Miqueias 6.1-8
INTRODUÇÃO
Uma das coisas mais comuns que
acontece com os religiosos, é a tentativa de colocar Deus dentro de uma gaiola.
Quando assumimos o controle da vida fazemos de Deus um objeto, algo com que
podemos lidar, como uma coisa que podemos usar em benefício próprio.
Sempre foi assim ao longo da
história do povo de Deus. Os profetas nunca caíram nessa conversa. Eles sempre
nos ensinaram a reagir à voz e à presença de Deus.
Dentre estes profetas está
Miquéias. O seu nome significa “Quem é
como Iavé?” Ele nasceu em Moresete, região da Judéia, e profetizou em
Jerusalém, sendo contemporâneo de Isaías, Oséias e Amós, tendo profetizado na
última metade do sec. VIII a.C.
O povo vivia um distanciamento
quilométrico de Deus em todos os aspectos, experimentando a opressão das
grandes cidades sobre os vilarejos pobres, a corrupção política e jurídica e um
reino luxuoso contra uma nação na miséria.
Diferentemente de seu
contemporâneo Isaías, Miqueias foi um profeta pobre e camponês e centrou sua
mensagem na evocação da justiça em favor dos necessitados.
Os dois reinos de Israel –
Norte e Sul – estavam em absoluto declínio. No Norte, a idolatria fez com que o
cálice da ira de Deus se enchesse e como punição Israel sofreu a invasão
Assíria e teve a cidade de Samaria tomada e este reino nunca mais foi restaurado.
No Sul, numa alternância entre altos e baixos, nunca foi possível realizar uma
reforma espiritual profunda, mesmo no tempo do rei Ezequias. O povo se tornou
ritualista, ou seja, iam ao templo e faziam suas ofertas, mas sua vida estava
separada de Deus.
Assim, havia um abismo entre o
que professavam e o que faziam. Diante desse quadro, Deus chamou o povo a um
julgamento no cap. 6 e enfocou que não queria que eles fizessem algo por Deus,
mas que sentissem a Sua presença.
Experimentar a presença de Deus
é entrar por portas que o mundo natural não consegue descrever, porque por
detrás dessas portas estão as realidades mais profundas como o amor, a
compaixão, a justiça, a fidelidade; e o contraste de tudo isso com o pecado da
humanidade. Ao abrirmos essas portas somente encontramos a Deus e, Deus, não
pode ser explicado sob critérios e formas humanas.
Quando essas portas se abrem
Deus declara o desejo de seu coração, que é muito diferente de nossas práticas
religiosas: “Ele te declarou, ó homem, o
que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e
ames a misericórdia, e Andes humildemente com o teu Deus.” (Miqueias 6.8).
Miqueias ensinou que a
verdadeira religião leva a pessoa a uma comunhão íntima com o Senhor, e que,
dessa comunhão, brota conduta íntegra para com os demais.
O teólogo Russel Normam
Champlin disse que para Miqueias, a fé em Iavé deve resultar em justiça social
e santidade pessoal e essas coisas só podem coexistir quando há a efetiva
presença de Deus.
O Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
sintetiza a profecia de Miquéias da seguinte forma: “Iavé e juiz justo e perdoador benigno. Ele não é uma divindade
restrita a um prédio, que chamamos templo, e a um momento, que chamamos culto.
É o Deus de todas as áreas da vida.”
O
JULGAMENTO DE DEUS
Diante de tanto pecado, Deus
coloca seu povo no banco dos réus. É isso que vemos no cap. 6. Nesse tribunal
montado figuradamente por Miqueias, Deus assume o papel de vítima, promotor e
juiz enquanto que os montes e os fundamentos da terra são as testemunhas.
Miqueias arma um cenário onde
acusações são feitas, a defesa fala e finalmente o profeta indica o que Deus
exige (vs.1-8).
As acusações (vs.1-5)
Deus é a vitima de uma aliança
quebrada. Deus é o promotor que acusa e o juiz que sentencia. Tendo os montes e
os alicerces da terra como testemunhas, Deus pode demonstrar as maravilhas
feitas por seu grande poder.
A acusação é a de que o povo
que tinha sido amado, liberto, protegido e abençoado voltou as costas para Deus
num gesto de absoluta ingratidão.
O povo sofre quatro acusações:
- O povo é acusado de não
valorizar a sua libertação: “Eu o tirei
do Egito e o redimi da terra da escravidão...“ (v.4).
- O povo é acusado de não
valorizar sua liderança: “enviei Moises,
Arão e Miriã para conduzi-los.” (v.4).
- O povo é acusado de não
valorizar as bênçãos divinas: “Meu povo,
lembre-se do que Balaque, rei de Moabe, pediu e do que Balaão, filho de Beor,
respondeu.” (v.5).
- O povo é acusado de não
valorizar a providência divina: “Recorde
a viagem que você fez desde Sitim até Gilgal, e reconheça que os atos do Senhor
são justos." (v.5).
As defesas (vs.6-7)
No cenário montado por
Miqueias, agora é a vez do povo se manifestar. No entanto, em vez de tomar o
caminho do arrependimento, o povo busca o atalho da religião sem vida. Acha que
rituais vazios poderão enganar o coração de Deus.
Religião meramente ritual não
representa culto verdadeiro. Na verdade, não agrada nem o coração do próprio
homem. É como se Israel estivesse se perguntando: “Quanto devemos pagar a Deus
para que ele se cale?” ou “Será que nossos sacrifícios não são suficientes?”
Sobre este aspecto, Moody
escreveu: “Se a salvação pudesse ser
assim comprada, por meio do oferecimento de bens materiais em propiciação pelo
pecado, toda a humanidade estaria lutando pela salvação.”
Os holocaustos eram sacrifícios
legítimos e ordenados por Deus, mas precisavam ser oferecidos com a motivação
certa e a vida certa. Enfim, não adianta querer fazer a coisa certa do jeito
errado!
AS TRÊS EXIGÊNCIAS DE DEUS
Depois da
frustrada tentativa do povo em eximir-se de sua culpa, Deus, como a figura de
um promotor, dá a instrução daquilo que o reto juiz espera de seu povo, o réu: “Ele
te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que
pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu
Deus.” (Mq
6.8).
A prática da
justiça
(v.8)
A palavra hebraica mishpat que Miquéias usa aqui significa
literalmente o caminho prescrito, a ação correta ou o modo apropriado de vida.
Justiça não se faz com
conhecimento. Se faz com prática. Não basta estar regulamentada em códigos. É
necessária sua aplicação.
Nos tempos de Miqueias havia ordenamentos
jurídicos. Porém, os mesmos estavam sendo aplicados em prejuízo do povo e isso
era abominação para Deus.
Muito mais relevante do que a
aplicação da letra fria da lei, é uma vida de verdadeira justiça e retidão. Era
o que Deus queria de Israel. É o que Ele continua buscando entre nós:
verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Veja o que diz
Provérbios 21.3: “Fazer o que é justo e
certo é mais aceitável ao Senhor do que oferecer sacrifícios.”
O amor à
misericórdia
(v.8)
A palavra hebraica hesed, traduzida por ‘misericórdia’,
significa bondade, generosidade, lealdade, fidelidade.
A misericórdia é um passo além
da justiça. Ela dá mais do que a justiça requer. A justiça concede o que o
direito requer, a misericórdia concede o que o amor exige.
A misericórdia não deve ser
apenas praticada, mas também amada. O texto fala em amor à misericórdia. Não
basta fazer o que é certo, devemos fazer com a motivação certa. Obediência sem
amor é legalismo. Asaph Borba escreveu numa de suas músicas a seguinte frase
que sintetiza toda essa idéia: “Sei que é
possível dar sem amar, mas é impossível amar sem dar.”
Andar
humildemente com Deus (v.8)
A palavra hebraica tsana, traduzida por ‘humildemente’,
traz a idéia de uma aproximação modesta, com decoro. É curvar-se para andar com
Deus.
As exigências da prática da
justiça e o amor à misericórdia estão relacionados com o homem. Já esta última exigência
está relacionada única e absolutamente com Deus.
Se fossemos colocar numa ordem,
certamente esta seria a primeira das três exigências porque só poderemos
praticar a justiça e amar a misericórdia se andarmos humildemente com Deus, ou
seja, nenhum de nós é capaz de fazer aquilo que Deus ordena sem antes nos
achegarmos ao Senhor como pecadores quebrantados que carecem de salvação e
direção.
Talvez o maior exemplo bíblico
que temos para esta expressão tenha sido o relacionamento de Deus com Enoque: “Enoque sempre andou com Deus e um dia
desapareceu, porque Deus o levou.” (Gênesis 5.24 - NBV).
CONCLUSÃO
Essas três exigências: praticar a
justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus não podem ser
desmembradas.
Isso porque é possível praticar
a justiça de forma severa e inflexível sem misericórdia. Também pode haver
misericórdia sem justiça. Também é fácil encontrarmos gente que diz que anda
humildemente com Deus, mas que dá à justiça e à misericórdia pouco espaço em
sua vida.
Cabem muito bem aqui as sábias
palavras do salmista Davi: “Os sacrifícios que agradam a Deus são um
espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não
desprezarás.” (Salmo 51.17).
Pr. Elias Manoel
– 31/01/2013
http://preliasmanoel.blogspot.com.br/2013/03/as-tres-exigencias-de-deus.html
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