O britânico Martyn Lloyd Jones se destacou como um dos maiores expositores da Bíblia na modernidade
Por Élidi Miranda*
Sempre que colocar a felicidade antes da retidão, você estará condenado à miséria. Essa é a grande mensagem da Bíblia do começo ao fim. Somente são verdadeiramente felizes aqueles que buscam ser justos. Essa é uma das muitas frases memoráveis de Martyn Lloyd Jones (1899-1981), um dos maiores teólogos de todo o século 20. Nascido em uma família cristã de Cardiff, capital do País de Gales, ele vivia com dois irmãos e o pai, Henry Lloyd-Jones. Martyn não teve uma experiência com Cristo antes da juventude, mas um evento marcou a sua infância: quando tinha dez anos, sobreviveu a um incêndio na casa da família, saltando do segundo andar e sendo amparado por vizinhos, enquanto a residência era tomada pelas chamas. A partir daquele momento, a convicção acerca da transitoriedade da vida o marcaria para sempre.
Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, a família se mudou para Londres. Lá, o jovem ingressou em uma boa escola secundária, onde se destacou e, por isso, conquistou uma vaga no curso de Medicina do Hospital São Bartolomeu, na capital britânica. Aluno exemplar, tornou-se assistente de Thomas Horder, o médico da Família Real. Aos 25 anos, Lloyd-Jones já tinha uma carreira brilhante, inclusive como pesquisador.
O Hospital São Bartolomeu, em Londres, onde Martyn estudou Medicina e, como aluno brilhante, tornou-se assistente de Thomas Horder, o médico da Família Real
Foto: pandrcutts – Flickr / Wikimedia
Porém, nessa época, o estudioso vivenciou uma profunda experiência com Cristo e começou a sentir o chamado para o ministério pastoral. Em 1926, depois de alguma hesitação, abandonou a profissão, mesmo diante do convite para assumir o cargo de professor assistente do prestigioso hospital em que estudou. No ano seguinte, casou-se com Bethan Phillips, com quem teve duas filhas, Elizabeth e Ann, e voltou ao País de Gales para assumir o pastorado de uma pequena congregação presbiteriana em Port Talbot, ao Sul de Gales.
Ao contrário da carreira médica, o ministério lhe garantia pouco dinheiro, apenas o suficiente para manter a família. Lloyd-Jones também se tornou alvo de críticas de outros ministros, que o acusavam de ser inapto para o cargo de pregador, já que não havia frequentado um curso teológico. Entretanto, com a mesma dedicação que fez dele um médico e pesquisador renomado, Lloyd-Jones rapidamente passou a ser um voraz estudioso das Escrituras. Sua igreja, que tinha apenas 90 membros, passou a reunir, todos os domingos, algumas centenas de pessoas para ouvir suas exposições da Bíblia. Houve conversões incríveis. Em meus 11 anos, a igreja cresceu para 530 membros, e a assistência era de cerca de 850, relatou o ministro, anos mais tarde.
Rev. Campbell Morgan (1863-1945)
Foto: Christian Hall of Fame
12 volumes – Lloyd Jones passou, então, a receber convites para pregar em outras igrejas e, em 1938, aceitou a proposta de ser pastor auxiliar do conhecido Rev. Campbell Morgan (1863-1945) na Capela de Westminster, no centro de Londres. Quando o reverendo se aposentou, em 1943, Martyn assumiu a liderança da igreja e nela permaneceu até 1968.
O pregador tinha o dom de ensinar doutrinas básicas da fé cristã. A exposição bíblica era sua paixão, e essa era uma tarefa a qual não tinha pressa em concluir. Podia levar meses para expor um capítulo ou livro da Bíblia, versículo por versículo. Assim, passou mais de um ano pregando sobre o sermão da montanha (Mateus 5-7), o que resultou em uma série de estudos publicados no livro Estudos no sermão do monte (Editora Fiel). No mesmo segmento, sua obra-prima é, sem dúvida, Comentário de Romanos, publicado em 12 volumes e lançado, no Brasil, pela Editora PES.
No fim da Segunda Guerra Mundial, a Capela de Westminster recebia, todos os domingos, cerca de dois mil fiéis. Além disso, Lloyd Jones, conhecido por pregar com autoridade, era muito gentil no aconselhamento pastoral. Após cada culto dominical, recebia pessoas em seu gabinete e, usando suas habilidades médicas, lidava de maneira sábia e perspicaz com as almas atribuladas que o procuravam. Um de seus livros mais influentes nesse campo é Depressão espiritual: suas causas e curas (PES), publicado em 1964.
Capela Batista de Barcombe, no Sul da Inglaterra, onde o pastor e teólogo Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) pregou pela última vez, em 8 de junho de 1980
Foto: Charlesdrakew / Wikipedia
Em 1968, Lloyd-Jones deixou o pastorado, devido a problemas de saúde, mas continuou no ministério como conferencista e escritor. Comentário de Romanos foi publicado pela primeira vez em 1970. Apaixonado pelo avivamento, pregava a preeminência da Bíblia acima de toda tradição denominacional. Apesar da fama como pregador e autor dentro e fora do Reino Unido, Lloyd-Jones era avesso a honrarias humanas. Por isso, recusou diversos títulos honorários, inclusive o de Comandante da Ordem do Império Britânico, concedido a pessoas com notável contribuição para as artes, ciências e assistência social.
Martyn Lloyd-Jones pregou pela última vez em 8 de junho de 1980, na Capela Batista de Barcombe, no Sul da Inglaterra. Depois de uma vida inteira de trabalho, o ministro do Evangelho morreu em sua casa, em Londres, no dia 1º de março de 1981, deixando dezenas de livros escritos, os quais têm sido traduzidos em várias línguas e publicados até hoje. Sua contribuição inigualável à Teologia cristã está eternizada em suas obras, nas quais a mensagem bíblica é exposta em toda a sua profundidade. (*Com informações de MLJ Trust e The Gospel Coalition)
https://www.revistashowdafe.com.br/reportagens/herois-da-fe-martyn-lloyd-jones-290/
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