Cristologia Ortodoxa: Novo Testamento (5/5)
Keith Mathison 08 de Abril de 2016 - Teologia
A contribuição do Novo Testamento
para a nossa compreensão da Pessoa de Cristo pode encher (e tem enchido)
volumes inteiros de obras. Ele tem sido a fonte de rica e profunda
meditação teológica durante séculos. Aqui poderemos meramente arranhar a
superfície. Neste breve post, vamos olhar para as respostas a duas
perguntas: quem Jesus alega ser, e quem seus discípulos dizem que ele é?
O testemunho próprio de Jesus
Não há dúvida de que Jesus se entendia
como sendo o Messias profetizado no Antigo Testamento. Ele usa o título
"Cristo" (que é a tradução grega da palavra hebraica "Messias") para si
mesmo (p.ex., Jo 4.25-26; 17.3), e aceita que outros usem este título
para se referirem a ele (p. ex., Mt 16.16; Jo 11.25-27). Aquilo que o
Antigo Testamento prometeu, Jesus afirmava cumprir.
Embora Jesus tenha usado o título
"Cristo" para si mesmo, sua auto-designação preferida era o título
"Filho do Homem". Este título ocorre cerca de 69 vezes nos Evangelhos
sinóticos e mais 13 vezes no Evangelho de João. Quase todas as vezes que
o título ocorre, Jesus está usando-o em referência a si mesmo. "Filho
do Homem" é em si um título messiânico, cujo significado completo só
pode ser apreciado se examinarmos seu pano de fundo em Daniel 7, onde
ele descreve uma figura que sobe para o Ancião de Dias e recebe o
domínio sobre todas as coisas. Referindo-se a si mesmo como o "Filho do
Homem", Jesus está dizendo, na verdade: "Eu sou aquele de quem Daniel
falou".
Jesus não apenas se entendia como o
Messias prometido, mas também diz e faz coisas ao longo dos Evangelhos
que deixam claro que se entendia como sendo o Deus encarnado. Em muitos
lugares, Jesus faz reivindicações que implicam sua eterna existência
divina anterior à sua encarnação (p. ex., Jo 3.13; 6.62; 8.42). Sua
declaração em Mateus 11.27 implica a soberania mútua que ele compartilha
com o Pai. Várias das conhecidas afirmações "Eu sou" no Evangelho de
João reivindicam ou implicam divindade (Jo 8.58; 13.19). Seus
ensinamentos e obras indicam também que ele é Deus encarnado. Ele
ensinou a lei como só Deus poderia fazer (Mt 5.22, 28, 32, 34, 39, 44).
Ele perdoou pecados (Mt 9.6; Mc 2.10; Lc 5.24), um ato que somente Deus
pode fazer. Ele ouve e responde a oração (Jo 14.13-14) e recebe adoração
e louvor (Mt 21.16). Simplesmente não é possível ler honestamente os
Evangelhos sem reconhecer que Jesus entende-se como o Messias, o Filho
de Deus encarnado.
Jesus entende-se como o divino Filho de
Deus e Messias, mas quem os discípulos dizem que ele é? Apesar de levar
algum tempo para que os discípulos compreendam plenamente quem é Jesus,
quando eles de fato reconhecem a verdade, não hesitam em declará-la
corajosamente. Natanael chama Jesus de o Filho de Deus e o Rei de Israel
(Jo 1.49). Pedro chama-o de "Senhor" (Lc 5.8) e o "Santo de Deus" (Jo
6.69). Mais tarde, Pedro declara que Jesus é "o Cristo, o Filho do Deus
vivo" (Mt 16.16). Paulo também proclama que Jesus é o Cristo (At 17.2-3)
e Senhor (1Co 1.2-3) e confessa a divindade de Cristo (Cl 1.15-20; 2.9;
Fp 2.6-11). Quando lembramos a confissão básica dos judeus do Antigo
Testamento de que o Senhor é um, estas afirmações sobre Jesus, vindas da
boca de judeus, são ainda mais surpreendentes.
Várias passagens do Novo Testamento se
referem explicitamente a Jesus como Deus. O Evangelho de João, por
exemplo, abre com uma declaração da divindade de Cristo: "No princípio
era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava
no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele,
e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida
era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não
prevaleceram contra ela [...] Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes
o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, os que creem no seu
nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do
unigênito do Pai" (Jo 1.1-5, 12-14). Aqui o Verbo, que é identificado
com Jesus (v. 14), é dito ser "Deus" (v. 1). Não obstante as contorções
exegéticas das Testemunhas de Jeová, esta passagem é inequívoca em sua
declaração da divindade de Cristo.
O apóstolo Paulo também chama
explicitamente Jesus de Deus em vários lugares. Em Romanos 9.5, ele
escreve: "deles [os judeus] são os patriarcas, e também deles descende o
Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para
sempre". Jesus Cristo, diz ele, é Deus sobre todos. Em Tito 2.13, Paulo
fala da manifestação da "glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo
Jesus". As palavras "Deus" e "Salvador" qualificam "Cristo Jesus". Isto
é, Jesus Cristo é Deus e Salvador. Também, Pedro confessa que Jesus é
Deus e Salvador no primeiro verso de sua segunda epístola. Pensar sobre
as implicações dessas declarações mesmo que apenas por um momento é
impressionante.
O Antigo Testamento declarou claramente
que o Senhor nosso Deus é único (Dt 6.4). O Novo Testamento continua a
enfatizar que Deus é um (Mc 12.29). Entrentanto, ao mesmo tempo, o Novo
Testamento também declara que Jesus é Deus. O Novo Testamento está
contradizendo o Antigo Testamento? Como os cristãos devem compreender
estas afirmações? Como poderia a Igreja confessar que Deus é "um" e, ao
mesmo tempo confessar que Jesus Cristo é Deus? A igreja levou vários
séculos trabalhando essas questões para explicar o ensinamento do Novo
Testamento de uma forma que levasse em conta todas as provas. Em nosso
próximo post, vamos começar a olhar para o ensino da igreja primitiva
sobre a Pessoa de Cristo.
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