Jacob
Heilbrunnmarch
Comentário de Julio Severo: Por
falta de credenciais pró-vida e pró-família, não penso que o Sr. Donald Trump é
o melhor candidato presidencial dos EUA. Mas, por falta de credenciais contra
os neocons, penso que o Sr. Ted Cruz deveria aprender com o Sr. Trump e suas
posturas teóricas contra as insanidades neocons. Diferente de Cruz, que se
importa com valores pró-família, os neocons sob Obama têm podido expandir a
hegemonia americana com o imperialismo homossexual. Contudo, Bush também se
importava com questões pró-vida, mas ele foi incapaz de se opor às ambições dos
neocons e intrusões em países estrangeiros, grandemente beneficiando muçulmanos
radicais e seus crimes e grandemente prejudicando minorias cristãos em países
muçulmanos. O que Cruz faria? Gosto da atitude de Trump de confrontar os
neocons, mas essa atitude só seria útil, e esplêndida, se ele se opusesse ao
atual imperialismo de aborto e homossexualismo dos EUA no mundo inteiro. Só
Cruz poderia fazer isso. Mas ele precisa ser muito mais “Trump” em política
externa — muito mais anti-neocon e mais como um republicano original, não se
intrometendo nos assuntos de outros países, especialmente para beneficiar
opressores islâmicos e prejudicar suas vítimas cristãs. Só tal republicano, com
princípios cristãos, poderá dar aos EUA, que se tornaram a maior potência de
promoção mundial do aborto e homossexualidade, inclusive de propaganda
islâmica, um curso melhor.
A
campanha deles começou com um artigo veemente no site The American Interest no
mês passado escrito por Eliot A. Cohen, ex-funcionário do Departamento de
Estado do governo Bush, que retratou o Sr. Trump como sintoma da vasta
“podridão moral” dos EUA. Então, numa carta aberta, mais de 100 especialistas
republicanos de política externa, inclusive neocons como o Sr. Cohen e Robert
Kagan, assim como figuras republicanas tradicionais de política externa como
Robert B. Zoellick, ex-presidente do Banco Mundial, anunciaram que estão
“unidos em nossa oposição a uma presidência de Donald Trump.”
Agora,
num esforço desesperado de último minuto, importantes pensadores neocons
fundaram o que eles chamam de Conselho Consultivo de Segurança Nacional para
apoiar o senador Marco Rubio. E muitos estão anunciando que se essa situação
ficar pior, eles apoiarão Hillary Clinton acima do Sr. Trump. Aliás, na revista
Commentary, o historiador neoconservador Max Boot escreveu, um tanto quanto
exagerado, que o Sr. Trump é “a ameaça número 1 para a segurança dos EUA” —
maior do que o Estado Islâmico ou a China.
Os
neocons estão certos de que uma presidência Trump provavelmente seria um
desastre de política externa, principalmente por causa de sua personalidade
imprevisível e propensão para antagonizar líderes e públicos estrangeiros. Mas
eles estão errados em afirmar que ele é de certo modo um perigo para os
princípios tradicionais do Partido Republicano. Pelo contrário, o Sr. Trump
representa uma volta às raízes desse partido. São os neocons que são os
intrusos.
Os
neocons e suas cruzadas wilsonianas dominaram a elite republicana de política externa
de forma tão praticamente total, começando na década de 1970, que pode ser
difícil lembrar que uma consciência muito diferente havia governado o Partido
Republicano no passado. Essa consciência faz lembrar as próprias posições do
Sr. Trump: cansaço com as intervenções em outros países, defesa de políticas
comerciais protecionistas, crença no exercício de poder militar unilateral e
desconfiança das elites e instituições mundiais.
Considere
o debate da Liga das Nações em 1919, o teste supremo em que a maior parte da
política externa republicana foi forjada. Ao liderar o ataque contra os que
queriam que os Estados Unidos se tornassem membro dessa liga, o senador
republicano Henry Cabot Lodge argumentou que intervir em outros países minaria
a segurança americana. Ele disse: “Se vocês envolverem os EUA nas intrigas da
Europa, vocês destruirão o poder dos EUA para o bem e colocarão em perigo a
própria existência dos EUA.”
Na
década de 1920, os republicanos avançaram a lógica de Lodge. Os tão chamados
republicanos ultraconservadores apoiaram a punitiva Lei de Imigração de 1924,
que incluía cláusulas proibindo imigrantes asiáticos e restringindo imigrantes
africanos. O Partido Republicano também apoiou o protecionismo: Em junho de
1930 Herbert Hoover sancionou a taxa alfandegária Smoot-Hawley, que piorou a
Grande Depressão e atiçou o nacionalismo no mundo inteiro.
O fato
de que o Partido Republicano adotou o isolacionismo total culminou na oposição
à ajuda à Inglaterra quando começou a 2ª Guerra Mundial em 1939. Republicanos
liberais como Henry Stimson e Frank Knox foram expulsos do partido na convenção
de 1940 por se juntarem ao governo Roosevelt, o primeiro como ministro da
guerra e o segundo como ministro da marinha. Ao mesmo tempo, a página editorial
do Wall Street Journal defendeu a doutrina política do “realismo” para com
Hitler, que, garantiu aos seus leitores, havia “já determinado os amplos cursos
de nossa vida nacional por menos outra geração.”
Depois
da 2ª Guerra Mundial, a Direita permaneceu desconfiada do militarismo. A
Direita denunciou as vastas alianças do presidente democrata Harry S. Truman na
Europa. Em 1950, Herbert Hoover provocou indignação nacional quando declarou
que os EUA tinham de reconhecer limites ao seu poder. Enquanto isso, o senador
John W. Bricker de Ohio propôs emendas constitucionais visando destruir a
capacidade do presidente de concluir tratados estrangeiros. E em 1951, outro
senador de Ohio, Robert A. Taft, anunciou: “O propósito principal da política
externa dos Estados Unidos é manter a liberdade de nosso povo.”
Dá
para ouvirmos ecos desse passado republicano nas próprias posições do Sr.
Trump. Sua doutrina estimulante de política externa parece ser deixar os
esforços pesados para outros países sempre que possível. Falando no programa de
TV “The Hugh Hewitt Show” no sábado passado, ele deixou claro que tem aversão a
intervenções em outros países: “Em algum momento, não dará para os EUA serem a
polícia do mundo. Temos de reconstruir nosso próprio país.” Desde então, para o
choque da elite do Partido Republicano, ele vem também denunciando, de forma
explícita, a guerra do Iraque, declarando que o argumento do governo Bush para
essa guerra foi baseado numa “mentira.”
A
doutrina de Trump, se dá para se empregar esse termo, faz lembrar as doutrinas
básicas dos realistas de política externa. Aliás, como Thomas Wright do
Instituto Brookings primeiramente apontou, no site Politico, o Sr. Trump tem
uma “cosmovisão estupendamente coerente.” O Sr. Trump, dava para você até
dizer, é um tipo de cara das esferas de influência: Para ele, a Europa deveria
cuidar sozinha da questão da Ucrânia, a Rússia deveria lidar com a Síria.
“Quando vejo a política de algumas dessas pessoas em nosso governo,” ele disse
no canal de TV MSNBC neste mês, “os americanos estarão no Oriente Médio outros
15 anos se eles não acabarem perdendo pelo fato de que os EUA estão se
desintegrando.”
Ao
mesmo tempo, ele tem rejeitado a ideia de repudiar o acordo do governo de Obama
com o Irã, e diz que é importante permanecer “neutro” no conflito entre Israel
e os palestinos — dois pontos que atingem bem no coração da ortodoxia neocon
republicana. E ele parece ter pouca necessidade de alianças: Ele exige que
países como Alemanha, Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita paguem mais para os
Estados Unidos os defenderem. Ao mesmo tempo, ele está pronto para impor
elevadas tarifas alfandegárias sobre o Japão e a China — algo que poderia
provocar uma recessão econômica no mundo inteiro.
A
posição do Sr. Trump pode se assemelhar ao realismo em esteroide. No fundo, ele
não quer que os Estados Unidos liderem o mundo; ele quer que o mundo saía de
seu caminho. Até mesmo muitos realistas teimosos estão indispostos a segui-lo:
Na sexta-feira passada sua sinistra defesa da tortura, que desde então ele
repudiou, levou não só neocons, mas também realistas proeminentes como Andrew
J. Bacevich e Richard Betts a assinarem uma carta chamada “Defendendo a Honra
das Forças Armadas dos Estados Unidos contra Donald Trump na Política Externa.”
Nada
disso parece antagonizar a base republicana, que parece menos ideológica em
impostos e política externa do que a elite republicana. Considerando o fato de
que George W. Bush e os neocons conduziram os EUA a invadir o Iraque, era
provavelmente só uma questão de tempo antes que os neocons fossem chamados a
prestar contas. Talvez o que é surpreendente não é que o Partido Republicano
esteja começando a se transformar de novo em sua encarnação original, mas que
levou muito tempo para acontecer isso.
Jacob
Heilbrunn é editor do The National Interest e autor do livro “They Knew They
Were Right: The Rise of the Neocons” (Eles Sabiam que Estavam Certos: O
Surgimento dos Neocons).
Traduzido
por Julio Severo do original em inglês do The New York Times: The Neocons vs. Donald Trump
Você
pode acessar este artigo, com o comentário de Julio Severo em inglês, aqui: The
Neocons vs. Donald Trump
Fonte:
www.juliosevero.com
Leitura
recomendada:
Estrategista de Obama na campanha presidencial do
Brasil
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