7 ensinos que pastores podem aprender com a demissão de Jonathan Edwards
No final do século 17 e início do século 18, a Igreja Congregacional de
Northampton tinha como pastor o respeitado Rev. Solomon Stoddard, que pastoreou
essa igreja durante um período de mais ou menos 50 anos. Stoddard se tornou
conhecido como o “Papa” Stoddard ou o “Papa Puritano da Região do Vale de
Connecticut”, tamanha a sua influência naquela região.
Ao longo de 50 anos de pastorado, Stoddard conseguiu influenciar
bastante os costumes da igreja congregacional de Northampton. Por volta de 1675
ele desenvolveu uma doutrina chamada de “Halfway Covenant” (Aliança do Meio
Caminho, numa tradução livre). De acordo com essa doutrina, qualquer pessoa da
cidade de Northampton que tinha uma vida moralmente correta e tinha uma boa
reputação diante da sociedade poderia participar do sacramento da Ceia do
Senhor, sem a necessidade de ser um membro professo da igreja. De acordo com
ele, pessoas que haviam crescido na igreja e não possuíam vidas escandalosas,
poderiam participar do sacramento, mesmo que não fossem membros da igreja.
O famoso Jonathan Edwards era neto de Solomon Stoddard. E a partir de
1727 aceitou ser o pastor-auxiliar do seu avô. Um importante biógrafo de
Edwards, George Marsden, afirma que inicialmente, ele concordava com a opinião
do seu avô a respeito das pessoas que poderiam participar do sacramento da Ceia
do Senhor. Dois anos depois, em 1729, com a morte de Stoddard, Edwards se
tornou o pastor titular da Igreja Congregacional de Northampton. À medida que
os anos passaram, Edwards continuou a estudar as Escrituras e as obras de
grandes teólogos do passado, e mais e mais ele se tornou preocupado a respeito
de permitir que pessoas que não tivessem feito uma crível profissão de fé
participassem da Ceia do Senhor. Alguns estudiosos afirmam que isso se intensificou
à medida que o número de congregantes não-salvos crescia muito mais que o de
crentes com genuínas evidências de fé e salvação.
Por volta de 1748, Edwards chegou a uma conclusão. Ele entendeu que não
mais poderia permitir que as coisas continuassem daquela forma. Ele não mais
poderia permitir que pessoas incrédulas continuassem a participar daquilo que
era reservado aos discípulos do Senhor Jesus Cristo. Mas ele se deparava ao
problema de ter de modificar uma prática estabelecida há mais de 70 anos, pelo
seu avô. Não seria algo fácil. E não foi.
Em 1750, Edwards começou a pregar uma série de sermões a respeito da
Ceia do Senhor. À medida que ele expunha as Escrituras começaram a surgir
reações negativas às suas pregações. Em 2 de junho do mesmo ano, o conselho da
igreja votou pelo fim do pastorado de Edwards naquela igreja e levou a questão
ao voto da assembleia. No dia 22 de junho de 1750, a igreja votou pelo fim do
pastorado de Edwards. Foram 230 votos contrários a Edwards e apenas 23
favoráveis.
O que esse episódio nos ensina?
1. Os pastores sempre terão de estudar, a fim de submeterem seus
pensamentos e sua prática pastoral ao crivo das Sagradas Escrituras e do que a
igreja ensinou ao longo da história. Eles jamais poderão se acomodar com a
desculpa de “sempre fizemos assim”.
2. É possível que tradições já estabelecidas na igreja sejam apenas
erros antigos. No caso de Edwards, uma tradição de mais 70 anos se mostrou
carecente de fundamento bíblico e, a despeito da sua antiguidade, necessitou
ser confrontada pelo ensino da Escritura.
3. Muitas vezes a igreja se mostrará indisposta a qualquer mudança,
ainda que o pastor se esforce em alimentá-la com uma pregação fiel e um ensino
robusto. Sempre corremos o risco de nos apegarmos às tradições dos homens,
enquanto negligenciamos os preceitos da Palavra de Deus (Mateus 15.1-9).
4. Ainda que grande parte de uma igreja se mostre submissa e ensinável,
sempre existirão pessoas que resistirão ao ensino e acusarão o pastor de tentar
“bagunçar” a igreja, mudando aquilo que vem sendo praticado desde priscas eras.
E à medida que o pastor seguir adiante, ensinando e doutrinando, ele se verá
abandonado por algumas pessoas, como aconteceu com o Senhor Jesus, à medida que
ele endureceu o seu discurso aos ouvidos da multidão que o seguia (João
6.60-66).
5. Ainda que se veja desamparado de todos, ainda que venha a ser
demitido, como ocorreu a Edwards, um pastor fiel a Deus como seu despenseiro
precisa descansar no julgamento divino, sabendo que, no último dia, o Senhor
trará à plena luz todas as coisas (1Coríntios 4.1-5). Foi o que fez o Senhor
Jesus Cristo. Foi o que fez o apóstolo Paulo diante da igreja de Corinto. É
impressionante que uma igreja plantada pelo próprio Paulo, posteriormente,
tenha se voltado contra ele, a ponto de ser necessário ele escrever uma carta
inteira defendendo o seu ministério (2Coríntios).
6. A rejeição ao ensino de um pastor e a oposição ao seu ministério
nunca poderão ser compreendidas como evidências de que aquele pastor é um mau
pastor. Muitas vezes somos apressados, diante de pessoas que abandonam a
igreja, e afirmamos que o pastor é o culpado por esse estado de coisas.
Precisamos entender que a fiel doutrina sempre levantará oposição. A luz sempre
revela as obras das trevas. Ademais, nunca houve pastor, ao longo da história,
que tenha ensinado fielmente e não tenha se deparado a oposição ferrenha.
Tranquilidade nem sempre é sinônimo de bênção. Não há lugar mais tranquilo que
um cemitério.
7. Como expressou o Dr. Martyn Lloyd-Jones, meditando a respeito do que
ocorreu a Jonathan Edwards: “Essa foi uma das coisas mais espantosas que já
aconteceram, e deve servir de encorajamento para os ministros e pregadores. Lá
estava esse altaneiro gênio, esse poderoso pregador, esse homem que estava no
centro do grande avivamento – e, todavia, foi derrotado na votação da sua
igreja por 230 votos a 23, em 1750. Não se surpreendam, portanto, irmãos,
quanto ao que possa acontecer com vocês em suas igrejas.”(Os Puritanos: suas
origens e seus sucessores. p. 355).
Que o Senhor se apiede de todos os fiéis ministros do santo evangelho
de Cristo!
Por: Alan Rennê. © Voltemos ao Evangelho. Website:
voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: 7 ensinos que
pastores podem aprender com a demissão de Jonathan Edwards.
Alan Rennê é Bacharel em teologia pelo Seminário Teológico do Nordeste
– STNe (Teresina-PI) e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (São
Paulo-SP). É Mestre com concentração em Estudos Históricos e Teológicos e linha
de pesquisa em Teologia Sistemática, pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
Andrew Jumper (São Paulo-SP). Professor visitante de Teologia Sistemática no
Seminário Presbiteriano do Norte (Recife-PE) e no STNe. É pastor na Igreja
Pres¬biteriana do Cruzeiro do Anil, em São Luís-MA.
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