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terça-feira, 19 de abril de 2016

O que esperar de um político cristão?


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- no dia 6.4.16 - Seja o primeiro a comentar!
 Lugar De cristão é na política? E por que não seria? Uma das coisas que herdamos da reforma é que toda vocação, inclusive a política, glorifica a Deus. João Calvino dedica parte de sua obra máxima, as Institutas, para falar sobre política e enaltece o trabalho dos magistrados, isto é, os que integram o poder do Estado. O próprio apóstolo Paulo diz que os governantes são servos de Deus e que sua autoridade é derivada do próprio SENHOR (Rm 13.1-7). Ademais, os cristãos foram chamados para exercer o que na teologia chamamos de “mandato cultural”. Exercer este mandato é se integrar ao mundo criado por Deus e administrá-lo com excelência, observando as leis divinas para o louvor do Criador. O poder político está intensamente ligado ao mandato cultural dos homens. No entanto, precisamos ressaltar que a postura política de um cristão deve ser íntegra e se ele almeja participar do poder político, deve manter-se fiel a ética contida na Bíblia Sagrada e por ela se guiar.

O teólogo Wayne Grudem, ao escrever sobre o papel do cristão na política, afirma o seguinte:
(...) os cristãos devem procurar influenciar o governo civil conforme os padrões morais de Deus e conforme os propósitos de Deus para o governo revelados na Bíblia (e devidamente compreendidos). Enquanto os cristãos exercem essa influência, porém, devem continuar a proteger a liberdade religiosa de todos os cidadãos. Além disso, a "influência expressiva" não é sinônimo de influência irada, beligerante, intolerante, julgadora, desatinada e cheia de ódio, mas sim uma influência cativante, gentil, solícita, amável, persuasiva, própria para cada circunstância e que sempre protege o direito do outro discordar. Ao mesmo tempo, é firme no que se refere à veracidade e à excelência moral dos ensinamentos da palavra de Deus.[1]

Outra coisa de suma importância é ter preparo. Uma carreira na política demanda vocação e conhecimento dos mecanismos do poder. Ademais, a política não é imparcial. Ela está encharcada de ideologia, sendo que tais ideologias são, em grande parte, antagônicas a fé cristã. O Pr. Franklin Ferreira é bastante feliz em sua colocação, ao dizer que:

Os políticos cristãos devem saber utilizar as várias disciplinas acadêmicas para desenvolver uma cosmovisão cristã que permita, de um lado, identificar as premissas das posições filosóficas e religiosas que mais influenciam a sociedade e, de outro, oferecer respostas respeitáveis satisfatórias, com base na fé cristã.[2]

Infelizmente, muitos políticos que se denominam evangélicos, têm dado um mau testemunho, parecendo ignorar o preceito bíblico de que deveriam ser luzeiros deste mundo. Muitos, não todos, também fazem das igrejas um curral eleitoral e cumprem seus mandatos beneficiando apenas os seus eleitores “crentes”. Eles promovem eventos como “marchas para Jesus” e “dia da consciência evangélica”. Fazem shows com os mais famosos artistas do segmento Gospel e elaboram projetos que não saem da órbita evangelical. Isso está errado e a Bíblia demonstra com exemplos.


José quando esteve no Egito era autoridade destacada. Acima dele apenas faraó. Ao interpretar o sonho do soberano egípcio e prever que haveria sete anos de fartura seguidos de sete anos de seca, teve a ideia de estocar alimentos para que quando viesse o período das “vacas magras”, o povo egípcio tivesse como se alimentar. Além do mais, povos vizinhos também puderam comprar alimentos e assim ir sobrevivendo num período de imensa dificuldade. José, um hebreu, na posição política que exercia tratou de realizar um bem comum. Toda a população - e não um segmento dela - foi beneficiada com aquele empreendimento. De igual modo, Daniel foi um administrador político do império persa. Ele se destacou sobre os demais ao ponto do rei querer elevar a sua posição e coloca-lo como administrador de todo o reino e não apenas de uma província. A Bíblia nos diz que o político Daniel era “fiel; não era desonesto nem negligente” (Dn 6:4).

Outra passagem bíblica que não fala diretamente sobre governo, mas pode nos repassar um bom princípio, é Jeremias 29:7. O versículo diz o seguinte:
Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela”. 

O contexto corresponde ao período do cativeiro da Babilônia. O povo de Israel, deportado, teria de permanecer na cidade que não era a cidade santa de Jerusalém, mas a cidade de seus inimigos, e contribuir para a sua prosperidade. Foi uma ordem divina! Sabemos que para que um povo prospere, um cenário político favorável dá aquele empurrão para que as engrenagens da economia se movam a todo o vapor. Assim sendo, os judeus deveriam se envolver em toda e qualquer atividade que levasse a Babilônia ao caminho do progresso e da paz. Será que isso não envolve – em maior ou menor grau – um engajamento na esfera política?


O que pretendo demonstrar citando tais exemplos escriturísticos é que aquele que ingressa na política deve exercer o seu papel sem segmentar o público alvo. Os benefícios derivados da atuação de um político cristão devem refletir em toda a sociedade. E dentro de nosso ambiente plural, um político cristão também governa para ateus e pessoas de outros credos. Ele tem que ser representante destes grupos também e atender as demandas mais urgentes da sociedade. Se um político é alguém que deveria, ao menos em tese, servir a população, um cristão teria de ter uma atenção redobrada quanto a esta questão do servir, pois, este é o estilo de vida que o próprio Senhor Jesus adotou. O próprio disse que veio ao mundo para servir e não para ser servido (Mt 20:28).

Além da Bíblia, podemos extrair da história bons exemplos de cristãos que foram excelentes políticos. Lord Shaftesbury (1801-1885) foi membro do parlamento inglês por mais de quarenta anos. Um homem dedicado às causas humanitárias. Ele criou lei em prol do bem estar daqueles que eram os mais explorados pela revolução industrial, sobretudo crianças e mulheres. Seus projetos de lei eram pensados para amparar os párias da sociedade. Embora conhecido como “o evangélico dos evangélicos”, teve uma atuação não segmentada e legislou para todo o povo, sem acepções. Que os políticos brasileiros que compõem a bancada evangélica (ou conservadora) sigam tais modelos de gestão e façam com que os seus mandatos sejam relevantes para a nossa sociedade como um todo. Finalizo com mais uma citação do Pr. Franklin Ferreira:
Aqueles que servem a Deus na esfera pública, mesmo contaminada e distorcida pelo pecado, podem ver sua atuação política como um meio de glorificar ao Senhor, mas não precisam mencionar o nome santo nos palácios e centros de decisão política para justificar seu serviço público. [3]

Que o SENHOR abençoe o Brasil!
 
http://bereianos.blogspot.com.br/2016/04/o-que-esperar-de-um-politico-cristao.html

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Notas:
[1] Política Segundo a Bíblia. Edições Vida Nova, p.77.
[2] Contra a Idolatria do Estado. Edições Vida Nova, p. 45.
[3] Ibdem, p. 83. 

***
Sobre o autor: Thiago Oliveira é graduado em História e especialista em Ciência Política, ambos pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (Funeso). É casado e atualmente pastoreia a Igreja Evangélica Livre em Itapuama/PE.
Fonte: Electus
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