O
evangelho de Satanás não é um sistema de princípios revolucionários,
nem ainda é um programa de anarquia. Ele não promove a luta e a guerra,
mas objetiva a paz e a unidade. Ele não busca colocar a mãe contra sua
filha, nem o pai contra seu filho, mas busca nutrir o espírito de
fraternidade, por meio do qual a raça humana deve ser considerada como
uma grande “irmandade”. Ele não procura deprimir o homem natural, mas
aperfeiçoá-lo e erguê-lo. Ele advoga a educação e a cultura e apela para
“o melhor que está em nosso interior” – Ele objetiva fazer deste mundo
uma habitação tão confortável e apropriada, que a ausência de Cristo não
seria sentida, e Deus não seria necessário. Ele se esforça para deixar o
homem tão ocupado com este mundo, que não tem tempo ou disposição para
pensar no mundo que está por vir. Ele propaga os princípios do
auto-sacrifício, da caridade, e da boa-vontade, e nos ensina a viver
para o bem dos outros, e a sermos gentis para com todos. Ele tem um
forte apelo para a mente carnal, e é popular com as massas, porque deixa
de lado o fato gravíssimo de que, por natureza, o homem é uma criatura
caída, apartada da vida com Deus, e morta em ofensas e pecados, e que
sua única esperança reside em nascer novamente.
Contradizendo
o Evangelho de Cristo, o evangelho de Satanás ensina a salvação pelas
obras. Ele inculca a justificação diante de Deus em termos de méritos
humanos. Sua frase sacramental é “Seja bom e faça o bem”; mas ele deixa
de reconhecer que lá na carne não reside nenhuma boa coisa. Ele anuncia a
salvação pelo caráter, o que inverte a ordem da Palavra de Deus – o
caráter como fruto da salvação. São muitas as suas várias ramificações e
organizações: Temperança, Movimentos de Restauração, Ligas Socialistas
Cristãs, Sociedades de Cultura Ética, Congresso da Paz, estão todos
empenhados (talvez inconscientemente) em proclamar o evangelho de
Satanás – a salvação pelas obras. O cartão da seguridade social
substitui Cristo; pureza social substitui regeneração individual, e,
política e filosofia substituem doutrina e santidade. A melhoria do
velho homem é considerada mais prática que a criação de um novo homem em
Cristo Jesus; enquanto a paz universal é buscada sem que haja a
intervenção e o retorno do Príncipe da Paz.
Os
apóstolos de Satanás não são taberneiros e traficantes de escravas
brancas, mas são em sua maioria ministros do evangelho ordenados.
Milhares dos que ocupam nossos modernos púlpitos não estão mais
engajados em apresentar os fundamentos da Fé Cristã, mas têm se desviado
da Verdade e têm dado ouvidos às fábulas. Ao invés de magnificar a
enormidade do pecado e estabelecer suas eternas conseqüências, o
minimizam ao declarar que o pecado é meramente ignorância ou ausência do
bem. Ao invés de alertar seus ouvintes para “escaparem da ira futura”,
fazem de Deus um mentiroso ao declarar que Ele é por demais amoroso e
misericordioso para enviar quaisquer de Suas próprias criaturas ao
tormento eterno. Ao invés de declarar que “sem derramamento de sangue
não há remissão”, eles meramente apresentam Cristo como o grande Exemplo
e exortam seus ouvintes a “seguir os Seus passos”. Deles é preciso que
seja dito: “Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando
estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus”
(Romanos 10:3). A mensagem deles pode soar muito plausível e seu
objetivo parecer muito louvável, mas, ainda sobre eles nós lemos: –
“Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos,
transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o
próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os
seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais
será conforme as suas obras” (II Coríntios 11:13-15).
Somando-se
ao fato de que hoje centenas de igrejas estão sem um líder que
fielmente declare todo o conselho de Deus e apresente Seu meio de
salvação, também temos que encarar o fato de que a maioria das pessoas
nestas igrejas está muito distante de conseguir descobrir a verdade por
si mesma. O culto doméstico, onde uma porção da Palavra de Deus era
costumeiramente lida diariamente, é agora, mesmo nos lares de Cristãos
professos, basicamente uma coisa do passado. A Bíblia não é exposta no
púlpito e não é lida no banco da igreja. As demandas desta era agitada
são tão numerosas, que multidões têm pouco tempo, e ainda menos
disposição, para fazer uma preparação para o encontro com Deus. Por essa
razão, a maioria, aqueles que são negligentes o bastante para não
pesquisarem por si mesmos, são deixados à mercê dos homens a quem pagam
para pesquisar por eles; muitos dos quais traem a verdade deles, por
estudar e expor problemas sociais e econômicos ao invés dos Oráculos de
Deus.
Em
Provérbios 14:12 lemos: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas
o fim dele são os caminhos da morte”. Este “caminho” que termina em
“morte” é a Ilusão do Diabo – o evangelho de Satanás – um caminho de
salvação através da realização humana. É um caminho que “parece
direito”, o qual, é preciso que se diga, é apresentado de um modo tão
plausível que ganha a simpatia do homem natural; é pregado de forma tão
habilidosa e atrativa, que se torna recomendável à inteligência dos seus
ouvintes. Por incorporar a si mesmo terminologia religiosa, algumas
vezes apela para a Bíblia como seu suporte (sempre que isto se ajusta
aos seus propósitos), mantém diante dos homens ideais elevados, e é
proclamado por pessoas que têm graduação em nossas instituições
teológicas, e incontáveis multidões são atraídas e enganadas por ele.
O
sucesso de um falsificador de moedas depende em grande medida de quão
proximamente a falsificação lembra o artigo genuíno. A heresia não é uma
total negação da verdade, mas sim, uma deturpação dela. Por isto é que
uma meia verdade é sempre mais perigosa que uma completa mentira. É por
isso que quando o Pai da Mentira assume o púlpito, não é seu costume
claramente negar as verdades fundamentais do Cristianismo, antes ele
tacitamente as reconhece, e então procede de modo a lhes dar uma
interpretação errônea e uma falsa aplicação. Por exemplo, ele não seria
tão tolo de orgulhosamente anunciar sua descrença em um Deus pessoal;
ele dá a Sua existência como certa, e então apresenta uma falsa
descrição da Sua natureza. Ele anuncia que Deus é o Pai espiritual de
todos os homens, que as Escrituras claramente nos dizem que nós somos:
“filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gálatas 3:26), e que “a todos
quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”
(João 1:12). E mais adiante, ele declara que Deus é por demais
misericordioso para em algum momento enviar qualquer membro da raça
humana no Inferno, mesmo havendo o próprio Deus dito que: “aquele que
não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”
(Apocalipse 20:15). Novamente, Satanás não seria tão tolo, a ponto de
ignorar a figura central da história humana – o Senhor Jesus Cristo; ao
contrário, seu evangelho O reconhece como sendo o melhor homem que já
viveu. A atenção é então levada para os Seus feitos de compaixão e para
as Suas obras de misericórdia, para a beleza de Seu caráter e a
sublimidade de Seu ensino. Sua vida é elogiada, mas Sua morte vicária é
ignorada, a importantíssima obra reconciliadora da cruz não é
mencionada, enquanto Sua triunfante e corpórea ressurreição dos mortos é
considerada como uma crendice de uma época de muita superstição. É um
evangelho sem sangue, e apresenta um Cristo sem cruz, que é recebido não
como Deus manifesto em carne, mas meramente como o Homem Ideal.
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Por Arthur W. Pink – O outro Evangelho – Revista Fé para Hoje, p.14
http://www.revistamonergista.com/2016/03/o-evangelho-de-satanas.html
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