A matéria de capa da revista TIME
desta semana fala sobre uma nova iniciativa contra a pornografia na
internet. Esses ativistas antipornografia, no entanto, não são os
moralistas caricatos que mordem os lábios de raiva quando falam desse
assunto. Ao contrário, são jovens que afirmam que a pornografia
compromete o desempenho sexual na vida deles.
A capa chamou a minha atenção porque
tenho visto uma situação similar apresentar-se muitas vezes com casais
que procuram aconselhamento pastoral comigo. Em uma versão típica de tal
cenário, um jovem casal busca ajuda porque pararam de ter relação
sexual. Neste cenário típico, o marido é alguém que não consegue manter o
interesse no sexo. Quando se faz as perguntas certas, descobre-se que
ele está profundamente mergulhado na pornografia desde a adolescência.
Não é que ele não possa, nessas situações, alcançar a mecânica do sexo
para executá-lo. É que ele constata que a intimidade com uma mulher da
vida real deve ser, na palavra que emerge repetidamente, “estranha”.
Muitos desses homens só conseguem fazer sexo com suas esposas repetindo
as cenas de pornografia em suas mentes enquanto o fazem.
O que está acontecendo aqui, então? Por
que parece que a pornografia, em última instância, mata a intimidade
sexual? Há muitas explicações psicológicas, para ser exato. A
pornografia dessensibiliza a pessoa para o estímulo sexual, alimenta a
busca por inovações intermináveis e cria um roteiro de expectativas que
não atendem – e não podem atender – à dinâmica real do relacionamento
pessoal. Mas penso que há algo mais acontecendo aqui.
A fim de entender o poder da
pornografia, precisamos perguntar por que Jesus nos advertiu que a
luxúria é errado. Não é porque o sexo é um assunto embaraçoso para Deus
(vide Cantares de Salomão). Deus concebeu a sexualidade humana não para
isolar, e sim para ligar. A sexualidade foi feita para unir esposa e
marido e, satisfeitas as condições, resultar em novidade de vida,
conectando, assim, gerações. A pornografia rompe essa conexão,
convertendo o que foi feito para o amor íntimo e encarnacional em
solidão masturbatória. A pornografia oferece uma emoção psíquica e uma
liberação biológica tencionada para a comunhão no contexto da liberdade a
partir da conexão com o outro. Ela não pode manter essa promessa.
Quando a pornografia adentra no
casamento, o resultado é vergonha. Não estou me referindo ao sentimento
de vergonha (embora isso possa fazer parte dela). Refiro-me a algo que
está, no nível mais íntimo, oculto. Há algo dentro de nós que sabe que a
sexualidade é para outra coisa que não a manipulação de imagens e
partes do corpo.
A pornografia mata a sexualidade porque ela não é apenas sobre sexo e porque o próprio sexo não é apenas sobre sexo.
Na antiga cidade de Corinto, o aviso foi
dado acerca das prostitutas nos templos pagãos da cidade. Elas eram
pagas para a atividade sexual sem compromisso; eram parte de um sistema
cúltico que atribuía quase todos os poderes místicos ao orgasmo. Em quê
isso difere da indústria pornográfica de hoje? O apóstolo Paulo advertiu
que as implicações de cometer imoralidade com essas prostitutas não
eram apenas uma questão de consequências relacionais ruins ou um mau
testemunho de Cristo mundo afora (embora estas questões também fossem
verdade). Quem se juntava a uma prostituta participava de uma realidade
espiritual intangível, ao unir Cristo à prostituta, ao tornar-se um com
ela (1Co 6.15-19). Uma vez que o corpo é o templo do Espírito Santo, a
imoralidade sexual não é apenas uma “safadeza” – é um ato de profanação
do templo, de trazer um culto profano para dentro de um lugar santo do
santuário (1Co 6.19).
A pornografia não é apenas imoralidade – é ocultismo.
É por isso que a pornografia possui uma
atração tão forte. Ela não é uma questão meramente biológica (embora
isso seja importante). Se existem, como a Bíblia ensina, espíritos maus
vivos no cosmos, então a tentação envolve mais coisas do que
simplesmente estar no lugar errado na hora errada. O cristão professo,
não importa quão insignificante ele ou ela se sinta, é um alvo de
interesse. A imoralidade sexual parece apresentar-se aleatoriamente
quando, de fato, como com o jovem de Provérbios, é parte de uma
expedição de caça cuidadosamente orquestrada (Pv 7.22-23).
A vergonha que surge na consciência como
resultado de um episódio pornográfico – ainda mais uma vida inteira de
tais práticas – só pode levar à quebra da intimidade na união em uma só
carne do casamento. Desde o início da história humana, a vergonha
perante Deus conduz à vergonha de um para com o outro (Gn 3.7-12). A
nudez (intimidade), concebida para parecer natural, agora parece
dolorosa e vulnerável – ou, como muitos homens têm colocado, “estranha”.
Se isso descreve você, dificilmente você
está sozinho. O casamento é sempre difícil, sempre uma questão de
guerra espiritual (1Co 7.5). A fim de lutar, a pessoa deve, primeiro,
tratar a vergonha – o que significa arrepender-se do desejo de manter
tudo escondido. Procure um presbítero confiável em sua igreja, e busque
ajuda.
Os jovens que procuram insurgir-se
contra a pornografia com a qual cresceram devem ser elogiados. Mas a
pornografia é uma isca poderosa demais para ser combatida apenas pela
força de vontade ou pelos movimentos sociais por si sós. Precisamos
levar as cargas um do outro, por meio do vigor do Espírito Santo dentro
do novo templo da igreja. Isso começa com ser honesto acerca do que a
pornografia é – e o que ela faz.
http://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/04/por-que-pornografia-mata-o-sexo/
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