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sexta-feira, 13 de junho de 2025

Pureza sexual em modo “gambiarra” – A gente “faz com roupa”



Um amigo tem uma frase ótima: “A heterossexualidade encobre uma multidão de pecados”. Faço menção a ela porque os desafios no campo da sexualidade não se expressam da mesma forma, como se houvesse grupos (des)privilegiados. Lamento informar, mas a Queda foi cosmicamente trágica — e não deixou ninguém de fora. O pecado que o diabo planejou para a humanidade não foi o ateísmo (negar a existência de Deus), nem mesmo o deísmo (acreditar que Deus não intervém). A estratégia foi convencer a humanidade de que Deus é mau para ela. E deu tão certo que, ainda hoje, o plano é o mesmo: fazer-nos acreditar que Deus seja mau a ponto de não ser confiável.

Por isso, crer que Deus existe e que é o Criador não é algo suficiente para nos redimir. Aliás, muita gente crê nessas verdades. Mas é preciso avançar e compreender que a humanidade rompeu com a direção estabelecida por Deus quando se permitiu acreditar em uma nova narrativa apresentada pela serpente — a de que Deus seria tão mau que não deseja o bem para o ser humano: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gn 3.6). Ali teve início a era do ressentimento contra Deus.

Aconselhar cristãos com dilemas em sua sexualidade é lidar com pessoas que chegaram a um ponto em que perderam o controle do barco da própria vida e navegam como que sem rumo, de qualquer jeito. Porém, há um perfil de “desgoverno” curioso — e muito perigoso. O pecado, além de ser o adultério contra Deus, foi alimentado pela tentação por autossuficiência. A presunção do ser humano se revelou ao passar a viver como quem acredita ser capaz de resolver seus próprios problemas, segundo seu próprio parecer e poder. Ficar livre de Deus é desejar ser deus. Para tanto, o ser humano — que é fome por Deus em movimento — passa a se alimentar de tudo o que se apresenta como fonte de vida e prazer, a fim de se sentir bem. E, então, passa a usar, de forma utilitária, tudo o que viabilize seu acesso ao bem-estar.

A pornografia, por exemplo, configura-se como uma das tentativas mais utilizadas de satisfação imediata para uma alma em frangalhos. É uma personagem frequente no ambiente da vida dupla. Quando a tristeza, a solidão, a frustração, o tédio ou a ansiedade batem à porta do coração, como é tentador sair desse cenário e entrar em outro — onde somos o que quisermos, estamos com quem escolhermos, somos desejados e não rejeitados! As indústrias pornográfica e de tráfico de pessoas descobriram que o ser humano trocaria tudo por migalhas de êxtase, apenas para “ser feliz” por um instante.

A pedido de uma empresa de canal a cabo[i], o Instituto Quantas realizou uma pesquisa com o objetivo de identificar o perfil dos consumidores de pornografia no país. Apesar de antiga (2016-2017), a pesquisa trouxe um levantamento de dados bastante relevante. Constatou-se que, no Brasil, 22 milhões de pessoas assumem consumir pornografia. Dessas, 58% têm menos de 35 anos; 49% pertencem à classe B; 69% são casadas ou estão em um relacionamento; 49% concluíram o ensino médio; e 40% têm curso superior. Quanto à distribuição por gênero, os dados revelam que os homens são os que mais consomem pornografia no Brasil, 76%, e as mulheres, 24%.

Quando perguntados sobre o que os leva a consumir pornografia, a resposta foi que “a pornografia é uma ‘pílula de estímulo’ e ‘dá vazão a fantasias, desejos, frustrações, e permite viver o prazer livre que hoje se concretiza em imagens’”. Uma das principais motivações detectadas foi a busca por uma “válvula de escape em casos de desilusão, solidão ou carência”.

Recorrer à pornografia para se distanciar da realidade difícil, triste ou desagradável da vida parece ser um dos frutos da desconfiança em Deus. Vemos que, em escala nacional, os números apontam para uma parcela da sociedade que deposita suas expectativas na dimensão erótica como meio de acalmar seu mundo interior à deriva. Se o Consolador não estiver em nós, tenderemos a aliviar nossas dores por outros meios — e a pornografia é um deles.

Não podemos desconsiderar que o conteúdo pornográfico visual é feito de pessoas nuas excitando pessoas em busca de prazer. Aconselhando cristãos que fazem ou fizeram uso da pornografia, os relatos frequentemente apontam para um desdobramento preocupante: o conteúdo que um dia foi excitante deixa de ser, exigindo algo mais frequente e/ou mais pesado para garantir a mesma experiência de prazer. Inclusive, a pesquisa da Quantas confirmou que o consumidor de pornografia procura “assistir a pessoas que pareçam reais”. Considero isso preocupante, pois a busca por prazer sexual pode tornar-se tão central na vida de alguém que o limite do outro passa a ser visto como um obstáculo a ser ultrapassado — ainda que de forma criminosa.

A indústria da exploração sexual tende a lucrar significativamente por meio da indústria pornográfica. Como ouvi de um aconselhado: “Chegou uma hora em que eu já tinha visto tudo e foi ficando previsível. Comecei a pensar como seria tocar em alguém e fazer aquilo que vejo nos vídeos”. Só que o que ele desejava não era um relacionamento, mas, sim, um momento de prazer — e ponto. Sem nomes, sem intimidade, sem vínculo. Havendo demanda, haverá oferta — ainda que à custa de muito sofrimento para as “carnes do cardápio”.

Explorar pessoas sexualmente é um dos negócios mais lucrativos do mundo — e seu alcance ultrapassa continentes. Ao ler estas palavras, você pode estar se perguntando: “O que o ‘pornô de cada dia’ tem a ver com isso?”. Não se iluda! Pessoas que pagam para explorar sexualmente outras pessoas foram, em sua maioria, iniciadas sexualmente de alguma forma. E, segundo relatos de aconselhados a respeito de seus pecados sexuais, o envolvimento direto com pornografia é predominante. O coração humano se deixou convencer pela ideia de que a pornografia é uma “pílula de estímulo”, capaz de melhorar um dia mau por meio da exibição de “pessoas que pareçam reais”. E, para piorar o que já é péssimo, junta-se a isso a exploração sexual, que disponibiliza pessoas de verdade.

Quero que você perceba o quanto que as notícias bizarras envolvendo crimes sexuais estão relacionadas ao desgoverno da vida humana desde a Queda. Por termos pecado contra Deus e assumido o controle de nossas próprias vidas, as habilidades que recebemos ao sermos criados à imagem dele passaram a ser usadas de acordo com a nossa conveniência. A Queda não removeu a existência do desejo sexual na vida humana, mas mudou seu senhorio. Em vez de usarmos o desejo segundo a direção de Deus, que o criou, passamos a dirigi-lo conforme nossas próprias percepções — excluindo Deus do processo.

No cenário religioso, também é possível identificar a existência do autogoverno do desejo. É o caso de pessoas que, mesmo se assumindo como cristãs, vivem a partir de um “mapa interno” contaminado por falsas crenças sobre Deus — crenças que as sedimentam em falsas percepções sobre si mesmas. Uma vez enredadas por mentiras, a busca por alguma “pílula de estímulo” estabelece um modo de vida distante do que está escrito na Palavra de Deus.

Contudo, para não romperem com Deus e com a igreja, tentam ludibriá-los. Refugiam-se em desculpas e racionalizações que nada mais são do que folhas de figueira, grosseiramente cobrindo a lambança imoral. Com temor, listo alguns exemplos que ouvi ao longo dos anos, em aconselhamentos e aulas:


• “Já entendi que sexo antes do casamento afeta minha vida com Deus e traz prejuízos para a intimidade no relacionamento conjugal. Mas é só isso?”

• “É quaresma! Nesse período, dou uma parada na pornografia.”

• “Se posso beijar a boca do meu amigo, por que não posso beijar a boca da minha amiga?”

• “A gente está se guardando. A gente para no sexo oral.”

• “Se eu não fizer, tenho medo de que ele me largue. A gente não faz sexo, só sexo oral, mas faz com roupa”.


Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Vida Dupla: descendo aos porões da intimidade sexual, de Andréia Vargas, Editora Fiel (em breve).

[i] Informação disponível em: https://g1.globo.com/google/amp/pop-arte/ noticia/22-milhoes-de-brasileiros-assumem-consumir-pornografia-e-76-sao-homens-diz-pesquisa.ghtml. Acesso em: abril de 2025.

Autor: Andréa Vargas

Andréa Vargas é missionária, diretora da Missão Avalanche, conselheira bíblica e autora do livro O Coração Explícito do Sexo. Possui especialização em Estudos Bíblicos (Living Faith Bible College/Canadá), pós-graduação em Aconselhamento Cristão (SETEBES/ES) e em Terapia Familiar Sistêmica (ABPC/ES), e mestrado com foco em Aconselhamento (Andrew Jumper/SP).

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel

A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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Andréa Vargas 2 de junho de 2025 1,471 Visualizações Artigo9 min de leitura

Editora Fiel Homossexualidade, Livro Vida dupla, Sexualidade


https://ministeriofiel.com.br/artigos/pureza-sexual-em-modo-gambiarra-a-gente-faz-com-roupa/



sábado, 5 de setembro de 2020

Pureza sexual vs. neopaganismo sexual

Nossa cultura possui um senso da sexualidade hoje muito diferente de anos atrás. Por exemplo, até pouco tempo reconhecia-se o casamento heterossexual e monogâmico como o  normal e apropriado. Mas no fim do século 19 deu-se início a uma revolução sexual: uma transformação radical que atingiu seu ápice em meados do século 20 e ainda perdura até hoje; uma revolução lenta, silenciosa, mas que traz grandes implicações consigo.

Mas o que levou a essa revolução? Como devemos entender essa transformação radical dos últimos 60 anos? Bem, suas evidências estão no nosso dia a dia, frequentemente traduzidas em apelação à figura sexual no cinema e em propagandas. Em geral, este é o resultado de muito mais coisas do que costumamos pensar. É importante considerar bem essa questão para que possamos enfrentar os desafios que essa cultura contemporânea apresenta.

A revolução é um acontecimento complexo e que envolve diferentes causas. Em um aspecto material, pode-se destacar a urbanização, a qual propiciou o anonimato que leva à liberdade sexual; e o desenvolvimento da tecnologia contraceptiva, a qual alavanca a atividade sexual extraconjugal. Mas, talvez ainda mais importante de se notar: no âmbito imaterial, percebe-se uma mudança de mentalidade que nasceu do processo moderno de secularização, isto é, da ideia de que construir ciência, moralidade e sociedade longe de quaisquer pressupostos religiosos.

Este é um ponto de concordância e divergência entre analistas cristãos e não cristãos. A concordância está no fato de que esta “liberdade sexual” é resultado da ruptura com o teísmo cristão, pois este diz que o sexo deve ser encarado com moderação reverente, não sendo mera mecânica fisiológica, mas expressão da revelação de Deus; e por também afirmar que o casamento heterossexual e monogâmico deveria ser o único ambiente para as relações sexuais. Mas há uma divergência no juízo de valor: os analistas contrários afirmam que este é um momento de aperfeiçoamento e aprimoramento da sexualidade, embora, muitas vezes, percebam os efeitos devastadores da defesa de tal posição, os quais prenunciam a derrocada da sociedade.

Vale ressaltar também que a visão de sexualidade que a cultura propõe expressa outras ideias religiosas. Geralmente acredita-se que é possível construir sexualidade (ou cultura) longe de pressupostos religiosos. Contudo, um dos pressupostos básicos da antropologia cristã é que somos seres religiosos criados para crer e adorar, e tudo que fazemos, inclusive a maneira de se relacionar com a sexualidade, é reflexo do que adoramos.

Mas afinal, quais religiões estariam na base da moralidade sexual contemporânea? São duas, diferentes por fora, mas idênticas por dentro. Primeiro, o secularismo. Ele se apresenta como algo não religioso, mas é escancaradamente antropocêntrico e propõe que a soberania do homem e a felicidade e o bem estar temporal humano são prioridades. Perceba os termos religiosos: soberania e felicidade. O segundo, o neopaganismo, um conjunto de crenças que se estabelece na modernidade a partir da influência de certas religiões orientais. Este, diferente do primeiro, não é escancaradamente antropocêntrico, mas se preocupa com pessoas, com a natureza, etc. Antes de chegar no antropocentrismo, passa pela impessoalização de Deus. E eis aqui o maior problema: quando Deus se torna impessoal, as únicas pessoas que sobram para tomar decisões somos nós mesmos.

É comum que defensores dessa revolução, em algum momento, tenham sido adeptos de algum tipo de paganismo que defende tudo que é oposto à fé cristã: que existe uma divindade impessoal, que não se distingue das duas criaturas, um deus que se dilui no meio dos outros seres; logo, não há distinção nem hierarquia e, consequentemente, não há fronteiras. Nem sempre é algo consciente, mas o fato é: isso é mais que um conjunto de ideias ou comportamentos; há uma espiritualidade antropocêntrica que encontra justificativa em religiões pagãs. Na batalha contra a sexualidade contemporânea, não estamos enfrentando apenas outra ideia ou comportamento, e sim outra religião. Sob a aparência da liberdade e tolerância está o paganismo.

E agora? Isso tudo tem duas implicações práticas. A primeira, em âmbito mais individual: a saúde da nossa vida sexual está diretamente relacionada com nossa vida espiritual e na relação com Deus. A segunda, em âmbito mais coletivo: não podemos deixar de lado as armas espirituais que Deus fornece para esta batalha. Muitas vezes experimentamos um cristianismo muito introspectivo, voltado para o devocional, e não uma vida de serviço a Deus no mundo. Mas pode ser perigoso se não entendermos a natureza da batalha. Será que o que precisamos é só ocupar espaços? Será que a batalha é só intelectual? Se respondermos sim, já entraremos derrotados, pois a batalha é espiritual e, em batalhas espirituais, a única arma eficaz é a que Deus oferece.

https://voltemosaoevangelho.com/blog/2020/09/pureza-sexual-vs-neopaganismo-sexual/