Jefté Encontra Sua Filha, de Hieronymus Francken III |
Por Jonathan Edwards
Com relação ao voto de Jefté e à oferta de sua filha.
Que Jefté não matou sua filha nem a ofereceu em sacrifício as seguintes considerações evidenciarão.
1.
O teor de seu voto, se supusermos que tenha sido um voto lícito, não o
obrigava a isso. Ele prometeu que o que quer que saísse da porta de sua
casa para encontrá-lo certamente seria do Senhor, e ele o ofereceria
como holocausto. Com esse voto, estava obrigado a tão somente lidar com o
que quer que saísse das portas de sua casa para encontrá-lo como se
lidava com as coisas que eram santas ao Senhor.
Pela lei, os holocaustos a Deus deveriam ser regulados pela própria lei de Deus e as regras que Ele dera. Supondo que fosse um jumento ou algum animal imundo que viesse encontrá-lo (uma vez que Jefté
não poderia prever se isso não ocorreria) seu voto não o obrigaria a
oferecê-lo em sacrifício, ou a realmente fazer dele um holocausto. Mas
deveria tratá-lo conforme a lei de Deus orientava a lidar com animais
imundos, que não eram santos ao Senhor. Estes, em outra situação,
estariam aptos a ser ofertados como holocausto a Ele, não fora por sua
incapacidade legal devido à impureza de sua natureza.
Todas
as coisas vivas que eram consagradas deveriam ser, por assim dizer,
holocausto para Deus, isto é, deveriam realmente ser ofertadas como um
holocausto, se não fossem de natureza que a tornassem incapazes disso.
Nesse caso, algo diferente deveria ser feito, o que Deus aceitaria no
lugar da oferta de sacrifício. A ordenança que temos em Levítico
27.11-13 é: “Se for animal imundo dos que se não oferecem ao SENHOR,
então, apresentará o animal diante do sacerdote. O sacerdote o avaliará,
seja bom ou mau; segundo a avaliação do sacerdote, assim será. Porém,
se dalgum modo o resgatar, então, acrescentará a quinta parte à tua
avaliação”. Ou seja, deveria ser avaliado pelo sacerdote, e o ofertante
deveria determinar, após a avaliação, se o resgataria ou não. Se não o
resgatasse, se fosse jumento, deveria ter o pescoço quebrado [Ex 13.12,13]. Se fosse outro animal imundo, deveria ser vendido de acordo com a avaliação do sacerdote [Lv 27.27] (como é em outra parte instruído que seja feito com os animais imundos que eram santos ao Senhor [Ex 34.20]), mas se o resgatasse, se fosse jumento, deveria resgatá-lo com um cordeiro [Ex 13.12,13].
Se
fosse outro animal imundo, deveria acrescentar, adicionalmente, a
quinta parte à avaliação do sacerdote, ou seja, deveria dar o valor do
animal acrescido da quinta parte. Se Jefté
tivesse feito isso no caso de um animal imundo que viesse encontrá-lo,
teria agido de acordo com o seu voto. Se, nessas circunstâncias, tivesse
insistido em oferecer um animal imundo como holocausto, teria provocado
terrivelmente a Deus. A única coisa que seu voto o obrigaria era a tão
somente lidar com o animal imundo que fora consagrado do modo como a lei
de Deus o instruía a fazer, ao invés de oferecer um holocausto.
Assim,
como foi sua filha que o encontrou, poderia fazer a ela de acordo com
seu voto sem que a oferecesse como holocausto, se lhe fizesse de acordo
com o que a lei de Deus instruía a ser feito com as pessoas dedicadas,
ao invés de oferecer um holocausto, em razão da inadequação que, pela
misericórdia de Deus, impede que um ser humano seja oferecido como
sacrifício. Pois oferecer, seja um ser humano, seja um animal imundo em
sacrifício a Deus são ambos mencionados como grande abominação diante
dele e como coisas que assim eram consideradas por todos. Isaías 66.3
diz: “O que imola um boi é como o que comete homicídio; o que sacrifica
um cordeiro, como o que quebra o pescoço a um cão; o que oferece uma
oblação, como o que oferece sangue de porco”. Mas, para clarear mais
plenamente as dificuldades que acompanham esse assunto, observarei em
particular algumas coisas relacionadas às leis que diziam respeito às
pessoas que eram consagradas, tornando-se assim santas ao Senhor.
1.
Todo ser vivo que fosse separado ao Senhor, tantos homens como animais,
eram, por direito, um holocausto a Deus, e deveriam ser realmente ou
sacrificados ou alguma coisa a mais lhes deveria ser feita que Deus
apontara em lugar da queima em sacrifício. Assim, os primogênitos dos
homens e dos animais eram todos santos ao Senhor e deveriam ser ou
oferecidos como holocausto ou ser resgatados. O primogênito dos homens e
dos animais impuros deveriam ser resgatados.
2.
As pessoas que eram dedicadas a Deus por um voto singular, a menos que
fossem daquelas devotadas a ser amaldiçoadas (das quais fala Lv
27.28,29), deveriam ser trazidas e apresentadas diante do Senhor, para
que o sacerdote pudesse avaliá-las, e deveriam ser resgatadas de acordo
com a avaliação do sacerdote. Mas os animais que pudessem ser
sacrificados deveriam ser sacrificados [Lv 27.7-9].
3.
Pessoas que eram assim dedicadas a Deus pelo voto de seus pais deveriam
ainda permanecer como pessoas separadas e apartadas para Deus, após o
seu resgate. Isso se comprova a partir de diversas coisas:
1ª. O
resgate servia apenas para redimi-las da morte em sacrifício. Não era
para resgatá-las da condição de santas ao Senhor, isto é, pessoas
separadas e santificadas a ele.
2ª. Os primogênitos eram designados para ser dados ou consagrados a Deus [Ex
13.2 e 22.19]. Eles eram, pela lei de Deus, santos ao Senhor,
exatamente como as pessoas a Ele dedicadas por um voto singular, como é
evidente pelo fato de serem resgatados da mesma forma e pelo mesmo
preço, bastando comparar o início do capítulo 27 de Levítico com Números
18:15,16. Deus, ao dar a regra para o resgate do primogênito neste
texto, evidentemente refere-se ao que já havia anteriormente apontado
naquele, com relação às pessoas dedicadas por um voto singular, e,
semelhantemente, o primogênito dos animais imundos deveria ser resgatado
da mesma forma que os animais imundos que eram dedicados, como se vê
pela comparação entre Lv
27.11-13 com 5.27. Contudo, ainda assim o primogênito permanecia
separado a Deus como sua possessão especial, após ser resgatado. Daí que
os levitas foram aceitos como o primogênito, como uma tribo separada
para Deus, depois que o primogênito foi assim resgatado.
3ª. Pessoas que eram dedicadas a Deus pelo voto de seus pais eram os nazireus, bem como aqueles que eram separados por seus próprios votos. A palavra nazireu
significa alguém que é separado. Poderiam ser separados pelo voto de
seus pais ou pelo seu próprio. Isso é muito evidente nos exemplos que
temos na Escritura. Assim Samuel era um nazireu
pelo voto de sua mãe: “E fez um voto, dizendo: SENHOR dos Exércitos, se
benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te
lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão,
ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça
não passará navalha” [1 Sm 1.11]. Também o mesmo se deu com Sansão [Jz 13.5]. Mas o nazireu deveria continuar separado para Deus, enquanto permanecesse sob o voto pelo qual havia sido devotado.
4. Aqueles que eram assim devotados a Deus para ser nazireus deveriam, ao máximo de sua capacidade, abster-se de todas as poluições legais [Lm
4.7]. Com respeito à imundície dos cadáveres, era exigido que se
mantivessem puros com mais severidade do que os sacerdotes, à exceção
somente do sumo sacerdote, e eram obrigados a ser tão severos quanto o
próprio sacerdote [Nm 6.6,7; comp. com Lv 21.10,11]. Embora apenas algumas impurezas legais sejam expressamente mencionadas como coisas que os nazireus
deveriam evitar, contudo, deve-se entender que ele deveria separar-se
ao máximo de todas as impurezas legais, de acordo com o seu nome, um nazireu, isto é, pessoa separada. O nazireu
deveria se abster de todas as impurezas legais de maneira semelhante
aos sacerdotes, e até mesmo como o sumo sacerdote; há instruções
semelhantes dadas a um e a outro. O sumo sacerdote não deveria de forma
alguma tornar-se imundo com cadáveres e estava proibido de beber vinho
ou bebida forte, quando ia ao tabernáculo da congregação [Lv 10.9]. Os sacerdotes deveriam se abster de toda espécie de impureza legal, tanto quanto estivesse ao seu alcance [início de Lv 12].
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