Dave Harvey 07 de Outubro de 2016 - Igreja e Ministério
Há certas coisas que você pode ter
certeza que irão acontecer. O Vasco sempre ficará em vice colocado em
todo campeonato que participar. Rocky 1 sempre será um filme ótimo. As
pessoas em Fortaleza vão sempre dirigir bem devagar (descobri esse
fenômeno raramente percebido no Nordeste do Brasil, chamado “dirigir no
limite de velocidade”). Paul McCartney sempre será um grande compositor
de músicas.
E, se você é um pastor (ou planeja ser
um), você irá pecar e pecarão contra você. Citando Bruce Hornsby: “é bem
assim que é”. Jogue um tanto de pecadores junto numa igreja, nomeie
alguém para liderá-los, e tão certo quanto os impostos e a morte, o
pecado acontece.
Então, aí é que está: se você quer ser
frutífero ou efetivo no ministério pastoral, você deve aprender a arte
bíblica do perdão. Ser incapaz de perdoar irá aleijar seriamente você no
ministério.
Porque o perdão é um aspecto tão crucial
do ministério pastoral, Satanás e a sua natureza pecaminosa conspirarão
juntos para afastar você dele. Especificamente, eles se valerão de três
distorções, num esforço de conduzir você para fora do caminho do perdão
e para dentro do pântano da amargura.
DISTORÇÃO #1 – EU NÃO SOU UM PECADOR, SOU UMA VÍTIMA
Em Mateus 18.28, um servo que acabara de
ter sido perdoado de uma dívida imensa (10 mil talentos) encontrou
alguém que lhe devia uma quantia pequena de dinheiro. Quando ele viu
aquele servo, um interruptor foi acionado na cabeça dele, e aí ele virou
o jogo para com esse servo:
“Mas quando aquele mesmo servo saiu, ele
encontrou um de seus conservos, o qual devia a ele 100 denários, e o
segurando, começou a segurá-lo pela garanta dizendo: ‘pague o que me
deve’.”
O primeiro servo foi perdoado de uma
grande dívida, mas ele esqueceu de tudo aquilo quando viu o segundo
servo, o qual devia a ele uma quantia relativamente pequena. O primeiro
pensamento dele foi: “ele me machucou, defraudou-me e me vitimou.
Portanto, ele me deve!”. Ele pegou seu status de ofendido, sacou a carta
de vítima e saiu de si numa fúria descontrolada.
Como um aspirante a pastor, você deve
sempre lembrar: o status que nós conferimos a nós mesmos deve começar
com o evangelho e não com nossas experiências, nossa dor, nossa história
ou com as ações ou as omissões dos outros. Essa é uma realidade difícil
porque, temos que reconhecer, o pecado pode ser horrível! Vivemos em um
mundo de abusos, molestações, estupros e assassinatos. Talvez você
tenha sido tocado por uma dessas tragédias, e se eu ouvisse sua
história, choraria com você. Essas tragédias são reais, dolorosas e
significativas.
Mas, na Escritura, “pecar contra você”
não é o status primeiro e primário do cristão. Ao invés disso, nosso
status primário é primeiro e principalmente: “amados por Deus, ainda que
pecadores”. É importante afirmar esse status porque nos define na
relação com Deus. Esse status nos traz, particularmente, face a face com
uma realidade teológica que oferece perspectiva enquanto consideramos
como pecaram contra nós. Nós pecamos contra Deus muito mais do que
qualquer pessoa tenha pecado contra nós. Leia isso de novo, mais devagar
dessa vez. Isso significa que nosso problema mais profundo não é que os
outros pecaram contra nós, mas que nós pecamos primeiro contra Deus.
Você já percebeu que quando pensamos em
nossas histórias, estamos sempre de pé no centro do palco, sem termos
cometido pecado? Outras pessoas se juntam ao nosso drama entrando em
nossa história e cometendo pecados ou omitindo coisas que deveriam ter
feito. Mas, e quanto a nós? Nós somos apenas pessoas que têm boas
intenções, que abençoam outros e espalham alegria. Nós somos boas
pessoas, e parece que sempre acontecem coisas ruins conosco. Vivemos
como se pecassem contra nós para sempre!
Mas a Escritura não nos descreve
primariamente como pessoas contra as quais os outros pecam. Em 1Timóteo
1.15, Paulo diz o seguinte sobre ele mesmo: “Fiel é a palavra e digna de
toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os
pecadores, dos quais eu sou o principal”.
Apesar de muitas pessoas terem pecado
contra Paulo (inclusive o apedrejando quase até a morte, e o agredirem
com varas!), ele não se via primariamente como uma vítima. Ao invés
disso, ele se identificava como um pecador que havia sido salvo por
Cristo.
Se você se vê primariamente como uma
vítima e não como um pecador salvo pela graça, você nunca aprenderá como
ajudar pessoas enraizadas na amargura ou presas pelos seus próprios
sensos de vitimização. O evangelho não fluirá através de você até que
ele seja aplicado primeiramente em você.
DISTORÇÃO #2 – CLARO QUE SOU UM PECADOR, MAS OS SEUS PECADOS SÃO PIORES QUE OS MEUS
No coração do ressentimento, está um
status que determinamos a nós mesmos (pecaram contra mim!) e uma dívida
que negamos (claro que pequei contra Deus, mas você viu como pecaram
contra mim?). Essa distorção faz com que os pecados das outras pessoas
pareçam grandes e os seus, pequenos. Mais significativamente, isso rega
as sementes da autojustificação em nossa alma.
O homem que se autojustifica diz: “Claro
que sou um pecador, mas sou melhor que você. De fato, minha
superioridade moral providencia um ponto de vantagem para diagnosticar e
avaliar o seu coração autoritativamente”. Na verdade, pode ficar muito
feio. Autojustificação converte cristãos em fariseus. Ou, a
autojustificação se infiltra na arena do discernimento. Essa é a área na
qual eu mais frequentemente sou culpado. Minha autojustificação
pecaminosa faz com que eu eleve minha própria interpretação de uma
situação e dispense a opinião de outra pessoa.
Autojustificação cria uma troca na qual
nós nos tornamos os juízes, ao invés de Deus. Nossas opiniões se
transformam de caridosas em um padrão “objetivo” pelo qual outras
pessoas são medidas.
É o patrão que só verá um empregado como
preguiçoso porque o empregado se atrasou uma vez, e o patrão nunca se
atrasa. É a mãe que acredita que todos os filhos dela deveriam concordar
com as opiniões dela, e se não o fizerem, sentem a sua desaprovação. É o
homem que se recusa a perdoar alguém mesmo depois que a pessoa
confessou o pecado dela porque a confissão não lhe pareceu “sincera o
suficiente”.
Autojustificação distorce nossa
perspectiva. Ao invés de vivermos como “eu fui perdoado de uma grande
dívida”, nós vivemos como “claro que pequei, mas olhe para você!”.
Poucas coisas afundarão um pastor mais rápido do que autojustificação.
Se você está querendo ser frutífero no ministério pastoral, deve
aprender a ver as pessoas mais através da graça de Deus do que através
dos pecados dela. E você deve aprender a concordar com Paulo: “que
Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o
principal” (1Timóteo 1.15).
DISTORÇÃO #3 – NÃO SOU UM PECADOR, SOU UM CUMPRIDOR DA LEI
No coração da falta de perdão está a
suposição que nós temos o direito de conferir falta e então exigir uma
penalidade. Assumimos que nosso status de ofendidos nos dá o direito de
exigir vingança. É exatamente o que o servo que não perdoou fez em
Mateus 18.28. O referido servo acabara de ser perdoado de uma enorme
dívida, mas quando encontrou um conservo que devia a ele uma quantia
menor, exigiu a penalidade para a menor dívida. O servo que não perdoou
assumiu que ele tinha o direito de se vingar.
O que devemos entender é que a cruz nos
alivia de nossa escravidão de exigir punição para dívidas pequenas. Como
ela faz isso? Nivelando o campo de jogo. A cruz nos lembra que Deus nos
perdoou de um débito incompreensível. Por causa do seu amor espantoso,
Deus agora nos envia para passar adiante a mesma bênção, não a punição,
que recebemos.
Nós não somos árbitros de penalidades,
mas devedores que foram perdoados de uma grande dívida. É por sermos
pecadores perdoados que perdoamos.
A única forma de afastar as distorções
de nossas vidas é pelo poder purificador do evangelho. Ser lembrado
constantemente de que você foi perdoado da maior dívida irá libertar
você de se sentir como se tivesse que exigir vingança pelos pecados que
foram cometidos contra você.
No coração do evangelho está uma grande
injustiça. Aquele que verdadeiramente era o cumpridor da lei escolheu
não exigir a pena pelos nossos pecados, mas ao invés disso escolheu
suportá-los, penalizando a ele mesmo na cruz. 2Coríntios 5.21 coloca
dessa forma:
Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.
AFASTANDO AS DISTORÇÕES
A cruz não ignora ou nega o pecado. Ao
contrário, ela encara corajosamente nossos piores momentos e diz: “sua
história não acaba aqui”. Para seguir adiante das distorções que podem
afligir seu ministério, você deve vir a enfrentá-las com a grande dívida
que você tinha, a qual Deus perdoou.
Se você entrar no ministério pastoral,
as pessoas pecarão contra você, mas aqueles momentos não precisam
definir você. Por quê? Porque eles são parte da obra de Deus em sua alma
e recorrem à sua vida. Pecadores perdoados perdoam o pecado. E pastores
perdoados os amam e os ajudam, enquanto eles fazem isso.
O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.
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