John Tweeddale 25 de Agosto de 2016 - Pensamento Cristão
Uma das guinadas mais surpreendentes
de João 3.16 é que somos informados que Deus ama o mundo. Podemos ser
tentados a pensar que há muitas coisas no mundo para Deus amar. Afinal
de contas, como não admirar as paisagens urbanas e rurais, alta
gastronomia e churrascos de quintal, sinfonias clássicas e música
popular, pinturas renascentistas e rabiscos de jardim de infância? O
mundo que conhecemos está repleto de texturas, desafios, oportunidades e
alegrias. O problema é que tudo o que é bom, interessante e bonito no
mundo está saturado de pecadores. Desde que Adão e Eva se rebelaram
contra Deus no jardim, o mundo se tornou uma terra desolada. Não
obstante quão maravilhoso o mundo pareça, ele não é digno do amor
redentor de Deus.
Entender como o mundo é indigno do amor
de Deus é a chave para João 3.16. Só assim apreciaremos o presente
inesperado que Deus dá. Este ponto foi bem estabelecido há muitos anos
pelo estimado teólogo Benjamin Breckinridge Warfield. Em seu sermão “O
income nsurável amor de Deus”, Warfield investiga o significado do termo “mundo” (em grego kosmos) em João 3.16, a fim de sondar as profundezas do amor de Deus.
Qual é o significado de “mundo” nesta passagem? A partir das ideias de Warfield, encontramos quatro respostas possíveis.
Em primeiro lugar, muitas pessoas
acreditam que “mundo” significa todas as pessoas, sem exceção. Em outras
palavras, quando João 3.16 diz que Deus ama o mundo, isso significa que
ele ama todas as pessoas, uma por uma, de forma igual. A lógica é algo
deste tipo: Deus ama todas as pessoas; Cristo morreu por todas as
pessoas; portanto, a salvação é possível para todas as pessoas. No
entanto, essa visão parece sugerir que o amor de Deus é impotente, e que
a morte de Cristo é ineficaz. Caso contrário, a conclusão natural desta
posição seria a de que todas as pessoas são efetivamente salvas, em vez
de apenas potencialmente salvas. Se Deus ama todas as pessoas, e Cristo
morreu por todas as pessoas; se o amor de Deus não é impotente, e morte
de Cristo não é ineficaz, então a única conclusão a que se pode chegar é
que a salvação é assegurada para todas as pessoas. No entanto, este
ponto de vista contradiz o ensino da Bíblia sobre o julgamento de Deus,
tal como é evidenciado pelo contexto imediato em João 3.17-21.
Em segundo lugar, outros argumentam que
“mundo” significa todas as pessoas, sem distinção. Esta opção enfatiza
que Deus ama mais de um tipo de pessoa ou grupo étnico. A morte de
Cristo na cruz não foi apenas por judeus, mas também por gentios. O amor
de Deus não se restringe a fronteiras nacionais, mas se estende a todos
os tipos de nações, tribos, culturas, línguas e povos. A isso, todo o
povo de Deus (tanto arminianos quanto calvinistas) diz um caloroso
“Amém”. Apesar de este ponto de vista ter a vantagem de estar, sem
dúvida, certo e de se encaixar dentro do contexto maior do evangelho de
João sobre a identidade global dos “filhos de Deus” (por exemplo, João
1.9-13; 4.42), ele não chega a capturar o forte contraste entre “Deus
amou” e “o mundo” que João 3.16 deliberadamente evoca.
Em terceiro lugar, uma nuance popular da
opção anterior entre os teólogos reformados é argumentar que “mundo” em
João 3.16 se refere aos eleitos. Ao longo de todo o Evangelho de João,
Jesus enfatiza a particularidade de sua graça. “Todo aquele que o Pai me
dá, esse virá a mim” (6.37). “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas
ovelhas, e elas me conhecem a mim [...] e dou a minha vida pelas
ovelhas” (10.14-15). ”Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era
seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi,
por isso, o mundo vos odeia” (15.19). “É por eles que eu rogo; não rogo
pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (17.9). E
assim por diante. O ponto é que o povo de Deus é escolhido de um mundo
descrente. Novamente, este ponto de vista possui um tom importante ao
destacar a doutrina bíblica da eleição, mas o foco do termo “mundo” em
João 3.16 não é tanto sobre a identidade do povo de Deus, mas sobre a
natureza do amor de Deus.
Isso nos leva à opção final. Uma defesa
consistente pode ser feita para crermos que “mundo” se refere à
qualidade do amor de Deus. Warfield declara de forma convincente:
[Mundo] não é aqui
tanto um termo de extensão; antes, é um termo de intensidade. Sua
conotação primária é ética, e o objetivo de seu emprego não é sugerir
que o mundo é tão grande que é preciso uma grande dose de amor para
abarcá-lo completamente, mas que o mundo é tão ruim que é preciso um
grande tipo de amor para poder amá-lo, e sobretudo para amá-lo como Deus
o amou quando deu o seu Filho por ele.
O mundo representa a humanidade
pecadora, e não é digno do amor salvífico de Deus. Fora do amor de Deus,
o mundo está sob a sua condenação. Mas em Cristo, os crentes
experimentam o amor surpreendente, redentivo e infinito de Deus. João
3.16 não diz respeito à grandeza do mundo, mas à grandeza de Deus.
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