentes? Ou ainda, o que é um ministério para jovens e
adolescentes bem-sucedido?
Essas são algumas das muitas perguntas
que escuto sobre o ministério com jovens e adolescentes no contexto da
igreja local. Não sou um perito no assunto, mas me vejo na
responsabilidade de tentar responder algumas dessas perguntas
simplesmente porque sou um dos pastores de uma igreja que tem,
inclusive, jovens e adolescentes.
Começando certo
O ponto de partida de qualquer reflexão
irá conduzir seus esforços no pastoreio de jovens e adolescentes. O
ponto de partida errado pode comprometer a efetividade de um ministério,
ainda que pareça crescer ou “fazer barulho”! Por exemplo, é comum
falarmos do ministério jovem como se fosse um departamento a ser
desenvolvido sem ou com pouca ligação com o restante da vida da igreja
local. Olhamos para os jovens e adolescentes da igreja como pessoas “em
potencial” que precisam ser entretidas ou distraídas para não caírem no
mundo! Ironicamente, é justamente abordagens assim que têm ofuscado a
mensagem do Evangelho para os jovens e adolescentes, empurrando-os para
fora da igreja. Por isso, quero sugerir para você que a pergunta “como desenvolver um ministério jovem?” não é abrangente o suficiente para o cuidado pastoral dos jovens e adolescentes da igreja.
A Palavra de Deus estabelece parâmetros
que levantam outras perguntas para a construção de uma visão para o
ministério jovem dentro da igreja local. Precisamos de uma visão de
ministério jovem que coopera com a missão específica da igreja:
fazer discípulos de Jesus Cristo para a glória de Deus (Mateus
28.18-20). Caso contrário, iremos cumprir objetivos diferentes, tirando
uma geração inteira da missão abrangente da Igreja: revelar a multiforme sabedoria de Deus (Efésios 3.10).
Portanto, o que está em jogo não é
meramente uma questão administrativa da igreja. Pastores e líderes de
jovens bem-intencionados falham ao encarar o ministério jovem da igreja
como um departamento a ser desenvolvido. O ministério jovem não pode ser
artificialmente separado do cuidado pastoral da igreja. Trata-se de uma
questão que precisa de lentes espirituais providas pelo Espírito Santo
na Palavra de Deus para uma abordagem ministerial correta.
Deixe-me sugerir três perspectivas bíblicas aplicadas ao ministério jovem que pastores e líderes precisam considerar:
1) Perspectiva antropológica
O que a Palavra de Deus ensina acerca do
jovem? Se não respondermos adequadamente a essa pergunta, iremos
direcionar esforços para solucionar um problema que a própria Bíblia
nunca levantou. Se o jovem é apenas o “futuro” da igreja, o ministério
jovem não irá incentivar os jovens a servirem nem assumirem
responsabilidades diante da igreja local hoje. Ou ainda, se você
acredita que o jovem encontrará seu “potencial” ingressando num grupo
que o aceite como é e que será mantido com entretenimento, o ministério
jovem irá focar em programações e eventos cujo foco principal é a
diversão, na melhor das hipóteses, livre das contaminações do mundo — ou
seja, um “clube Gospel”. Por isso, voltamos para a Palavra de Deus, e
perguntamos: o que é o jovem?
Na perspectiva antropológica abrangente,
o jovem faz parte da categoria única para todos os homens: pecador. O
jovem e o adolescente são carentes do Evangelho de Jesus Cristo, capaz
de redimi-los da condição caída em pecado. O jovem e o adolescente
precisam ouvir as boas novas do Senhor Jesus. Isso inclui uma visão de
quem Deus é em Sua santidade, a realidade do pecado que nos separa de
Deus, o sacrifício substitutivo de Jesus Cristo e o chamado ao
arrependimento e fé. O jovem precisa do Evangelho.
Na perspectiva antropológica específica[1],
o jovem é descrito com peculiaridades de sua faixa etária, ou melhor,
de seu estágio de vida. O livro de Provérbios foi escrito, entre outros
objetivos, para dar conhecimento e bom siso aos jovens (Provérbios 1.4).
Por isso, podemos esperar informações acerca do jovem nesse precioso
livro de sabedoria divina. Muitas das informações acerca do jovem virão
na forma de exortação. Ou seja, a exortação de Salomão reflete uma
preocupação com seu filho jovem. Precisamos escutar a descrição
implícita por trás da exortação explícita.
De acordo com Provérbios, o jovem tende a
não valorizar a sabedoria e é carente de juízo (Provérbios 3.1-4 e
7.7). Não é à toa que Salomão insiste em mostrar o valor da sabedoria
para seu filho. “Filho meu” é uma expressão repetida inúmeras vezes para
chamar a atenção de seu filho para o valor da sabedoria e seus ensinos.
O livro de Provérbios ainda descreve o jovem com dificuldades na
escolha de suas companhias (Provérbios 1.10ss) e mais suscetível à
tentação sexual (Provérbios 2.16; 5; 6.20-35; 7). O livro mostra que o
jovem não tem, de uma forma geral, uma perspectiva escatológica madura.
Ou seja, jovens tem dificuldades em entender consequências de longo
prazo de suas decisões de curto prazo. Muitos acreditam que serão jovens
para sempre e que o amanhã não importa. Por isso que grande parte do
livro se volta para a construção de uma mentalidade capaz de discernir o
certo do errado, mostrando o relacionamento de causa e efeito na ordem
criada por Deus. No centro de tudo isso, o livro de Provérbios mostra
que o jovem tende a por pouco foco no coração (Provérbios 4.23). Por
isso, gostam de testar seus limites numa visão legalista da lei. Jovens e
adolescentes tendem a fazer o mínimo necessário para não terem
problemas com seus pais, autoridades e igreja. Constroem um estilo de
vida mais próximo de seus desejos, ainda que isso custe o relacionamento
com Cristo.
2) Perspectiva eclesiológica
Um ministério jovem fiel precisa de uma
visão eclesiológica madura. É comum vermos “ministérios jovens” fortes
desligados da vida da igreja. Bem-intencionados, mas equivocados,
líderes de jovens criam um ambiente competitivo dentro da própria
igreja. O ministério jovem, ao invés de servir a igreja e seus
propósitos de proclamação do Evangelho, cria um grupo fechado em si
mesmo, repleto de pessoas semelhantes. Isso é um erro que cometemos por
décadas e que precisa de uma reavaliação. O ministério jovem não é uma
igreja numa versão mais legal (ou mais “descolada”) dentro da igreja.
Ao isolarmos o grupo de jovens, tornamos
a vida da igreja difícil de ser vivida dentro dos moldes bíblicos. A
unidade em meio a diversidade sofre um golpe brutal. Um grupo exclusivo
de jovens reunidos é incapaz de mostrar a beleza da diversidade que o
Evangelho conquistou. Um grupo repleto de pessoas da mesma faixa etária
deixa de usufruir dos benefícios do ministério intergeracional.
Portanto, antes de definir o ministério
jovem, é preciso uma definição madura e bíblica sobre a igreja local. A
Igreja Universal do Senhor Jesus Cristo é conhecida por meio de suas
representações locais. Por isso, qualquer proposta de igreja focada e
fechada num grupo exclusivo erra em demonstrar a diversidade do povo de
Deus. O Evangelho criou a unidade rompendo a barreira de inimizade que
existia entre judeus e gentios (Efésios 2.13, 14). Essa unidade reflete o
caráter de Cristo e, por isso, deve ser diligentemente preservada
(Efésios 4.1-6).
A preservação da unidade da igreja tem
seu início no ministério da Palavra de Deus (Efésios 4.7-13). A Palavra
de Deus equipa a todos os ouvintes dentro da igreja para o desempenho do
serviço e edificação do corpo de Cristo. Quando a igreja vive isso,
cada parte coopera para o mesmo objetivo: edificação da igreja,
santuário do Espírito Santo (Efésios 2.22).
Considere alguns sinais de que o
ministério com jovens e adolescentes estão desligados da igreja local e
competindo com o restante da igreja:
- Uma valorização da reunião de jovens (células ou grupos pequenos de jovens) em detrimento do culto público quando a igreja toda se reúne;
- Um apego a líderes carismáticos (líder da “pegada louca” apenas) em detrimento de líderes bíblicos com caráter provado;
- Uma ênfase no entretenimento em detrimento da verdade;
- Construção de relacionamentos superficiais - não centrados em Cristo, mas simplesmente porque “são legais” - em detrimento da graça e verdade dos relacionamentos que devem imperar nos relacionamentos entre cristãos;
- Círculos de relacionamentos limitados a jovens;
- A mentalidade dos pais de que “enquanto estão na reunião de jovens, está bom”.
Sinais de que os jovens estão integrados ou caminhando para serem integrados no contexto da igreja local como um todo:
- Participação ativa de jovens e adolescentes no culto público;
- Existe uma identificação do jovem com toda a equipe pastoral e
diversidade de liderança bíblica madura com acesso ao grupo de
jovens e adolescentes;
- Isso não quer dizer que não possa haver uma referência entre o grupo de jovens na equipe pastoral. O ponto é que não existe uma exclusividade artificial e o jovem compreende os líderes reconhecidos como seus pastores.
- Interesse pela verdade bíblica e crescimento em discernimento;
- Existe uma disposição de servir o restante da igreja (em termos de faixas etárias);
- Existe uma disposição de criar relacionamentos com outros grupos da igreja, aprendendo com os mais velhos e discipulando os mais novos;
- A mentalidade dos pais é de enxergar o ministério jovem como um apoio à responsabilidade bíblica de criarem seus filhos, não de terceirização de seus papéis.
3) Perspectiva pastoral
O ministério jovem e adolescente precisa
de uma “teologia pastoral” bíblica. O que significa cuidar/pastorear
ovelhas? O que significa pastorear ovelhas jovens e adolescentes? São
perguntas que precisam de respostas bíblicas. É comum reduzir o
ministério com jovens e adolescentes a uma mentalidade de “babá”, com
bastante entretenimento e repleto de superficialidades que não promovem
maturidade.
O objetivo pastoral é a edificação da
Igreja promovendo maturidade individual à semelhança de Cristo
(Colossenses 1.28, 29). O pastor faz isso ensinando e aconselhando.
Expandindo um pouco a ideia, o pastor precisa de uma visão ministerial
centrada na Pessoa e obra de Cristo, anunciada por meio do ensino e do
aconselhamento. Tanto no ministério público como individual (Atos
20.20).
Como que isso acontece no contexto do
ministério com jovens e adolescentes? A Bíblia aponta para a
responsabilidade dos pais na tarefa. Uma teologia pastoral bíblica irá
funcionar numa eclesiologia bíblica. Então, a prática do ministério dos
pastores e líderes de jovens e adolescentes começa com uma disposição em
equipar os pais. Obviamente que estamos falando um conjunto amplo de
possibilidades uma vez que alguns jovens já são adultos formados e devem
ser encarados como tal. Mas, principalmente com adolescentes, o
envolvimento com os pais precisa ser levado em consideração.
Além do engajamento dos pais, devemos
considerar o envolvimento de adultos maduros no discipulado de jovens e
adolescentes. Nem todos os jovens e adolescentes irão contar com pais
interessados no cumprimento de suas responsabilidades ou terão pais
comprometidos com Cristo. Em situações como essas, vemos a participação
da igreja local como família espiritual de jovens e adolescentes criando
o ambiente propício para relacionamentos saudáveis intergeracionais
(Tito 2; 1 Pedro 5.5).
Mãos à obra
Baseado nas 3 perspectivas acima, como
você irá pensar o ministério jovem? Veja, não se trata apenas de um
modelo a ser implementado, mas uma cultura a ser desenvolvida ao redor
das verdades da Escritura. Cada uma das perspectivas nos ajuda a
construir uma mentalidade capaz de enxergar o jovem e o adolescente de
forma bíblica. O Evangelho deve ser visto na vida da igreja, pregado
para os jovens da igreja e cuidadosamente usado na construção de
relacionamentos dentro do contexto da igreja.
De forma prática, considere os seguintes passos iniciais:
- Ore para que Deus levante líderes (entre os jovens). Quando o trabalho pareceu maior que a capacidade dos trabalhadores, Jesus nos chamou a orar.
- Treine homens líderes no grupo de jovens.
- Enfatize o estudo da Palavra de Deus de forma sistemática e relevante.
- Encoraje os jovens e adolescentes a viverem a Palavra de Deus, implementando mudanças em suas decisões e relacionamentos.
- Ensine sobre a importância da igreja local.
- Reflita sobre as diferenças entre “reunião de jovens x culto público da igreja local”. As diferenças irão ajudá-lo a aproveitar as oportunidades da reunião de jovens que não estão disponíveis no culto local sem criar uma competição danosa para a unidade da igreja.
[1] A perspectiva antropológica específica é resultado do estudo do excelente artigo “O Caminho do Sábio: como falar sobre sexo com os adolescentes” por Paul David Tripp na coletânea de aconselhamento bíblico, vol. 4, SBPV.
http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/990/Edificando_um_ministerio_de_jovens_biblico
http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/990/Edificando_um_ministerio_de_jovens_biblico
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