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Sumário
Introdução — Pressupostos
O Primeiro Mandamento — Religião
O Segundo Mandamento — Adoração
O Terceiro Mandamento — Revelação
O Quarto Mandamento — O Sabath
O Quinto Mandamento — Autoridade
O Sexto Mandamento — Vida Humana
O Sétimo Mandamento — Pureza
O Oitavo Mandamento — Propriedade
O Nono Mandamento — Verdade
O Décimo Mandamento — Desejo
***
Introdução — Pressupostos
1. O principal pressuposto da lei moral é o
teísmo Cristão. A única pergunta suprema que aparece momentaneamente
quando a lei é tema de discussão é se a lei é autossuficiente ou se ela
repousa sobre personalidade absoluta. A questão colocada desta maneira,
obriga-nos a ser ou teístas Bíblicos ou Pragmáticos. Lei que não repousa
na personalidade absoluta deve ter se originado a partir do continuum
espaço-tempo de um universo autossuficiente e é, por esse motivo,
suficiente em si mesma. A questão entre o teísmo Cristão e outro
pensamento não é o de personalidade, porque isso pode significar não
mais do que a lei ser baseada na personalidade humana, ou pelo menos,
personalidade finita. As Escrituras contemplam a lei como o anúncio de
Deus como personalidade absoluta.
Como corolário deste pressuposto segue-se
que a totalidade do universo espaço-temporal é criada por Deus. As leis
que existem neste universo criado são manifestações do plano de Deus. A
uniformidade da natureza sobre a qual a ciência tanto fala não existe em
independência de Deus, mas existe como uma expressão de um Deus que
ordena. Deus é imanente em Sua criação. Se alguém quebra uma lei da
natureza, quebra uma lei de Deus. A indiferença para com qualquer lei,
seja essa lei física ou normal, é uma ofensa a Deus. Definir a lei em
oposição a Deus é como colocar uma criança em oposição ao seu pai. Esse
foi o pecado do Deísmo. Por outro lado, um Deus absoluto não pode ser
identificado com a lei no universo temporal. John Fiske tenta
interpretar a teologia de Atanásio desta forma, a fim de mostrar que o
“Teísmo Cósmico” é realmente o teísmo bíblico.[1]
Se a interpretação de Fiske fosse verdadeira, a personalidade absoluta
teria que ser — embora isso seja impossível — negada pelo teísmo.
Identificar a lei com Deus é identificar uma criança com seu pai. Esse
foi o pecado do Panteísmo.
Novamente segue-se a partir do pressuposto
teístico de um Deus absoluto que a lei na história é expressiva de um
propósito de Deus. Outrossim, uma visão deísta da história envolve uma
separação arbitrária de Deus e das leis na história incorrendo na
destruição de ambos. Por outro lado, uma visão panteísta da história
envolve uma identificação arbitrária de Deus com as leis da história, o
que também incorre na destruição de ambos. Tanto o Deísmo quanto o
Panteísmo buscam elevar a lei, mas ambos destroem a lei em sua tentativa
de elevação. O Teísmo, ao elevar a Deus, também elevou a lei. Nem o
Deísmo nem o Panteísmo podem dizer que a violação da lei é um insulto a
Deus, uma vez que ambos identificaram a lei com Deus. Eles devem,
portanto, dizer que a violação da lei é a violação de Deus, ou seja, a
negação de que Deus existe. Quando isso é feito, a autoridade da lei se
vai e a sua respeitabilidade não pode durar muito.
A autoridade absoluta é, portanto,
característica de e implícita na concepção da lei, no sentido teísta.
“Porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”, não é um
comando arbitrário. Qualquer criatura pecando contra a lei pecou contra
um Deus absoluto e uma absoluta separação de Deus naturalmente se segue.
Assim também a condição da existência do
homem e do seu realizar seu destino é um completo cumprimento da lei de
Deus por parte do homem. O Deísmo e o Panteísmo podem dizer que é
aconselhável ao homem ser obediente à lei, uma vez que ao fazê-lo, ele
fará um progresso mais rápido do que o faria de outra forma, mas apenas o
teísmo pode dizer que o homem destrói a si mesmo se ele é desobediente à
lei.
Por assim adulterar a lei, o Deísmo e o
Panteísmo estão brincando com fogo. Mais do que isso, a fim de
sustentarem os seus pontos de vista relativistas da lei, eles devem
primeiro sustentar uma visão relativista de Deus; eles brincam com fogo e
estão eles próprios em chamas. Segundo, isso nos leva ao segundo
pressuposto da lei moral, ou seja, o caráter restaurador e suplementar
do Cristianismo. O Cristianismo exige ser restaurador e suplementar em
um teísmo original. Apenas no Cristianismo o homem se encontra com um
Deus absoluto. No que diz respeito à questão da lei, isso significa que
apenas o teísmo Cristão pode falar de lei absoluta ou lei com autoridade
absoluta.
O Cristianismo implica que o homem quebrou
a lei devido ao pecado. Com isso, ele ipso facto destruiu a própria
condição de sua existência e trouxe punição eterna sobre si mesmo. O
homem tornou-se um Deísta ou um Panteísta. Se o homem deveria viver, em
absoluto, ele deveria ser restaurado quanto ao respeito e obediência à
lei. Cristo realizou esta restauração. Através de Seu sofrimento, Ele
satisfez a penalidade da lei. Mais do que isso, por meio de Seu ativo e
completo cumprimento da lei, Ele supriu a perfeição original do homem,
para que aqueles que estão em Cristo sejam herdeiros da vida eterna, sem
falha. Através da Sua Palavra e Espírito, Cristo fez “Seus próprios”
participantes da Sua relação correta com a lei.
O homem deve receber o conhecimento da lei
a partir das Escrituras. Originalmente, o homem encontrou na
experiência a manifestação e a resposta espontânea à lei de Deus, mas
desde a entrada do pecado, teve que ser dada uma manifestação objetiva, e
uma resposta renovada à lei. A Escritura, como algo concomitante a
Cristo, concede a manifestação objetiva da lei absoluta e o Espírito de
Cristo dá ao homem a renovada resposta subjetiva quando a lei é vista.
Somente os verdadeiros Cristãos são verdadeiros teístas. Apenas os
verdadeiros Cristãos conhecem e obedecem a lei.
Para ilustrar o ponto do parágrafo
anterior, podemos contrastar a concepção Cristã e Kantiana sobre a lei. A
razão para escolher Kant é que ele é mui geralmente pensado ter um
maior respeito pelo caráter absoluto da lei do que até mesmo um Cristão
poderia ter. Se Kant for encontrado ser antiteísta, a maioria das outras
filosofias serão certamente assim. Em primeiro lugar, então, quanto à
origem do conhecimento do homem sobre a lei Kant olha “para dentro”,
enquanto o Cristão olha para a Escritura. Kant pensa que é possível
entrar mediatamente em contato com a lei absoluta, enquanto o Cristão
afirma que o homem, por ser agora um pecador, deve buscar imediatamente
entrar em contato com a lei absoluta. Em outras palavras, Kant nega que o
pecado separou o homem de Deus e, portanto, também de um verdadeiro
conhecimento e respeito pela lei. Consequentemente, Kant nega que o
Cristianismo é objetiva e subjetivamente restaurador de um verdadeiro
teísmo. O “mal radical” de Kant não é radical em absoluto em comparação
com a concepção do pecado como entretida pelo Cristão. O mal radical de
Kant é apenas uma má relação. Que isto é assim é ainda mais claro se em
segundo lugar, observamos que a recusa de Kant de uma epistemologia
Bíblica como falada acima envolve e baseia-se no relativismo em
metafísica. Buscar a solução do mal na experiência, porque alguém
considera-o como um ingrediente erradicável e inerente a toda
experiência possível, é negar qualquer Experiência que seja absoluta. O
mal é destrutivo da coerência e qualquer experiência absoluta deve ser
completamente coerente. Daí, dizer que o mal é inerente a toda
experiência possível é negar o absoluto de Deus e, portanto, o caráter
absoluto da lei. Assim, o “du sollst” de Kant é reduzido ao nível de conselhos pragmáticos. Somente o Cristianismo sabe algo sobre uma lei absoluta.
As observações anteriores podem ajudar-nos
a compreender a profundidade inclusiva da lei, como promulgada nas
Escrituras. Deus dirige-Se ao homem genericamente, embora diretamente ao
“Seu povo” somente. Todos os homens desobedeceram a lei, ainda assim,
todos os homens devem obedecer à lei. O fato de que o comando vem
diretamente ao “povo de Deus” só é devido à economia da redenção, e não
por qualquer diferença de obrigação entre uma nação e outra. Deus lida
com o homem genérica e federalmente. Novamente, se é verdade que, tanto
quanto a demanda essencial da lei está em causa, não há diferença entre o
crente e o não-crente; é, se possível, mais verdade que a demanda de
Deus é a mesma para o povo de Deus em todas as eras. As várias etapas na
economia da redenção não afetam no mínimo os requisitos da lei de Deus.
As várias etapas da economia da redenção, na medida em que
relacionam-se à lei, têm a ver apenas com a forma da lei. Durante a
antiga dispensação houve uma ênfase no exterior e no nacional. Durante a
nova dispensação, a ênfase é sobre o interno e o universal. Durante o
Antigo Testamento, a lei foi dada, em muito, externamente. Muitas leis
cerimoniais foram elevadas, tanto quanto a necessidade de obediência
está em causa, a uma igualdade com os Dez Mandamentos. Por outro lado,
este grande detalhe exterior desapareceu desde a aparição de Cristo,
porque com Ele é dada ao Seu povo uma revelação objetiva mais clara e
mais central da lei de Deus e uma mais profunda, e mais ricamente
espiritual e, portanto, uma resposta subjetiva mais central à lei de
Deus. Assim, na nova dispensação, pode tornar-se necessário, a fim de
viver de acordo com a exigência verdadeiramente espiritual de uma
perfeita obediência, acabar com muitos dos detalhes exteriores da forma
da lei do Antigo Testamento. Paulo diz que é uma negação da obra de
Cristo agarrar-se às exigências do Antigo Testamento depois da vinda de
Cristo. O caso é semelhante no que diz respeito ao nacionalismo do
Antigo Testamento. Esse nacionalismo não é uma negação essencial do
alcance universal da lei. Daí o universalismo do Novo Testamento não se
opõe ao nacionalismo do Antigo Testamento, mas é apenas um florescimento
dele.
E se é verdade que, tanto quanto a
manifestação objetiva da lei está em causa, não há diferença essencial
entre a Antigo e a Nova dispensação, isso é igualmente verdade com a
resposta subjetiva em cada caso. Não é mais verdade do Antigo Testamento
do que do Novo que uma mera observância exterior da lei era suficiente.
A lei de Deus é sempre espiritual e exige sempre o amor a Deus como o
motivo para a sua realização. Daí, também, não é verdade que a
obediência à lei era uma exigência do Antigo Testamento, enquanto no
Novo Testamento o amor foi substituído pela obediência. A obediência é
amor e o amor é obediência, e somente eles podem responder adequadamente
a uma lei espiritual.
O mesmo ponto em que não há diferença real
entre o povo do Antigo e Cristãos dos dias atuais no que diz respeito à
lei de Deus pode ser ilustrado também apontando para a unidade
essencial da lei e do Evangelho. Há uma grande diferença entre eles,
tanto quanto a economia da redenção está em causa. Disso João fala
quando diz que a lei veio por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por
Jesus Cristo. Mas o próprio conteúdo do Evangelho é que Cristo cumpriu a
lei. Assim, a alegria do Evangelho é que o homem pode, em Cristo,
conhecer e obedecer à lei e, portanto, viver na presença de Deus para
sempre. Não há Evangelho, senão o que é da lei. Por outro lado, o
Evangelho é lei, porque todos devem obedecê-lo. Em resposta à pergunta
dos judeus, quanto ao que eles devem fazer para realizar as obras de
Deus, Jesus responde que eles devem crer no nome do Filho de Deus.
Ainda mais, se não houver diferença
essencial, mas apenas uma diferença econômica entre a promulgação e a
resposta à lei na Antiga e na Nova dispensações, segue-se que a forma em
que a lei pode vir não pode ser usada como um argumento a favor ou
contra a validade da lei. A forma de propagação da lei no Antigo
Testamento era necessariamente exterior e temporal. As promessas e as
ameaças, por exemplo, dizem respeito às coisas desta vida. A longa vida
em Canaã debaixo da videira e da figueira constituíam a essência da
promessa, enquanto a morte corporal era a substância da punição sob a
Antiga dispensação.
Mas esse fato não fez a lei menos
espiritual. Canaã aqui embaixo era, como Abraão viu, profética da futura
Canaã, e a morte física é para um pecador não-reconciliado o portão de
entrada para a morte exterior. Isso não negará devidamente o significado
universal e permanente do mandamento que promete aos filhos uma vida
longa e terrena se eles forem obedientes aos pais pelo fato de que é
manifestamente uma promessa do Antigo e não do Novo Testamento. O
cumprimento dessa promessa pode não vir em uma mesma forma agora, como
uma vez veio, mas o cumprimento não é menos real ou certo.
Um outro ponto deve ser mencionado quanto à
forma da lei dada no Antigo Testamento, e este é que a lei diz
constantemente, “tu não irás” em vez de “tu irás”. Por que essa forma
negativa? Para responder a esta pergunta, devemos recordar o caráter
geral do Cristianismo como restaurador de um teísmo original.
Originalmente não havia razão para essa ênfase negativa. O homem
espontaneamente obedecia a lei e na medida em que não havia ocasião para
Deus adicionar mandamentos pela comunicação direta com o que foi dado
ao homem pela criação, as formas positivas e negativas de dar tais
mandamentos poderiam ser equilibradas. Mas com a entrada do pecado, o
homem constantemente evitou e quebrou a lei de Deus. Além disso, a sua
ignorância da verdadeira lei aumentou. Portanto, se Deus deveria trazer a
Sua lei ao conhecimento e obediência do homem, Ele tinha que dizer mais
vezes o que o homem não deve fazer do que o que ele deveria fazer. A
criança, porque é uma criança pecadora, tentará ser uma lei em si mesma.
É impossível, então, que os pais não devam dizer mais frequentemente
“não faça” do que “faça”.
No entanto, este fato não deve nos cegar
para a verdade de que é a obediência positiva, o positivo cumprimento do
bem, e não apenas uma abstenção negativa do mal que Deus requer. Por
conseguinte, é necessário que nós façamos dessa demanda positiva da lei
de Deus, o nosso ponto de partida. Devemos perguntar, no caso de cada
mandamento o que é que Deus quer do homem, a fim de usá-lo como um
padrão pelo qual julgar o quão longe o homem ficou aquém de satisfazer
essa demanda.
Quanto ao método, isso é o oposto da
filosofia moderna e da psicologia das escolas religiosas. Eles trabalham
com a suposição de que o mal é tão básico quanto o bem no homem e no
universo. Daí eles simplesmente traçam o caminho pelo qual o homem com o
auxílio da lei permitiu a si mesmo escapar um pouco do controle
completo do mal. Do ponto de vista deles, é o máximo do dogmatismo
pressupor que o mal neste universo é devido a uma deserção humana a
partir de um Deus absoluto. Nós, por outro lado afirmamos que, a menos
que isso seja verdade não existe uma lei em absoluto e toda a moralidade
carece de fundamento. Por isso, não podemos fazer diferente, senão
seguir o caminho exigido pelo pressuposto central do teísmo.
A Lei Moral
Antes de iniciar a discussão sobre o
Primeiro Mandamento devemos ter claramente em mente não só o que se
entende por lei em geral, mas o que se entende por lei moral. Nós
propositadamente não fizemos distinção entre os tipos de lei até este
ponto, a fim de chamar a atenção para o fato de que um teísta considera
toda lei de forma diferente do que um não-teísta. Mesmo lei física ou
natural significa algo completamente diferente para um teísta Cristão do
que ela significa para um antiteísta. De acordo com o teísmo, o homem
vive e se move e tem a sua existência em uma atmosfera da lei de Deus,
tanto em relação ao seu corpo quanto à sua alma. Viver neste ambiente
significava a sua liberdade, como significa liberdade que um peixe viva
em seu ambiente natural. Mas quando o homem quebrou a lei em um ponto,
ele quebrou em cada ponto. O moral e o físico estão inextricavelmente
interligados. Como profeta, sacerdote e rei, o homem deveria conhecer,
dedicar-se a Deus e governar para Ele todo o universo físico. Mas quando
o homem, devido ao pecado, tornou-se um profeta sem manto, um sacerdote
sem sacrifício e um rei sem coroa, ele trouxe o seu corpo, juntamente
com a sua alma e o universo ao seu redor, juntamente à ruína. Por outro
lado, com Cristo no mundo físico, assim como o corpo do homem bem como a
sua alma, são restaurados às suas relações normais para com a lei de
Deus.
Por esta maneira de conceber a relação
entre o físico e o moral estamos novamente em oposição ao pensamento
antiteístas que assume que não há nenhuma conexão entre o físico e o
moral. Em todas as discussões por escritores não-teístas sobre a
responsabilidade, enquanto a lei física está em causa, o homem pode ser
tanto um filho da fortuna ou do azar, e nada mais. Considera-se ser
obviamente ridículo pensar sobre a humanidade como se esta de alguma
forma fosse responsável pela fome ou peste. Mas, novamente, não podemos
fazer outra coisa senão sustentar o nosso ponto de vista, uma vez que
faz parte do teísmo Cristão, e o teísmo Cristão parece-nos a filosofia
de vida mais razoável a ser sustentada.
1) Lei Física e Moral
Sustentando, então, a estreita ligação
entre e a origem comum e a autoridade tanto da lei física quando da lei
moral, podemos, no entanto, distinguir entre elas. A lei física é a
ordenança de Deus para a criação não-responsável. A lei moral é a
ordenança de Deus para as suas criaturas racionais. No caso da lei
física, Deus não espera uma resposta autoconsciente, enquanto no caso da
lei moral, Ele espera. Na medida, então, que o homem é capaz — em
virtude de sua criação à imagem de Deus — de reagir conscientemente em
qualquer direção à lei de Deus, o homem age moralmente. Por agir
moralmente, nós apenas queremos dizer, neste caso, que ele age
conscientemente a respeito da lei de Deus. Nós não podemos mesmo dizer
que ele age moralmente apenas quando nos preocupamos com questões de
obrigação, enquanto que em assuntos intelectuais, a moralidade não
entra. O homem deve pensar direito, ou seja, ser um verdadeiro profeta; o
homem deve fazer direito; ou seja, ser um verdadeiro rei; e o homem
deve sentir direito, isto é, ser um verdadeiro sacerdote. No sentido
mais amplo do termo, então, toda a resposta autoconsciente à lei de
Deus, onde for revelada, é a ação moral. Quando o termo moral é usado,
ele é oposto a não-moral.
2) O Moral e o Religioso
Para o homem como um ser autoconsciente e
assim, ser que age moralmente, havia duas principais esferas de resposta
autoconsciente nas quais ele poderia obedecer à lei de Deus. Havia um
aspecto da lei geral de Deus para o homem que diz respeito mais
diretamente à relação do homem com Deus. Havia um segundo aspecto da lei
geral de Deus para o homem que diz respeito mais diretamente à relação
do homem para com o seu semelhante. Estes aspectos sobrepõem-se, mas é
certo que — na medido que em sentido último toda a lei é a lei de Deus —
há uma distinção relativa entre elas. Quando o homem obedecia ao
primeiro aspecto da lei, ele era verdadeiramente religioso e quando ele
quebrava este primeiro aspecto da lei ele era irreligioso ou falsamente
religioso. Quando o homem obedecia ao segundo aspecto da lei ele era
moral no sentido mais estrito do termo e quando o homem desobedecia ao
segundo aspecto da lei ele era imoral,[2]
no sentido mais estrito do termo. Quando, na linguagem comum, falamos
de um homem sem religião, que é aquele que não atende às devoções, não
dizemos que ele também é um homem imoral, isto é, que ele não pode ser
um bom pai e bom vizinho. Por outro lado, a Escritura e a experiência
concedem numerosas ilustrações daqueles que disseram que o bem que o seu
pai ou sua mãe poderiam aproveitar dele era corbã, e ainda assim se
diziam dedicados ao Senhor. O homem verdadeiramente moral também deve
ser um homem verdadeiramente religioso e o homem verdadeiramente
religioso, também deve ser um homem verdadeiramente moral. Um homem
imoral, por mais que ele pareça ser religioso, é, na verdade,
irreligioso, somente peca menos diretamente contra Deus do que aquele
que quebra abertamente a lei de Deus, na medida em que se refere
diretamente à relação do homem para com Deus.
Agora, com estas distinções em mente, ao
olhamos para o Decálogo ou lei “moral”, vemos que os primeiros três
mandamentos lidam principalmente com a religião. Por esta razão eles não
são estritamente os mandamentos que dizem respeito à moralidade. Ainda
assim, eles são partes da lei moral, no sentido mais amplo do termo,
desde que na Lei, Deus vem ao homem como um ser autoconsciente. Em
segundo lugar, notamos que os Mandamentos do Sexto ao Nono lidam mui
definitivamente com as normas da relação do homem para com seu
semelhante. Mas, novamente, isso não implica que a quebra de qualquer
uma ou todas essas leis não afeta a sua posição religiosa. A unidade da
lei, nos seus aspectos religiosos e mais definitivamente morais deve
sempre ser mantida em vista. O Quarto e Quinto mandamentos são de um
caráter misto, indicando a estreita união entre o religioso e moral,
enquanto o Décimo mostra claramente que uma e a mesma motivação produz a
verdadeira religião e a verdadeira moralidade.
O quão contrária esta maneira de conectar o
religioso e o moral é do temperamento moderno pode ser visto a partir
de um artigo de W. E. Pitkin na Century Magazine de outubro 1926, em: “Our Moral Anarchy”
(Nossa Anarquia Moral). Das quinhentas pessoas instruídas que
responderam a um questionário sobre o valor relativo dos vários
Mandamentos do Decálogo, não menos do que cento e dois relataram que
“eles não poderiam lidar com os Quatro Primeiros Mandamentos, porque na
sua opinião estes não têm nenhum valor moral”.[3]
Em seguida, havia um grande grupo que lidaria, em algum sentido, com as
duas tábuas da lei, mas que, pelo menos, fariam a segunda tábua da lei
vir em primeiro lugar. Como exemplo destes, ele fala dos Modernistas.
Deles, ele diz: “O que Jesus colocou em primeiro lugar, os modernistas
colocaram em segundo; e o que Jesus colocou em segundo lugar, os
modernistas colocaram em primeiro”.[4]
Adicione a estes os comunistas morais que professam que não se
preocupam com a primeira tábua da lei em absoluto e a declaração de
Pitkin que há cinco modernistas morais e dois socialistas para cada
fundamentalista moral e torna-se evidente que, como ministros Cristãos,
devemos salientar a irreligiosidade da religião sem moralidade e
ressaltar ainda mais a imoralidade da moral sem religião.
Não será possível tentar traçar as várias manifestações da geral moralidade autonômica sobre nós hoje. [5]
Menos ainda será viável buscar as razões que acarretam moralidade que,
como teístas, nós não podemos deixar de estar tristes em ver.
A tarefa do ministro do Evangelho é fazer
isso em primeiro lugar. Mas este não é o fim de sua tarefa. Ele deve
pregar a demanda total da lei de amar a Deus acima de tudo e ao próximo
como a si mesmo. Como, infelizmente, o púlpito tem negligenciado a sua
missão a este respeito. Há muitos que citam superficialmente a lei para
defender a Décima Oitava Emenda[6]
ou qualquer outra coisa que chama a sua atenção. Mas que bem fará isso
se a congregação não foi alimentada sobre a pregação da lei no sentido
de colocar diante dos homens todo o seu dever em relação a Deus e ao
homem? “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra,
é porque não há luz neles” (Isaías 8:20).
O Primeiro Mandamento — Religião
1. Observações
Uma discussão completa sobre o Mandamento
exigiria uma exposição da origem e natureza da religião. Nós apenas
discutiremos a natureza da religião e não a questão da origem. A questão
da origem da religião não surge, porque o teísmo é o pressuposto do
Decálogo.
Em segundo lugar, notamos que a resposta
que alguém dá à questão da natureza da religião é também determinada
pela sua posição teísta. De acordo com o teísmo, o homem é inerentemente
religioso. Mas há muitos que hoje admitirão esse fato e ainda assim não
são teístas.[7]
A razão para tal visão é o fato de que a História e a Psicologia não
têm sido capazes de encontrar qualquer fase irreligiosa do
desenvolvimento do homem. No entanto, de volta à História, eles devem
posicionar o misterioso vazio. E esse vazio muda a natureza da religião.
No máximo, a religião se torna uma vaga reverência ao que é misterioso.
[8]
O teísmo Cristão, por outro lado, pressupõe Deus de volta à História.
Assim, uma base razoável é dada à religião. Assim, a natureza da
religião é determinada por este fundamento de Deus.
Então, além disso, está envolvido no
teísmo que o homem originalmente tinha a verdadeira religião. Novamente,
há muitos não-teístas que admitem esta alegação. Eles sustentam que
todas as religiões são verdadeiras religiões. Mas o teísta sustenta que
apenas o Cristianismo é a religião verdadeira. As outras religiões são
desvios de um teísmo original.
Nós mencionamos este fato porque é
bastante comum hoje falar sobre a religião como se fosse completamente
possível determinar a natureza da religião sem fazer qualquer discussão
metafísica. Diz-se que esta é uma questão para a Psicologia somente. Que
tal posição é insustentável é imediatamente visível se for lembrado que
a religião lida com o invisível. Como a religião diz respeito ao
Invisível, nenhuma resposta completa pode ser dada pela Psicologia.[9]
Nós encontramos ser um fato, então, que algum tipo de metafísica está
sempre envolvido em nosso estudo sobre a natureza da religião. O assim
chamado método científico de determinar a natureza da religião difere do
método teísta na medida em que o “método científico” assumiu uma
metafísica pragmática relativista.
Outros admitirão que uma metafísica está
envolvida na determinação da essência da religião, mas são obrigados a
ser “científicos” no método pelo qual eles estabelecem sua metafísica.
Dr. Harry Emerson Fosdick pode servir como uma ilustração desta forma de
lidar com a natureza da religião. Em um sermão pregado em 9 de novembro
de 1930 ele falou da relação do homem com o Invisível. Ele advertiu
contra confiar naqueles que afirmam saber tudo sobre o Invisível, seja
positiva ou negativamente. O Invisível é incerto. No entanto, podemos
estar confiantes em relação a isso. Cada nova revelação que veio a nós a
partir do Invisível mostra que ele é mais maravilhoso do que antes.
Esta posição é dita ser bíblica. Na prova da alegação de que o Invisível
é incerto para nós, as palavras de Cristo: “Meu Deus, meu Deus, por que
me desamparaste”, foram citadas dentre outras.
Agora parece claro que tal sermão não é
nem Cristão, nem teísta. Sem justificação, presume-se que Cristo não é
mais que uma personalidade humana, em vez de uma personalidade Divina,
que assumiu a natureza humana. Sem justificação supõe-se que não existe
um Deus absoluto para quem o invisível é um livro aberto. Se Deus é o
que o teísmo sustenta que Ele seja, a saber, uma personalidade absoluta,
a pura religião é determinada pela relação do homem para com Deus, em
vez de para com o Invisível em geral. O ponto em disputa entre o
Modernismo e o Teísmo é o absoluto de Deus; uma deidade finita, ou o
Politeísmo é tudo o que o Modernismo pode permitir. À primeira vista,
parece ser muito científica a referência de base para o desconhecido
exclusivamente sobre os “fatos”. Mas quando os argumentos baseados
nesses “fatos” devem pressupor um completo relativismo metafísico para a
contingência deles, o caráter científico de tais argumentos é muito
prejudicado. Nós não protestamos contra a aceitação do relativismo ou o
seu pressuposto, se apenas for indicado claramente como isso difere do
Cristianismo e do Teísmo tradicional. Se isso fosse feito as “pessoas
comuns” não seriam seduzidas pela terminologia que pareceu Cristã. Se
isso fosse feito exceto os da “intelligentsia[10]” seriam desviados porque, então, veriam as consequências da sua escolha.
2. O que é Comandado
A. Religião Para Adão
A lei que temos foi promulgada após a
entrada do pecado. Originalmente não havia necessidade de uma tal
promulgação externa. Adão era espontaneamente religioso. A lei foi
escrita em seu coração. O profeta Jeremias prometeu que o Messias, em
princípio, restauraria esta condição. Cristo nos deu mais uma vez o
verdadeiro amor a Deus e, portanto, também o amor verdadeiro pela lei de
Deus.
Quando a lei tal como a conhecemos diz:
“Tu farás, etc.”, ela direciona-se diretamente ao homem Israelita, e a
ninguém mais. Ainda assim, uma vez que na história Israelita o princípio
de redenção é operativo, o homem em geral não é excluído, mas
definitivamente incluído no termo “tu”.
Assim, podemos concluir também com
respeito a tudo O que é Comandado nos vários mandamentos que, mesmo sem a
necessidade de qualquer comando, a relação do homem para com Deus já
foi o que está aqui contemplado na lei.
Por sua vez, agora, para determinar o que a
verdadeira religião era no Paraíso, devemos lembrar que o homem foi
criado como profeta, sacerdote e rei. Como um profeta, o homem tinha que
pensar o pensamento de Deus por ele. Aqui reside o reino do intelecto e
da verdade ou ciência. Como um sacerdote, o homem devia dedicar a si
mesmo e toda a criação a Deus. Aqui está o reino das emoções e da
estética ou da arte. Como um rei, o homem devia reinar sobre toda a
criação abaixo de Deus. Aqui está o reino da vontade e da ação. Mas o
intelecto, as emoções e a vontade são apenas aspectos de um ego central,
a personalidade humana. Agora é este o ego central que é colocado face a
face com a personalidade absoluta de Deus no Primeiro Mandamento. Nos
Mandamentos que seguem o homem será informado sobre as várias maneiras e
métodos pelos quais e através dos quais ele pode ser verdadeiramente
religioso na moral, mas neste Mandamento o homem no mais santo dos
santos de seu ser é colocado diretamente face a face com Deus. A relação
do coração do homem para com Deus é tudo o que realmente importa. Se
essa relação é boa, tudo está bem. Se essa relação é falsa, todo o
restante é falso. O homem verdadeiramente religioso é o verdadeiro homem
moral. Ao pregar sobre este mandamento nós não devemos dizer mais nada,
senão acerca dessa relação interna da alma do homem para com Deus.
Ouve, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor. Esse foi um refrão recorrente que veio a Israel. Somente após o
homem haver caído em profundidades inconcebíveis do pecado é que é
possível que ele alguma vez pense em outros deuses. O politeísmo não é
um trampolim natural para o teísmo, mas um triste desvio dele.
Este ponto se torna ainda mais claro se
levarmos em conta que somente o homem foi criado à imagem de Deus.
Somente o homem pode ser religioso. A religião envolve uma relação entre
duas personalidades. A religião é sempre uma relação de aliança.
Somente a partir de um ser autoconsciente como Ele mesmo, Deus poderia
receber adoração religiosa. Quanto da pesquisa moderna derivou desta
posição que pode ser notado quando alguém lembra que alguns
evolucionistas têm pensado que eles observaram a religião em animais.
Esta posição extrema não é mui comumente sustentada. No entanto, quase
sem exceção, as principais escolas de filosofia da religião sustentam
que a moralidade tem historicamente descendido da não-moral e a religião
da não-religião. Agora este ponto de vista, implicitamente, se não
explicitamente, nega não somente a criação do homem à imagem de Deus,
mas nega o próprio Deus. Se Deus não existe, então o homem é criado à
sua imagem, já que nesse caso nenhuma personalidade autoconsciente
poderia se originar de qualquer outra fonte. Por outro lado, se a
personalidade finita autoconsciente existe, Deus existe como seu
Criador, uma vez que a personalidade finita não pode encontrar sua
explicação em nada a não ser em Deus. De qualquer forma, se a religião
derivou-se do não-religioso, então, a sua essência é totalmente expressa
em lealdade a princípios vagos de bondade, verdade e beleza em vez de
reverência a um Deus absoluto, uma vez que o Universo é, nesse caso, um
conceito mais amplo do que Deus.
Estamos agora preparados para ver que
religião está na base do teísmo Cristão. O intelecto do homem devia
fixar-se em Deus. Em Deus o homem encontraria uma profundidade
inesgotável de conhecimento. Assim e assim somente o homem podia ter
conhecimento genuíno e ser um verdadeiro profeta. Em segundo lugar, a
verdadeira religião envolve uma fixação de nossos desejos em Deus, um
esforço diligente por comunhão com Ele, a posse dEle em nossas almas.
Isto é verdadeiro misticismo. Em terceiro lugar, a verdadeira religião
implica toda a submissão da nossa vontade a Deus. A vontade de Deus para
o homem não deve ser sentida pelo homem como um fardo para ele. Antes,
ela deve ser considerada como a principal fonte de alegria para o homem.
Estes três elementos juntos constituem a
verdadeira religião. Elas implicam a fé em Deus, o amor de Deus, a
confiança em Deus. Isso, às vezes, é chamado de “piedade”, às vezes,
“temor de Deus”, e, por vezes, “amor a Deus”.
B. Religião Após a Entrada do Pecado
Há um grande elemento de verdade na
alegação da filosofia recente de que a religião é, em essência, a mesma.
Não poderia ser de outra forma. A falsa religião deve ser uma imitação
da verdadeira religião. O homem não tem recursos, senão os derivados de
Deus. Não há um pingo de originalidade no homem para além da
originalidade implicada na revelação de Deus. Assim, o teísmo e
antiteísmo estão de acordo sobre este ponto. No entanto, o seu acordo é
formal e nada mais. O não-teísta sustenta que as religiões são
essencialmente as mesmas, porque o teísmo é apenas um pouco mais elevado
do que outras religiões. O teísmo sustenta que as religiões são
semelhantes na forma, porque as outras religiões são uma deformação
imitativa de um teísmo original.
Devido à operação da graça comum de Deus
essas falsas religiões têm sido capazes de chegar a um grande grau de
similaridade com o teísmo Cristão. Uma vez que estes pontos são
claramente entendidos, que teísmo é original e que o princípio da graça
comum permitiu que o homem pecador desenvolvesse uma pseudo-religião que
se assemelha muito à verdadeira religião, isso nos impedirá de
confusão.
Por um lado, tem havido muitas vezes uma
subestimação das religiões pagãs por parte dos Cristãos ortodoxos. Há
alguma verdade na acusação feita repetidas vezes que os Cristãos
ortodoxos têm procurado defender a verdade da sua religião por um
isolamento artificial.[11]
É bem verdade que tal política é autodestrutiva. O Cristianismo é o
teísmo vindo a si mesmo. Nós desejamos a base mais ampla possível para o
Cristianismo. A “recriação”, ou seja, a redenção baseia-se na e é
restauradora da criação. No correto sentido da palavra, o Cristianismo é
tão antigo quanto a criação ou pelo menos tão antigo quanto o protoevangelium. não pode ser muito repetidamente reiterado que o Cristianismo nada introduz de novo, mas que reintroduz o antigo.
Por outro lado, há uma tendência para
obliterar a distinção entre a religião Cristã e a Pagã. Sua semelhança
formal tem levado muitos escritores a não verem nada mais do que uma
diferença de quantidade entre elas. Agora, vamos esperar isso de
não-teístas declarados. Mas também há muita estima sobre esta matéria
por parte dos professos teístas Cristãos. O Cristianismo é dito estar em
uma relação de clímax quanto às outras religiões. Assim, o autor de Christ of the Indian Road
(Cristo da Estrada Indiana) parece conceber a matéria. Agora, esta
maneira de colocar a questão é ambígua. É a verdade, e ainda assim não
toda a verdade. Cristo é “o desejo das nações”, mas em que sentido? No
sentido em que eles estão buscando apenas este tipo de realidade? Se
isso fosse verdade, a declaração de Paulo de que o “homem natural” está
“em inimizade” contra Deus deve ser revista. Mas, desde que nós tomamos
as Escrituras como sendo coerentes consigo mesmas, podemos ver “o
desejo” das nações, em suas aspirações de busca da verdade não mais do
que numa vaga sensação de carência. No que diz respeito à sua ação
autoconsciente e intencional, eles têm definitivamente virado as costas
para Deus. Eles são apóstatas de Deus. Ou isso é verdadeiro porque o
teísmo é verdadeiro ou isso não é verdade, porque o teísmo não é
verdade. No entanto, como o filho pródigo da parábola de Cristo, às
vezes, eles sentem que eles estão tentando satisfazer as suas
necessidades com as alfarrobas do antiteísmo. Eles, às vezes, até mesmo
constroem um altar ao “Deus desconhecido”. Todavia, mesmo quando um
apóstolo vem enviado diretamente deste Deus desconhecido para eles, a
fim de torná-lO conhecido, eles respondem que ele fala “loucura”.
Somente quando for do agrado do Espírito “salvar por meio da loucura da
pregação os que creem”, eles aceitarão esse Deus a quem eles por tanto
tempo “procuravam”.
Concluímos, então, que a fim de dar ao
Cristianismo sua base mais ampla, como sendo em verdade a religião do
homem, devemos tomar cuidado com um falso isolamento. Por outro lado, a
fim de preservar o Cristianismo de modo que seja considerado como a
religião do homem, nós não devemos temer manter, para isso, um
verdadeiro isolamento. Um falso isolamento poderia permanentemente reter
o estágio inicial do Cristianismo impedindo o seu enraizamento nos
campos abertos da humanidade e frutificação para a raça. Um verdadeiro
isolamento elimina os espinhos e abrolhos que sufocam a planta, uma vez
que esta floresce em campo aberto. Pela doutrina verdadeiramente bíblica
da graça comum nós somos preservados do perigo de subestimação indevida
ou superestimação indevida da religião e da moral do paganismo.
A fraseologia utilizada pela teologia da
igreja pode ajudar-nos a fazer uma distinção clara em relação ao assunto
em questão. A melhor tradição da Igreja tem procurado dar expressão,
por um lado à imagem de Paulo da depravação total do homem e, por outro
lado à imagem de Paulo dos pagãos como acusando-se ou desculpando-se de
acordo com o padrão de uma lei moral interna. Claramente, então, o
Cristianismo é qualitativamente distinto do Paganismo.
Não há nenhum outro nome dado debaixo do
céu pelos quais os homens podem ser salvos por toda a eternidade além do
nome de Jesus. O homem natural não pode fazer nenhum bem espiritual.
Mas igualmente claro é que o homem natural ainda não executa a plena
gama de impiedade. Os germes de todos os pecados estão no interior. Um
Nero pode evoluir para um verdadeiro diabo, enquanto ainda na terra, mas
a maioria dos homens não. Pela operação do Espírito na graça comum,
eles são temporariamente restritos de desenvolver a plena medida do mal
inerente a eles.
Portanto, eles podem fazer coisas que são
úteis para uma vida tolerável na terra; eles podem fazer o moralmente
bom. Esta distinção entre o espiritual e o moralmente bom não é
totalmente inequívoca uma vez que em outro contexto foi salientado que
para alguém ser verdadeiramente moral deve-se também ser verdadeiramente
religioso. Neste contexto, os termos são contrastados e podem ser assim
usados para indicar o mais claramente possível que o “relativamente
bom” no “absolutamente mal” é de valor para esta vida, mas não para a
eternidade.
C. A Religião Depois da Entrada do Princípio Redentivo.
As religiões tornaram-se verdadeira
religião, em princípio, mais uma vez após o poder redentivo tornar-se
ativo no mundo. Devemos enfatizar o princípio da palavra. Isso faz
menção ao fato de que a religião ainda não é perfeita em grau. Este será
o caso no Céu. Mas as Escrituras não hesitam em falar dos remidos como
totalmente santos, completamente justos. Existe uma antítese profunda
entre os redimidos na terra. Esta antítese profunda finalmente será “um
grande abismo” no futuro. Os remidos, em quem a vida que agora vivem é a
vida de Cristo, dizem do fundo do seu coração: “Oh, como amo a tua lei,
ela é a minha meditação o dia e a noite”.
Devemos observar mais uma vez que isso
vale para todo o “Israel de Deus”, incluindo o Israel do Antigo
Testamento. Os verdadeiros filhos de Abraão são os que criam no Messias
cuja relação exterior e temporal com Abraão é internalizada e
externalizada em Cristo.
É de grande importância para o crente
entender a sua relação com a lei de Deus. Deus fez um Pacto de Obras com
o homem. Essa aliança significa que aqueles que satisfazem plenamente a
lei de Deus e, consequentemente, são perfeitos como o Pai Celestial é
perfeito terão a vida eterna. Por outro lado, aqueles que não tiverem
cumprido a lei de Deus terão a morte eterna. Podemos ver dois homens
caminhando juntos, ambos com aparentemente boa saúde. Quarenta anos
depois, vemos um deles vir à velhice. O outra há muito tempo já morreu.
Já quando vimos os dois a princípio, um tinha os germes da doença
operando em seu corpo, embora ele parecesse estar tão saudável quanto o
outro. Da mesma forma, dois homens podem imediatamente parecer serem, no
que diz respeito à moral, igualmente sãos. No entanto, um está “bem com
Deus” e, portanto, vive e viverá enquanto o outro não está bem com Deus
e, embora ele pareça viver, está realmente morto.
A fim de compreender esta diferença entre
as duas classes de homens, devemos ver claramente o que a obra de Cristo
tem sido com relação à lei. Ora Cristo tem negativamente, por Sua
obediência passiva, removido para aqueles que estão nEle a maldição e a
penalidade da lei. Ou seja, aqueles em Cristo já não são culpados diante
de Deus, mas justos. Portanto, eles não podem entrar em condenação. A
ira de Deus contra o pecado passou a Ele, Quem Se tornou pecado por nós.
Assim, somos “libertos” da “ira vindoura”. É isso que como ministros de
Cristo podemos anunciar para aqueles que estão enfrentando a morte.
Poucos Cristãos hoje parecem experimentar o conforto indescritível que
vem da certeza de que a justiça de Cristo é nossa. A maioria dos
Cristãos desejam limpar e purificar até certo ponto, os “trapos de
imundícia” de sua própria justiça. Seu esforço constante para chegar ao
Céu pela regra de ouro não lhes dá nenhum momento de paz. A ameaça de
Deus: “Maldito todo aquele que não pratica a lei de Deus”, paira sobre
todo aquele que busca sem Cristo ou meramente por Seu auxílio cumprir a
lei de Deus. Por outro lado, a perfeita liberdade do medo do julgamento
vem aos corações daqueles que confiam na justiça de Cristo.
O segundo aspecto da obra de Cristo com
respeito à lei é que, por Sua obediência ativa Ele merece o Céu para
nós. Ele cumpre o requisito do Pacto de Obras, que o homem deve obedecer
perfeitamente e, em consequência disso, entrar no Céu. Assim, todos
aqueles em Cristo não são apenas libertos da maldição, mas têm a
promessa da vida eterna. Somos herdeiros de Deus e coerdeiros com
Cristo.
Se agora a obra de Cristo em relação à lei
é clara, devemos notar especificamente que Cristo fez o mesmo pelo
crente do Antigo Testamento que Ele fez pelo do novo. Não há nenhuma
diferença essencial entre um crente do Antigo Testamento e um crente do
Novo Testamento, tanto quanto a lei está em causa. Para ambos, Cristo
sofreu a penalidade da lei. Para ambos, Cristo obteve o Céu. Pois, a lei
não foi uma maneira pela qual ele mesmo poderia ganhar a liberdade da
maldição e uma entrada para a terra prometida. Pois, a lei não pretendia
ser um caminho para a vida, independentemente de Cristo. Para ambos a
lei foi dada como um regulador de uma vida de gratidão pela redenção
recebida.
Prontamente afirmadas como estas questões
são com relação aos crentes do Novo Testamento, elas não são tão
facilmente perceptíveis em relação ao crente do Antigo Testamento. Paulo
na Epístola aos Gálatas parece fazer uma grande distinção entre as duas
dispensações enquanto refere a relação do crente com a lei em cada
caso. Mas, embora ele faça a distinção, ele nem por um momento esquece a
ainda maior distinção entre aqueles que procuram por sua própria
justiça herdar a vida e aqueles que buscam a salvação através da justiça
de Cristo. Na verdade, a distinção de Paulo entre a dispensação do
Antigo e do Novo Testamentos quanto à lei é feita explicitamente, no
interesse de aprofundar o abismo entre a justiça de Deus e a justiça do
homem. Seu próprio ponto no argumento contra o Judaizante foi que, a
menos que eles interpretassem o propósito do Antigo Testamento sobre a
espiritualidade da lei, e com isso percebessem que a verdadeira justiça
era — mesmo para os crentes do Antigo Testamento — realizada por Cristo,
eles seriam contados dentre aqueles que buscam entrar no Céu por meio
de sua justiça própria. O próprio Paulo tinha experimentado que a
tentativa de chegar ao Céu pelas obras da lei é como tentar carregar
água em uma peneira. Daí, ele procura definitivamente provar que nem
mesmo no Antigo Testamento os homens foram ensinados a buscar por obras
para que merecessem a vida. Desde a entrada do pecado, o homem somente
pode entrar no Céu pelo Pacto da Graça. E este Pacto da Graça não é
anulado — Paulo nos diz — pela lei, que foi dada a Moisés que veio
depois. Esta lei em si é subsidiária ao Pacto da Graça. A sua severidade
e a natureza irrevogável que parecia tão terrivelmente sob a
dispensação “da condenação”, foi calculada para obrigar os homens a
buscarem a salvação pela graça. Assim, a lei deveria ser um aio que
conduzia a Cristo. Assim, disse a lei: “A salvação está em mim, mas
somente em Cristo”.
Assim, vemos que ainda podemos pregar a
lei no mesmo duplo sentido que tinha para Israel. Em primeiro lugar, as
demandas de Deus sobre os homens são tão absolutas como sempre, e o
homem é tão incapaz de atender a essas demandas como sempre. Assim eu
posso aprender “quão grandes são os meus pecados e misérias”, e a lei
torna-se para mim o “aio, conduzindo a Cristo”. Em segundo lugar, quando
eu sinto a minha culpa e impotência em relação à lei de Deus e fujo
para Cristo por refúgio, eu posso aprender a partir da lei em todos os
seus detalhes como posso regular minha vida de gratidão pela redenção
recebida.
Em ambos os aspectos, é altamente
necessário pregar a lei hoje. Muita confusão reina sobre o primeiro
ponto. É dito muitas vezes que todos podem conhecer a miséria humana a
partir da experiência. Nós precisamos apenas apontar para os hospitais
para convencer os homens da necessidade de Cristo. Ou, se isso não é
suficiente, pelo menos, a consciência no homem condena-o suficientemente
para fazê-lo perceber a necessidade de um Redentor. No entanto, a
consciência e a experiência de ninguém, a parte da lei como encontrada
na Escritura, jamais lhe disse que ele é digno de castigo eterno. A
experiência, exatamente por ser experiência pecaminosa, não pode amar a
lei de Deus. A experiência, porque é experiência pecaminosa, está em
inimizade contra Deus. Por isso, ela não admitirá que haja tal coisa
como uma lei que é absoluta, porque estabelecida por um Deus absoluto. A
experiência, porque é experiência pecaminosa, procura ser uma lei em si
mesma e não se sente culpada diante de Deus, mas na melhor das
hipóteses, culpada diante de si mesma por causa da transgressão da lei.
Consequentemente, não há tristeza “segundo Deus” que leva ao
arrependimento; a experiência assim não pode ser um aio conduzindo a
Cristo. Nós não podemos omitir a pregação da lei como a fonte, a única
fonte de nosso conhecimento do pecado.
Em seguida, quanto à pregação da lei, como
reguladora da vida do crente, podemos dizer que esta também tem sido
negligenciada. E, mais uma vez, a nossa pronta ênfase na falha da
experiência como mestre. É verdade, quando a experiência é a experiência
“Cristã” deve deixar de ser contrastada com a lei, porque, neste caso,
tem se desenvolvido em conexão com a lei. Mas esse é exatamente o ponto.
Nós tendemos muito facilmente a separar a experiência da lei. E isso é
fatal para a experiência. A consciência, como tal, não é “a voz de
Deus”, apenas a consciência “Cristã” o é, e isso apenas indiretamente.
Mesmo a consciência Cristã deve ser constantemente renovada. Ele “se
desgasta” muito facilmente. Em primeiro lugar, o seu campo de visão
estreita-se muito facilmente. Muitas coisas não são conhecidas serem
pecado pela consciência, sem que a lei fale sobre isso. Mas a lei de
Deus é “amplíssima”. Em segundo lugar, a consciência deixada a si mesma
perde a sua sensibilidade. Mas a lei penetra nas recâmaras do coração.
De longe, ela perscruta mais profundamente ao ser do homem do que a
Psicologia de Freud. A tocha da Psicologia humana deixa as profundezas
do coração humano como um pântano congelado, enquanto o Sol da lei de
Deus descongela o pântano pondo em movimento os muitos escorpiões,
víboras e insetos venenosos. Assim, a lei, quando vista como
“espiritual” nos faz anelar por pureza, por libertação da contaminação
do pecado, como uma vez já nos fez clamar pela libertação da sua culpa. O
Cristão que procura guiar a sua vida com cuidado por meio da lei de
Deus está sempre consciente sobre o fato de violar a lei. O Cristão
nominal, pelo contrário, prontamente dirá: “Todas essas coisas tenho
observado desde a minha juventude”.
Podemos notar, a propósito, que, se a lei
for assim pregada em toda a sua espiritualidade servirá como uma melhor
cura para os males sociais do que a educação que é muito elogiada em
nossos dias. A máxima socrática de que o conhecimento é virtude, ou
seja, que os homens cumprirão a lei se eles apenas a virem, levou os
homens a propagar a ideia de que a educação, como tal, tornará os homens
bons. Mas a educação, como tal, não pode permitir que os homens vejam a
espiritualidade da lei. Para ver esta espiritualidade, o homem deve ser
regenerado. Regeneração e educação, em vez de educação somente deveria
ser o nosso lema.
3. O que é Proibido
A substituição de “outros deuses” pelo
verdadeiro Deus, vimos, é a substância das falsas religiões. Pois
“mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a
criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém” (Romanos
1:25). Maior subversão não pode ser concebida. O homem, especialmente,
mas também toda a criação é feita objeto de culto. Quão radicalmente
diferente é a interpretação moderna da religião pagã. De acordo com ela o
homem estava tateando em busca do verdadeiro Deus, enquanto em seu
caminho, quase incidentalmente, como um auxílio à sua fé, adorou o sol, a
lua e as estrelas. De acordo com esta interpretação o não-moral precede
o moral e é neste ponto que a batalha entre as duas formas de
interpretação deve principalmente ser combatida. Sustentamos que fazer a
religião derivar do não-moral destrói não somente toda a religião e
moralidade, mas toda a experiência humana, em geral, uma vez que envolve
o homem em um vazio sem sentido. Sustentar a doutrina bíblica de uma
perfeição original do homem é, portanto, não só agarrar-se a uma
“autoridade externa” ou “mera tradição”, mas é, ao mesmo tempo
agarrar-se ao teísmo.
Agora, os fatos de uma religião pagã estão
em desarmonia com a concepção teísta da religião. Há uma diferença
qualitativa entre qualquer uma e todas as religiões do paganismo e a
religião do teísmo como encontrada no Cristianismo. Não importa o quão
próxima seja a semelhança formal ao Cristianismo, a religião pagã sempre
adora a criatura, enquanto o Cristianismo adora a Deus.
Não se segue a partir disso que não há
gradações entre as religiões pagãs, de modo que todas elas sejam
igualmente sem valor. A doutrina da graça comum nos permite fazer muita
diferença entre uma e outra, enquanto a doutrina da graça especial nos
proíbe de alguma vez acabar com a distinção qualitativa que separa todas
elas do Cristianismo. A própria diferença entre essas religiões se deve
a medidas muito diferentes da graça comum de Deus. Através da graça
comum, a civilização tem gradualmente avançado para que o homem fosse
habilitado somente para livrar-se de algumas das formas mais sensuais de
culto da criatura. Mas permanece a adoração da criatura, mesmo na forma
mais refinada de religião não-Cristã. Mesmo quando adora, de acordo com
o modernismo, os ideais do bem, da verdade e da beleza ainda este ainda
é um culto da criatura, uma vez que esses ideais não são concebidos
como colocados por Deus.
Devemos agora examinar brevemente as principais formas de religião antiteísta.
a. O ateísmo é a negação
mais desafiante e aberta da própria existência de Deus. Nele o princípio
do pecado atingiu o seu clímax. Mesmo assim, o homem não pode
totalmente livrar-se da ideia de Deus. A própria luta do ateu contra
Deus pode ser uma indicação do temor de Deus. Há muito do espírito
desafiador no movimento. Este espírito desafiador só pode ser
temporariamente mantido. No Inferno não haverá ateus. Será impossível
negar a existência de Deus no dia do juízo e depois.
O ateísmo é pior do que o paganismo. O
paganismo, ao menos, serve a deuses. Ele admite algo de sua
insuficiência; isso indica algum desejo de entrar em contato com os
poderes superiores. O ateísmo, por outro lado, tem se vedado
hermeticamente contra Deus. A questão terá de ser decidida por um teste
de força somente.
Há muito ateísmo prático em todas as
terras civilizadas. O reino da lei tem feito muitos dizerem, em prática,
se não em palavras: “O Senhor não faz o bem nem faz o mal” (Sofonias
1:12). A religião tornou-se para muitos uma questão secundária na vida.
Deus não é pensado como controlando e afetando as nossas vidas a cada
momento, em cada aspecto, por todas as vias possíveis. Em vista desse
fato é necessário pregar a mensagem profética que o Senhor castigará “os
homens que se espessam como a borra do vinho, que dizem no seu coração:
O Senhor não faz o bem nem faz o mal”. A imagem do dia do juízo final
não é em nenhum outro lugar mais terrível do que quando estabelecido
diante daqueles que ignoram o Senhor. Ser ignorado é quase tão grande
insulto quanto ser desafiado abertamente. Talvez isso possa até mesmo
ser considerado um insulto maior, enquanto um desafio aberto ao menos
“imagina” Deus, dando-Lhe crédito por algum poder.
b. Religiões Naturais
O homem, embora tendo declarado a sua
independência, ainda tem de viver como o filho pródigo dos bens do pai.
Além disso, ele sente algo do absurdo de ter se elevado à posição de
Deus. Mais tarde na história, ele declarará abertamente sua autonomia
moral (Kant). No presente, ele deve olhar sobre si por algum objeto de
adoração. Ele encontra esses objetos na criação inferior. A criação
inferior afeta-o de muitas maneiras, e isso está além de seu próprio
controle. O homem é como uma criança que derrubou a chaleira de água
quente sobre si mesma e culpa a chaleira por sua miséria. O homem apenas
busca escapar das más consequências do pecado, enquanto estas
consequências o encaram, nos vários poderes de destruição. Em vez de
perceber que os poderes de destruição são as agências de Deus, para que
ele vá a Deus para encontrar libertação deles, o homem desafia essas
agências e adora-as. A estupidez e futilidade do pecado são nisso
estrita e tipicamente ilustradas.
(1) As formas inferiores da religião
natural realmente não têm nenhuns deuses, mas apenas almas. Animismo e
fetichismo são exemplos deste tipo.
(2) As formas mais elevadas de adoração
natural têm deuses. A imaginação criativa foi introduzida para criar
escultura e mitologia.
(a) As formas Semíticas das religiões
naturais mais elevadas desenvolveram algum tipo de ideia de
transcendência. O pecado trouxe incluiu Deus na esfera de Sua criação, e
com isto negou a transcendência de Deus sobre a Sua criação. A este
respeito, toda a ênfase na imanência de Deus na teologia moderna é uma
forma clara e extrema da transgressão do Primeiro Mandamento. No
entanto, em momentos diferentes e em diferentes graus, o homem sentiu
que ele precisava de um Deus transcendente. Não que ele tenha de si
mesmo chegado a qualquer verdadeira ideia de transcendência. Tal
verdadeira ideia de transcendência só poderia vir a ele novamente por
revelação de Deus; e isso não por revelação através da experiência
humana como tal, pois a experiência humana como tal é pecaminosa. A
transcendência como concebida pelo pensamento não-teísta é separação.
Este é o deísmo.
(b) As formas indo-germânicas de religiões
naturais mais elevadas ressaltaram a necessidade da proximidade de
Deus. Elas falam muito da relação entre pai e filho. Mas, novamente, a
verdadeira ideia da imanência é pervertida até que signifique
identidade. Este é o panteísmo.
Assim, o pêndulo móvel das religiões
antiteístas foi do deísmo ao panteísmo. E a filosofia motivada pelo
mesmo princípio antiteísta desenvolveu-se por um curso similar.
Deve-se notar que correspondendo ao falso
objeto na religião, o homem antiteísta tem igualmente valorizado uma
falsa atitude subjetiva. Não há nada do verdadeiro serviço do coração a
ser encontrado. Como um falso profeta, o homem procura interpretar o
universo sem referência a Deus. Os poderes do mal são assumidos
existirem como poderes independentes de Deus. O homem não será
“ensinados por Deus”. Ele perdeu sua reatividade de espírito. Como um
falso rei, ele procura pronunciar-se sobre a natureza para o seu próprio
interesse somente. Natureza, ciência, arte e governo, todos eles por
sua vez, são feitos servos do homem, sem também serem feitos servos de
Deus. O homem não governará abaixo de Deus. Ele não receberá nenhuma
ordem, mas apenas dará ordens. Ele perdeu a obediência. Como um falso
sacerdote, ele dedica todas as coisas para si mesmo, em vez de oferecer
todas as coisas para Deus. Aquilo que serviria a Deus, ele impede de
servir a Deus. Seu coração é afastado de Deus e evita Deus totalmente ou
procura uma falsa familiaridade. O homem ora aos deuses, mas não a
Deus. Ele ora por alívio, mas não por perdão. Se ele tem remorso, não é
uma “tristeza segundo Deus”, mas uma tristeza que vem devido à sua
própria loucura.
c. Religiões Éticas
As religiões éticas são mais elevadas do
que as religiões naturais e se aproximam mais, em sua forma, do teísmo.
Em primeiro lugar, elas são monoteístas. Consequentemente, Deus é
representado como não apenas controlando o natural, mas também como
controlando a ordem moral do mundo. Em segundo lugar, essas religiões
acreditam em uma revelação de Deus na forma de escrituras sagradas; o
Bramanismo tem sua Vedas, o Budismo sua Pittakas, o Confucionismo seus
Reis, o Parzismo sua Avesta e o Islamismo seu Alcorão. No entanto, em
nenhum caso, a lei moral é concebida como emanando com autoridade
inviolável a partir de um Deus absoluto. E, como acontece com a religião
subjetiva, não encontramos aquela piedade que combina um verdadeiro
sentido de exaltação e proximidade de Deus. Se for lembrado que nos
Primeiros Mandamentos Deus estabelece a Si mesmo diretamente diante do
centro da personalidade do homem, exigindo do homem que ele não olhe
para nenhum outro lugar buscando por sua alegria e paz, é facilmente
visto que todas essas religiões são tristes desvios do teísmo.
Sair para as nações para levar o Evangelho
do Cristianismo significa mais do que difundir o conhecimento da
civilização ou um modo ético mais elevado de vida. Significa, antes,
trazer os homens ao conhecimento das exigências de um Deus santo e
justo, que não pode, em sentido algum tolerar o pecado, mas que em Seu
amor condescendente perdoará o pecado em Cristo, a fim de tornar os
homens verdadeiros profetas, sacerdotes e reis novamente. Uma vez que
eles conheçam este Deus em Cristo, eles não adorarão a natureza, mas o
Deus da natureza, eles não adoração a lei, mas o Deus da lei.
Mas, será que esta idolatria ocorreu
predominante somente em países pagãos? O Primeiro Mandamento como o
fundamento de todo o restante precisa ser pregado neste país e em todos
os países civilizados, bem como em terras pagãs.
[1] The Idea Of God [A Ideia de Deus].
[2]
Mesmo assim, nós não usamos imoral no sentido ainda mais restrito
quando significa uma dependência de um tipo especial de pecado.
[3] p. 643.
[4] p. 645.
[5] Cf. W. Lippmann, Preface to Morals [Prefácio à Moral].
[6]
A Décima Oitava Emenda (Alteração XVIII) da Constituição dos Estados
Unidos efetivamente estabelecida a proibição de bebidas alcoólicas nos
Estados Unidos, declarando ilegal a produção, transporte e venda de
álcool, embora não o consumo ou a posse privada (Nota de Tradução).
[7]
Cf. Qualquer um dos escritores idealistas sobre a história e filosofia
da religião ou muitos pregadores Modernistas, como Dr. Fosdick.
[8] Cf. Carlyle, Heroes and Heroworship [Heróis e Adoração a Heróis].
[9] Eddington, Science and the Unseen World [Ciência e o Mundo Invisível].
[10] Intelligentsia:
usualmente refere-se a uma categoria ou grupo de pessoas envolvidas em
trabalho intelectual complexo e criativo direcionado ao desenvolvimento e
disseminação da cultura, abrangendo trabalhadores intelectuais (Nota de
tradução).
[11] A. C. Knudson recentemente acusou-nos com isso. Veja Doctrine of God [Doutrina de Deus].
08/04/2016
http://oestandartedecristo.com/texto/506/os-dez-mandamentos-por-cornelius-van-til-a-introducao-e-o-primeiro-mandamento
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