Gregory A. Wills 18 de Julho de 2016 - Práticas da Igreja
Cento e cinquenta anos atrás, John
Dagg sugeriu que “quando a disciplina abandona a igreja, Cristo abandona
com ela”. Nesse tempo, os batistas e a maioria dos outros evangélicos
praticavam uma meticulosa disciplina eclesiástica. Pelos próximos
cinquenta anos, a maioria dos evangélicos abandonou a prática. Por pelo
menos três gerações até agora, igrejas evangélicas no ocidente têm
negligenciado essa prática. Ainda durante esse período, o Senhor
abençoou muitas dessas igrejas de formas espirituais e materiais. Então,
Dagg estava certo?
Sentimos que Dagg deveria estar certo, mas...
Não duvidamos em sentir que Dagg deveria
estar certo. Negligenciar a disciplina eclesiástica é desobedecer a
Jesus Cristo. O Senhor ordena que as igrejas exercitem a disciplina em
Mateus 18.15-17, como também em muitas outras passagens no Novo
Testamento. Ainda assim, Cristo evidentemente não abandonou ainda nossas
igrejas evangélicas, a despeito do fato que nossas igrejas têm
abandonado a disciplina. Esse fato nos lembra que não há uma simples
correlação entre uma desobediência da igreja de um lado e do outro,
ferrugem espiritual e abandono de Cristo. Nosso Senhor julga nossa
desobediência no tempo e na medida da sua sabedoria.
Um fator que pode ter atrasado o
julgamento de Deus é que nossas igrejas são fiéis em áreas significantes
do serviço evangélico. De fato, nossa ambição de espalhar o evangelho
tem sido um obstáculo para obedecer a Cristo na questão da disciplina.
Muitos pastores e membros das igrejas temem que disciplinar membros
desobedientes resultará em mais prejuízo do que vantagem para o avanço
do evangelho. Afugentará “boas” famílias envergonhadas e com raiva, e
nos renderá um motivo de chacota e desgosto entre os descrentes, que
enxergam a disciplina como bárbara e contrária ao senso comum de
compaixão. Nossas igrejas negligenciam a disciplina com medo que a
prática prejudique a causa de Cristo.
Mas mesmo com nossos motivos virtuosos,
desobediência ainda é desobediência, e seremos chamados a prestar
contas. O fato de que o Senhor mostrou misericórdia e paciência em
direção às igrejas desobedientes não é desculpa para sua desobediência.
Estamos presumindo com base na misericórdia do Senhor e não tememos seu
julgamento.
A negligência da disciplina
eclesiástica, entretanto, expõe ao perigo a igreja de outras formas
fundamentais. A perda da disciplina eclesiástica diminui as fundações da
própria igreja.
Enfraquecendo as fundações da igreja
Igrejas que falham em praticar
disciplina enfraquecem seu caráter regenerativo. Ao omiti-la, toleram um
comportamento pecaminoso em sua membresia e fazem de si lugares
confortáveis para não-regenerados.
Igrejas que falham em aplicar disciplina
enfraquecem também a santidade da igreja, visto que isso enfraquece os
crentes na sua luta contra o pecado. Jesus deu a disciplina como um dos
remédios do evangelho, sem o qual nossa santificação irá se afrouxar.
Aplicar disciplina eclesiástica para nossas doenças pecaminosas
fortalecerá cristãos em sua batalha durante a vida com Satanás, o mundo e
a carne.
Igrejas que falham em praticar
disciplina enfraquecem posteriormente sua espiritualidade, zelo e
devoção ao Salvador. Disciplina ensina à igreja a obedecer ao Senhor em
uma área que é desagradável, aborrecível e contrária às sensibilidades
gerais da cultura. Ao exercitar a disciplina, comprometemo-nos à forma
espiritual de Cristo, mesmo quando a razão, compaixão e civilidade
parassem argumentar que devemos não obedecer. Cristãos, dessa forma,
aprendem a confiar na sabedoria de Cristo em vez da sabedoria do mundo.
Eles aprendem a obedecer a Cristo apesar das consequências
desconfortáveis.
Ao negligenciar a disciplina, treinamos
nós mesmos para não tomar a cruz, não temer ao Senhor, não sofrer
desejosamente por causa de Cristo e não nos opormos ao mundo. E uma vez
bem treinados por negligenciar a disciplina eclesiástica, as igrejas
perderão seu comprometimento ao evangelho em si.
Quando a igreja abandona a disciplina, ela abandona Cristo
Isso foi o motivo pelo qual Dagg disse
que quando disciplina abandona uma igreja, Cristo abandona com ela.
Entretanto, talvez seja mais preciso dizer que quando uma igreja
abandona a disciplina, ela abandona Cristo. Igrejas não pretendem
abandonar Cristo e talvez não façam isso inteiramente. Mas por
negligenciar a disciplina, elas começam a colocar um entrave entre elas e
Jesus.
Em adição, o princípio sobre o qual elas
abandonaram a disciplina age como fermento, trabalhando mais amplamente
para enfraquecer o comprometimento da igreja a Cristo e sua habilidade
de tomar sua cruz e segui-lo. Elas se conformam cada vez mais ao mundo. É
só uma questão de tempo antes de Cristo abandoná-las.
No Novo Testamento, o Senhor julgou
igrejas que toleraram ofensas contra a lei de Deus. A igreja de Corinto
observou a Ceia do Senhor de forma pecaminosa por tolerar imoralidade,
divisões, parcialidade e desprezo entre os membros. Portanto, Deus
visitou algumas delas com doença e outras com morte (1Coríntions 11.30).
O texto grego e o contexto sugerem que a falha delas não foi tanto uma
falha em reconhecer a presença de Cristo, “discernir o corpo”, mas foi
uma falha de disciplina, “julgar o corpo” (1Coríntios 11.29). Em todo
caso, há uma conexão direta entre a tolerância da igreja dos Coríntios
de comportamento pecaminoso e o julgamento de Deus sobre eles.
Jesus repreende as igrejas que
desobedeceram seu mandamento de praticar a disciplina eclesiástica
fielmente. Ele admoestou as igrejas de Pérgamo e Tiatira porque elas
negligenciaram a disciplina eclesiástica (Apocalipse 2.14-15, 20). A
igreja de Pérgamo tolerou aqueles que mantinham “o ensino de Balaão” e
outros que mantinham o “ensino dos Nicolaitas”. A igreja de Tiatira
tolerou a falsa profetisa. Ele lhes ordenou a se arrependerem, o que só
poderia ser alcançado através da disciplina eclesiástica. Não sabemos ao
que se estendeu o arrependimento desses pecados da falha de
disciplinar. Entretanto, sabemos que Jesus julgou essas igrejas em
última instância ao abandoná-las.
Se nos recusarmos a arrepender-se
Se nossas igrejas se recusarem a se
arrepender de tolerar pecado não arrependido entre nossos membros,
podemos esperar julgamento. Portanto, que nós não mais presumamos
baseado na misericórdia do Senhor. Que nós consideremos bem a reprovação
do Senhor para igreja de Sardes em Apocalipse 3.1-3 para nossas
igrejas:
“Ao anjo da igreja em Sardes escreve:
Estas coisas, diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete
estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás
morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque
não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu
Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e
arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não
conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti.”
Nessa hora descobriremos que Dagg estava certo.
Tradução: Matheus Fernandes
Revisão: Yago Martins
Original: Was Dagg Right?
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