Benjamin L. Merkle 03 de Outubro de 2016 - Igreja e Ministério
Na maioria das denominações ou
igrejas, aqueles que têm cargos importantes são reconhecidos quando são
designados para um ofício. As questões diante de nós são: como devemos
entender a importância desse ato e quando ele deveria ser realizado?
A IMPORTÂNCIA DA ORDENAÇÃO
Para que discutamos a importância do
reconhecimento público de uma pessoa que tem cargo importante,
precisamos olhar para os diferentes termos usados no Novo Testamento
para descrever esse processo. Lemos em Atos 14.23 que Paulo e Barnabé
“elegeram presbíteros” em cada igreja em várias cidades da Ásia Menor. O
termo grego traduzido para “eleger” é cheirotonço, que é composto das palavras “mão” (cheir) e “estender” (teinô).
No grego clássico, a palavra significava “escolher” ou “eleger”,
originalmente ao levantar a mão. Atualmente, entretanto, o elemento da
“mão” se tornou uma metáfora morta”#1”.
Assim, no grego bíblico, cheirotonço simplesmente
significa eleger alguém para um ofício ou designar alguém para uma
tarefa específica. A única outra ocorrência do verbo no Novo Testamento é
encontrada em 2Coríntios 8.19, onde um irmão bem apresentado foi
“eleito pelas igrejas” para acompanhar Paulo em sua jornada. Está claro
nesses termos que cheirotonço significa designar ou eleger alguém para uma posição#2.
Não obstante, no grego da era patrística, veio significar novamente
“ordenar com a imposição de mãos”. Por causa desse uso posterior, alguns
intérpretes leem esse significado no Novo Testamento e mantém que Paulo
e Barnabé ordenavam homens para o ofício de presbítero pela imposição
de suas mãos, indicando algum tipo de reunião especial de autoridade ou
poder eclesiástico. Apesar da imposição de mãos ser geralmente associada
com o apontamento de presbíteros, o autor transmite tal significado por
usar um termo diferente. Por exemplo, quando Lucas quer falar da
imposição de mãos, ele usa o verbo epitithçmi mais o nome “mão” (cheir) (Atos 6.6; 8.17, 19; 9.12, 17; 13.3; 19.6; 28.8; veja também 1Timóteo 5.22). Outros alegam que a palavra cheirotonço significa
“votar” no contexto de Atos 14.23. Apesar de ser um significado
possível do verbo, não é provável que seja baseado no contexto. Paulo e
Barnabé elegeram, não votaram, os presbíteros da igreja.
O outro verbo usado para transmitir a
ideia de “eleger” é encontrado em Tito 1.5 quando Tito é exortado por
Paulo para “constituíssem [kathistçmi] presbíteros em cada cidade”. Em ambas situações, no grego clássico e no grego bíblico, kathistçmi é
usado com o significado de eleger alguém para um ofício. Por exemplo,
Jesus perguntou a alguém: “quem me constituiu juiz ou partidor entre
vós?” (Lucas 12.14). Também lemos acerca de como o Faraó demonstrou
favor a José: “que o constituiu governador daquela nação e de toda a
casa real” (Atos 7.10).
A imposição de mãos é geralmente
associada com a eleição ou comissionamento de alguém para um ofício
específico ou tarefa. Os sete que foram escolhidos para servir a igreja
para aliviar as responsabilidades dos apóstolos foram apresentados
“perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos” (Atos
6.6). Na igreja de Antioquia, o Senhor escolheu Barnabé e Paulo para
realizar uma tarefa especial: “Então, jejuando, e orando, e impondo
sobre eles as mãos, os despediram” (Atos 13.3). Em outro contexto,
Timóteo é exortado por Paulo para não negligenciar o dom que foi dado a
ele “mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério”#3
(Atos 14.4). Deveria ser notado que ali o corpo inteiro de presbíteros
impôs suas mãos e elegeu Timóteo para o serviço e não somente um
presbítero ou bispo. Finalmente, Paulo adverte a Timóteo: “A ninguém
imponhas precipitadamente as mãos” (1Timóteo 5.22). Apesar de Paulo não
especificar a designação pública de alguém para o ofício de presbítero, o
contexto lida exclusivamente com presbíteros#4.
Oração e jejum também são associados com
a seleção e eleição de líderes. Os apóstolos seguiram o exemplo de
Jesus que orou toda noite antes de escolher seus 12 discípulos, os
apóstolos (Lucas 6.12-13). Depois que a igreja selecionou os sete, lemos
que os apóstolos oraram “impondo-lhe as mãos” (Atos 6.6). Similarmente,
quando Barnabé e Paulo foram eleitos como missionários, a igreja
jejuou, orou e então os enviaram (Atos 13.3).
O Novo Testamento nunca usa a palavra
“ordenar” (no sentido moderno e técnico) em conexão com um líder cristão
que é designado para um ofício#5. Assim, geralmente
leva a um mal-uso do termo “ordenar” em nosso contexto moderno, se
alguém tiver em mente o conceito bíblico de eleição pública ou
designação para um ofício. Hoje em dia, a palavra “ordenar” carrega
consigo a ideia de que uma graça especial é transferida através do ato
de impor as mãos. Diferente da tradição episcopal que alega que a
autoridade do ofício vem do bispo e é passada para quem é eleito pela
imposição de mãos, a autoridade do ofício vem de Deus, que chama e
concede dons a homens para liderar sua igreja (Atos 20.28; 1Coríntios
12.28; Efésios 4.11). O Novo Testamento não ensina que aqueles
escolhidos para liderar a igreja são “ordenados” para um ofício sagrado e
sacerdotal. Ele não ensina que somente os chamados “ordenados” homens
do clero possuem o direito de pregar, batizar e conduzir a Ceia do
Senhor, ou pronunciar uma benção.
É o dever da igreja reconhecer aqueles a
quem Deus separou para essa importante tarefa. Grudem comenta: “Se
alguém é convencido que a igreja local deveria selecionar presbíteros,
então pareceria apropriado que a igreja que elegeu aquele presbítero –
não um bispo externo – deveria ser o grupo que outorga o reconhecimento
externo da eleição ao designar a pessoa em um ofício ou ordenar o
pastor”#6. Strauch adverte contra o entendimento da eleição de presbíteros à luz do sacerdócio do Velho Testamento:
“Presbíteros e diáconos não são eleitos
para um ofício sacerdotal especial ou uma ordenação clerical santa. Em
vez disso, eles estão assumindo ofícios ou serviços de liderança entre o
povo de Deus. Deveríamos ser cuidadosos para não sacralizar essas
posições mais do que os escritores da Bíblia o fazem. O Novo Testamento
nunca acoberta a designação de presbíteros em um mistério ou ritual
sagrado. Não há rito sagrado para realizar ou cerimônia especial para
cumprir. A eleição de presbíteros não é um santo sacramento. A eleição
não confere graça especial ou fortalecimento, nem faz alguém se tornar
padre, clérigo ou homem santo no momento da designação.”#7
O TEMPO DA ORDENAÇÃO
É comum que as pessoas recebam o título
de “pastor” sem terem sido ordenadas. Porém, se a análise acima estiver
correta, então ser um “pastor” da forma correta (ou diácono) é ser
“ordenado” no sentido de ser designado publicamente para esse ofício. A
ideia de separar o título do ato público de comissionamento não é achada
na Bíblia. Presbíteros não são eleitos para um ofício depois de se
tornarem presbíteros. Mas ao se tornarem presbíteros, eles são eleitos
para o ofício.
Assim, ser eleito para o ofício de
presbítero implica que um homem possui as qualificações bíblicas, tem
sido chamado por Deus, tem sido aprovado pela congregação e
consequentemente tem sido reconhecido publicamente como aquele que
possui o ofício. Não necessariamente implica que ele trabalha de tempo
integral para a igreja ou foi para o seminário. Em vez disso, significa
que Deus tem chamado e dotado uma pessoa para a liderança humilde da
igreja. Também é sem precedente bíblico chamar alguns líderes da igreja
de “pastores” antes da ordenação e então “reverendo” ou “ministro”
depois da ordenação.
SUMÁRIO
Presbíteros deveriam ser “ordenados” se
pela ordenação nós simplesmente queremos dizer reconhecimento público de
alguém para um ofício e ministério particular. Talvez um termo mais
apropriado e bíblico seria “eleição” ou “comissão”. A eleição para um
ministério era geralmente acompanhada por oração, jejum e imposição de
mãos. Esses atos públicos atraem a atenção para a seriedade e
importância da eleição. Ademais, presbíteros deveriam ser eleitos tão
logo quanto assumissem seus ofícios.
#1. Portanto, é improvável que o verbo
signifique “ser eleito pelo voto popular”. Veja J. M. Ross, “The
Appointment of Presbyters in Acts xiv. 23,” Expository Times 63 (1951): 288–89; Strauch, Biblical Eldership, 137–39.
#2 Para um uso similar, veja Philo, De Specialibus Legibus 1.14.78.
#3 Mais tarde, Paulo indica que o dom
foi dado a Timóteo através da imposição das suas mãos, o que
provavelmente indica que Paulo estava distante do conselho de
presbíteros mencionado em 1Timóteo 4.14.
#4 A imposição de mãos também é
encontrada em conexão com aqueles que recebiam o Espírito (Atos 8.17,
19; 19.6) e aqueles que recebiam cura (Atos 9.12, 17; 28.8)
#5 Banks, por exemplo, escreve:
”Ordenação, como conhecemos, não aparece simplesmente nas epístolas
paulinas” (R. Banks, “Church Order and Government”, in Dictionary of Paul and His Letters, eds. Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin, and Daniel G. Reid [Downers Grove, IL: InterVarsity, 1993], 135).
#6 Grudem, Systematic Theology, 925.
#7 Strauch, Biblical Eldership, 285.
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