Para pesquisador americano, treino é responsável por apenas uma parte do sucesso: aptidão natural e idade também podem ser determinantes
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12 jun 2013, 15h47 - Atualizado em 6 maio 2016, 16h19
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Deliberate practice: Is that all it takes to become an expert?
Onde foi divulgada: periódico Intelligence
Quem fez: David Z. Hambrick, Frederick L. Oswald, Erik M. Altmann, Elizabeth J. Meinz, Fernand Gobet e Guillermo Campitelli
Instituição: Universidade Estadual de Michigan, EUA, e outras instituições
Dados de amostragem: quatorze estudos sobre a relação entre prática e performance
Resultado:
O tempo de prática de cada pessoa contribuiu para apenas um terço dos resultados obtidos nas mesmas atividades.
Contrariando o ditado popular de que “a prática leva à perfeição”,
uma pesquisa americana demonstra que anos de treino não são o suficiente
para alcançar o sucesso. De acordo com os resultados de um estudo
liderado por Zach Hambrick, do departamento de psicologia da
Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, o tempo de
dedicação responde por apenas um terço do sucesso atingido por uma
pessoa.
“Não há como negar a importância do treino para se tornar um
especialista”, diz Hambrick, em entrevista ao site de VEJA. “Mas o
processo não se resume a isso. Outros fatores contribuem para explicar
por que algumas pessoas se tornam bem-sucedidas em algumas atividades, e
outras não.”
O estudo, publicado no periódico Intelligence, analisa as
conclusões de quatorze trabalhos que procuraram identificar a relação
entre a prática e o desempenho de indivíduos em duas atividades: xadrez e
música. Segundo Hambrick, viu-se que o tempo dedicado aos exercícios
explica apenas um terço das diferenças entre as performances.
O que estaria por trás dos outros dois terços ainda não está claro.
Uma hipótese levantada por Hambrick é de que inteligência e aptidões
naturais influenciam no sucesso de cada um, assim como a idade em que se
começa a praticar uma determinada atividade.
10.000 horas não bastam – Hambrick refuta a popular teoria das 10.000 horas de prática, divulgada em 2008 por Malcolm Gladwell em seu livro Fora de Série Outliers – Descubra Por Que Algumas Pessoas Têm Sucesso e Outras Não
(Ed. Sextante). Baseado em pesquisas que tentavam desvendar as razões
do sucesso de grandes compositores, cantores e outras personalidades
consideradas geniais, o escritor descobriu um ponto comum: todos eles
exerceram seus ofícios por, no mínimo, 10.000 horas.
“A regra das 10.000 horas é puro mito. A quantidade de prática
necessária para se tornar um especialista varia muito de pessoa para
pessoa”, afirma Zach Hambrick. Em outras palavras, as características
pessoais são capazes de explicar os casos em que indivíduos não tão
dedicados ao treino conseguem alcançar níveis de excelência em algumas
atividades.
O especialista responde
Zach Hambrick
Professor do departamento de psicologia da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos
Homens e mulheres têm a mesma capacidade de aprender?
Há diferenças muito bem documentadas entre homens e mulheres para
algumas habilidades cognitivas. Por exemplo, homens tendem a se sair
melhor do que as mulheres em alguns testes de habilidade espacial,
enquanto as mulheres tendem a ser melhores em testes de habilidade
linguística. Isso pode contribuir para diferenças de gênero na hora de
alcançar o sucesso em alguma atividade, mas há muitos outros fatores que
também desempenham papéis importantes nesse sentido. Dizer que nós
podemos, por exemplo, explicar diferenças de gênero nos objetivos
acadêmicos, com base nessas diferenças em habilidades básicas, seria um
exagero. Também é muito importante ter em mente que essas desigualdades
que citei não costumam ser muito grandes. Isso significa, por exemplo,
que em uma determinada amostragem, uma mulher é perfeitamente capaz de
conseguir a pontuação mais alta em um teste de habilidade espacial,
mesmo que essa habilidade esteja mais presente nos homens.
Nossa capacidade de aprender diminui conforme envelhecemos?
Algumas habilidades cognitivas diminuem conforme envelhecemos – em
particular, habilidades cognitivas envolvidas nos processos de tomar
decisões e resolver problemas. A diminuição dessas habilidades pode
causar um impacto negativo em algumas situações. A boa notícia é que as
habilidades cognitivas “cristalizadas”, relacionadas ao conhecimento e
ao aprendizado por meio de experiências, continuam estáveis, e podem até
aumentar com o passar dos anos.
A genética está relacionada a essas habilidades?
Sim, nossos genes desempenham um importante papel nas nossas
habilidades. Sabemos que aproximadamente metade das diferenças entre as
habilidades cognitivas das pessoas têm origem genética.
A falta de talento para uma determinada atividade impossibilita alcançar a excelência?
A prática pode ajudar as pessoas a irem longe na maioria dos casos.
Mas a falta de algumas habilidades básicas pode, sim, limitar o
desempenho.
http://veja.abril.com.br/ciencia/so-a-pratica-nao-leva-a-perfeicao-diz-estudo/
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