Por Fabio Campos
Texto base: “O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus”. – Romanos 8.16 (NVI)
John Wesley tinha o
grande desejo de levar Cristo aos índios da Geórgia. E isto de fato
aconteceu. Certo dia, ao compartilhar da refeição com um deles,
conta-se, que ao ver o índio orar agradecendo pelo o alimento, na
sinceridade das palavras em gratidão ao Criador, Wesley perguntou ao
índio se ele conhecia a Deus. O índio respondeu que sim, dizendo que
Deus era seu amigo. Wesley indagou como poderia ocorrer tal cousa se ele
não tinha instrução alguma. O índio, então, por sua vez, disse que o
testemunho de Deus estava no seu coração (Rm 8.16).
Após ter passado junto
dos morávios o perigo de um naufrágio, na iminência da morte - com medo
de morrer e os morávios não, escutando daqueles irmãos que “morrer era
lucro” – Wesley percebeu que ainda não era convertido de fato, pois não
tinha o testemunho do Espírito dentro de si, ainda que já tivesse a
teologia na sua mente. Por isto disse: “Fui à América para converter
outros, mas nunca fora realmente convertido a Deus” [1]. Após o
ocorrido, Wesley, então, buscou a Deus em oração, e pela primeira vez
sentiu-se amado por Deus, fato este que lhe dera o poder de fazer o que
fez, trazendo um grande avivamento ao seu povo.
Paulo em sua oração a
favor dos efésios pediu a Deus que aqueles irmãos fossem “fortalecidos
com poder pelo Espírito no homem interior” (Ef 3.16). O puritano Matthew
Henry, comentando este verso, disse que “a força do Espírito de Deus no
homem interior é a melhor e mais desejável força” [2].
Não adianta somente
conhecer a vontade de Deus. É necessário praticá-la. Quando lemos as
Escrituras, conhecemos a vontade de Deus; mas quando oramos, do alto
somos revestido de poder para cumpri-la. Aqui está a questão do excesso
de intelectualidade, no entanto sem piedade. Muitos têm teologia, mas
não possuem o testemunho do Espírito no homem interior. Não conseguem se
desvencilhar do pecado que os assedia porque lhes falta o poder do
Espírito que livra o cristão da “corrupção deste mundo” (1 Pe 1.3).
Na sequencia de sua
oração em favor dos efésios, Paulo expressa outro desejo: “que Cristo
habite, pela fé, no coração dos irmãos” (Ef 3.17). O sentido deste texto
é para “Cristo sentir-se em casa”. Pois é, Cristo está na mente de
alguns, no entanto, distante dos seus corações. Se nossa teologia não
vier acompanhada do testemunho do Espírito, certamente, será morta. Por
isto que muita gente se esfria nos seminários teológicos. Não é por
causa da teologia, mas pela postura ímpia dos alunos e professores. O
reverendo Hernandes Dias Lopes diz que,“um ministro mundano representa
um perigo maior para a igreja do que falsos profetas e falsas
filosofias” [3].
O conceito de fé tem
sido deturpado nos dias de hoje. Para muitos, ter fé, é simplesmente
acreditar que a coisas darão certo. Mas a Escritura vai além. Quando
Cristo habita em nosso coração, pela fé, o Seu Espírito nos dá força
para vencermos o mundo, a carne e o diabo.
É pela fé que vemos e
compreendemos as coisas da forma como realmente são. João Calvino disse
que, “ainda que mesmo a alma dos ímpios seja forçada a elevar-se até o
Criador pela visão da terra e do céu, a fé tem o seu modo peculiar de
atribuir a Deus o pleno louvor da criação” [4]. A fé que opera pelo amor
faz Deus trabalhar em nós de acordo com o seu “querer e efetuar”.
Muitos querem anunciar a
ira e a justiça de Deus, no entanto possuem apenas luz na mente e
nenhum fogo no coração. Querem pregar sobre “Pecadores na mão de um Deus
irado” sem um terço da piedade de Edwards. Aí já viu!... Como disse
Lutero: “Sermão sem unção endurece o coração”. Por isto que falam... ,
falam... , falam... , mais brigam do que dialogam. Não produzem frutos,
pois lhe falta o “poder no homem interior”.
Só vamos conseguir
vencer o pecado e testemunhar com eficácia a respeito do Evangelho se de
fato estivermos“cheio da força do Espírito” (Mq 3.8). Acerca disso,
Matthew Henry comenta: “[O profeta] tinha um amor ardente por Deus e
pelas almas dos homens, uma consideração profunda pela glória divina e
pela salvação deles, além de um zelo veemente contra o pecado. (...). Em
todas as suas pregações havia luz, bem como calor, espírito de
sabedoria e zelo” [5].
Jesus ensinou muitas
coisas aos seus discípulos, no entanto, antes de subir aos céus, sabendo
que o Evangelho já estava na mente deles, exortou-os a não pregar até
que “do alto fossem revestidos de poder” (At 1. 1-8). Quanta gente
pregando boa teologia, mas sem poder do Espírito. É aquilo que o
Reverendo Hernandes Dias Lopes sempre diz: “ortodoxia morta!”.
João Calvino disse que
“o testemunho do Espírito é superior a toda razão” [6]. O ser humano
ainda que racional, é guiado pela emoção através das suas paixões. Luta
para fazer o bem, contudo, sem ao menos perceber, o mal que não gostaria
de fazer, este, já está praticando-o. Somente com o poder do Espírito
conseguiremos andar conforme nossa razão e convicção da qual é oriunda
de uma mente regida pela Palavra de Deus.
Nosso conhecimento
precisa estar acompanhado de graça. A mensagem de muitos, infelizmente,
apenas informa, mas não alimenta. Apontam o pecador, mas não indicam o
Salvador. Sabem as Escrituras, mas não possuem poder para viver em
conformidade com ela. Estão inchados pelo saber, mas totalmente
desprovidos do amor que edifica (1 Co 8.1-3).
Quero terminar este
artigo consultando novamente as palavras do eloquente teólogo e
reformador, João Calvino:“É porque o Senhor nos quis tornar eruditos não
em questões frívolas, mas na piedade sólida, no temor de seu nome, em
uma confiança verdadeira, nos ofícios de santidade, aquiesçamos àquela
ciência. (...). Ora, o propósito de um teólogo não é deleitar os
ouvidos, mas, ao ensinar o que é verdadeiro, certo e útil, confirmar as
consciências” [7]
Que Deus confirme por
Seu Santo Espírito nossa teologia para que não sejamos homens apenas de
“palavras persuasivas, mortas, que não trazem nenhum proveito, mas
ministros cheios do poder e virtude do Altíssimo, assim como foi o
Apóstolo Paulo:
“E a minha palavra, e a
minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria
humana, mas em demonstração de Espírito e de poder”. – 1 Coríntios 2.4
(AFC).
Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,
Soli Deo Gloria!
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Notas:
[1] BOYER, Orlando. Heróis da fé. Rio de Janeiro, RJ; CPAD, 2009, p. 53.
[2] Bíblia de Estudo. Matthew Henry. Central gospel, p. 1929.
[3] DIAS LOPES, Hernandes. Piedade e Paixão. São Paulo, SP; Candeia, 2002, p. 20.
[4] CALVINO, João. A instituição da Religião Cristã. São Paulo, SP; Unesp, 2008, p. 184.
[5] Bíblia de Estudo. Matthew Henry. Central gospel, p. 1349.
[6] CALVINO, João. A instituição da Religião Cristã. São Paulo, SP; Unesp, 2008, p. 74.
[7] Ibid, p. 154
Fonte: Fabio Campos
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